Um mundo infectado é questão de tempo
- 14 de abril de 2020
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- Thamires Mattos
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Em seis episódios, a série documental Pandemia acompanha os maiores problemas que a Organização Mundial da Saúde (OMS) pode ter
Thaina Reis
As primeiras cenas do documentário original Netflix Pandemia nos levam ao passado. 102 anos atrás, a gripe espanhola matou cerca de 50 milhões de pessoas no mundo inteiro, sobrecarregou hospitais e necrotérios. Considerada a maior pandemia do século 20, ela traz uma valiosa lição: quando falamos de uma pandemia, a questão não é se vai acontecer, e, sim, de quando.
O documentário percorre o mundo inteiro em busca de respostas para os maiores enigmas da ciência. Como impedir um surto viral de ocorrer? Os funcionários do maior sistema municipal de Saúde de Nova York estudam como proteger os agentes de saúde em meio à crise, e a preocupação é de repetir os erros do passado. Um dos principais exemplos citados são os vírus MERS e SARS, altamente contagiosos. A teoria é: se você não está protegido, como vai poder ajudar os que estão doentes?
Em seis episódios, a série acompanha os maiores problemas que a Organização Mundial da Saúde (OMS) pode ter. Basta apenas uma pessoa para começar um surto. Somos como incubadoras humanas que carregam doenças. É só uma questão de tempo e lugar. Hoje, não há nenhum vírus da gripe mais perigoso circulando do que a gripe aviária na China. A mortalidade é muito alta: cerca de 60%. Até agora, o vírus não se espalhou para além do país, mas isso pode acontecer a qualquer momento.
Há quase infinitas variações de uma gripe. A gripe pandêmica e a gripe sazonal são muito diferentes. O documentário explica que uma gripe pandêmica provavelmente virá de um animal, e será um vírus novo, nunca visto antes. Quando um vírus surge de um animal, não temos imunidade natural. Nossos organismos não terão como combater a infecção, o que significa que ela tem o potencial para ser letal. Por isso, pesquisadores de todo o mundo procuram desenvolver uma vacina universal, o que seria uma revolução biotecnológica. Ao decorrer dos episódios, os estudos sobre essa vacina obtêm bons resultados, mas ainda levarão anos para a produção de um imunizador eficaz.
A série documental também aborda com seriedade o olhar de integrantes de movimentos antivacina e acompanha a vida de uma família que faz parte desse grupo. Além disso, mostra as consequências que tal comportamento pode ter. Fazer parte de um grupo como o movimento antivacina requer escolhas diárias que afetam todos ao redor. Um dos exemplos citados é ultrapassar o semáforo na cor verde: seguir as leis de trânsito implica obedecer a Lei. Você tem o direito de escolha, mas toda escolha têm uma consequência. Não vacinar seu filho pode significar ultrapassar o sinal vermelho enquanto crianças com imunodeficiência estão na faixa de pedestres.
Dos estudos destacados, existem 4 problemas após o início de uma pandemia: alta mortalidade, pânico público, tratamento e contágio. As experiências do passado com Ebola, a gripe espanhola, H1N1 e sarampo definem como os pesquisadores devem reagir a um problema futuro. Apesar de terem genes diferentes, esses quatro problemas se repetem. Pandemia explica como o que ocorreu antes ajuda a prevenirmos o próximo surto.
Quando uma epidemia/pandemia começa, as vidas mais afetadas são as dos profissionais de saúde. Na série documental, é possível identificar o peso que assola a vida dos familiares que perderam alguém; entretanto, as equipes médicas e de enfermagem arriscam suas famílias, deixam de lado as próprias prioridades, e muitos profissionais perdem a vida. A rotina de uma única médica responsável pelo hospital da cidade é documentada: ela trabalha, se alimenta e mora na clínica. Sacrifica todos os dias uma parte de seu casamento, lazer e demais atividades. A situação piora quando há um surto de gripe na cidade. Os turnos se prolongam, e a clínica não possui recursos para toda a cidade ser atendida com eficiência.
A preocupação da narrativa final dos episódios é nítida. Na maioria dos episódios, é possível identificar o despreparo dos países para enfrentar um surto viral. Mesmo com diversos alertas da OMS, a população parece ignorar as previsões anuais de infecção por conta da gripe. A negligência dos governos ao redor do mundo deixa graves consequências. O apelo no fim do documentário é para os cientistas e pesquisadores da área: não parem agora.