Imagem da Dilma: recortes descontextualizados
- 11 de novembro de 2015
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- Thamires Mattos
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Em tempos de pós-modernidade e com a falência das metanarrativas, uma mídia vendida aos interesses da direita acaba produzindo uma gama de imagens descontextualizadas e propositalmente recortadas de seus locais a fim de construir uma visão distorcida da situação brasileira. Esta distorção se fortalece cada vez mais na nítida descontrução imagética de Dilma dentro da grande mídia. Para falar sobre o tema, a repórter Juliana Dorneles conversou com Felipe Tessarolo. Ele é especializado em Gestão Estratégica em Mídias Sociais e Mestre em Direção de Design, pela Universidade Lusíada de Lisboa. Tessarolo também escreve para a revista eletrônica de crítica de cídia, Observatório da Imprensa.
Canal da Imprensa: Porque a persistência das mídias em descontruir a imagem da Presidenta Dilma?
Felipe Tessarolo: A maioria dos analistas políticos identifica uma desconstrução da imagem da Dilma como uma estratégia para minar o capital político do PT, visando as eleições de 2018, e uma consequente desconstrução do ex-presidente Lula e de suas conquistas obtidas em 8 anos de governo.
CI: A desconstrução da imagem de Dilma é um reflexo da falência ideológica da esquerda?
Tessarolo: Acredito que não exista uma falência ideológica da esquerda, seria muito taxativo uma afirmação desse tipo. Mas o que se percebe hoje é uma falência ideológica dentro das propostas da maioria dos partidos políticos. Uma breve análise e veremos que nem mesmo a sigla de um partido corresponde aos interesses que movem suas principais lideranças partidárias. Essa é uma falência do sistema como um todo e vários sociólogos tem abordado essa questão, principalmente no que diz respeito a Pós-Modernidade. Sei que a sua pergunta foi sobre a desconstrução da imagem da Dilma enquanto um reflexo da falência ideológica da esquerda, mas o ponto que quero abordar é que isso é um reflexo da pós-modernidade e a falência das metanarrativas. Ou seja, percebe-se hoje que os grandes projetos que moviam e uniam toda uma sociedade, não existem mais. Antigamente os países se uniam em favor da liberdade e da democracia (2º Guerra Mundial), contra o Comunismo (Guerra Fria), tínhamos um objetivo pelo qual lutar. Hoje em dia tem-se a ideia de viver um eterno presente, um mundo sem origem ou destino, passado ou futuro, e isso acaba refletindo no campo político. Krishan Kumar aborda esse tema da seguinte forma:
“Temos aqui o mundo pós-moderno: um mundo de presente eterno, sem origem ou destino, passado ou futuro; um mundo no qual é impossível achar um centro ou qualquer ponto ou perspectiva do qual seja possível olhá-lo firmemente e considerá-lo como um todo; um mundo em que tudo que se apresenta é temporário, mutável ou tem o caráter de formas locais de conhecimento e experiência. Aqui não há estruturas profundas, nenhuma causa secreta ou final; tudo é (ou não é) o que parece na superfície. É um fim à modernidade e a tudo que ela prometeu e propôs. (KUMAR, 1997, p.152)”
KUMAR, Krishan. Da Sociedade Pós-industrial à Pós-moderna: Novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. 04-158.
CI: A “direita” tem um histórico de manipulação imagética para descontrução de figuras políticas de esquerda?
Tessarolo: A direita tem o apoio de grandes grupos midiáticos na desconstrução das principais conquistas dos governos de esquerda, essa tendência pode ser comprovada por vários estudos acadêmicos (o Manchetômetro é uma delas – http://www.manchetometro.com.br) e uma simples observação na maneira como são tratados os principais representantes das alas de esquerda e de direita da política brasileira.
Observe a forma como são conduzidas as entrevistas recentes das quais participou o Prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, (Jovem Pan e CBN) e compare com a entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no Roda Viva. Além disso, comece a comparar a maneira como são construídos os títulos e notícias que falam dos dois lados. Toda semana vemos denúncias e provas a respeito do presidente da câmara dos deputados federais, Eduardo Cunha (o político que ocupa o 3º posto na linha sucessória do cargo máximo da República Brasileira), e uma das principais revistas semanais do país insiste em publicar reportagens de capa que falam de “denúncias” não comprovadas dos principais políticos e partidos de esquerda do país. Nas imagens abaixo veja como alguns números são passados ao grande público, a estética e a construção da imagem já demonstram um direcionamento na reprodução da notícia.
CI: Como a mídia tem representado a crise econômica brasileira e como isso se relaciona com a imagem da presidenta?
Tessarolo: No livro A Manipulação do Público Noam Chomsky aborda as estratégias utilizadas pelos meios de comunicação como forma de propagação de uma informação ou um recorte da realidade. O que pode ser percebido no caso da Dilma, principalmente, é uma descontextualização da crise econômica, ou seja, o mundo ainda vive sob uma forte influência da crise econômica iniciada em 2008. Repare que a maioria das notícias e informações a respeito disso centralizam o epicentro da crise no Brasil e esquecem de citar as situações econômicas de outros países influentes na economia mundial. Não se fala da crise vivenciada pela China e tampouco a depressão que tem se arrastado pela Europa. Além disso, notícias sobre a operação Lava-Jato e os esquemas de corrupção na Petrobrás criam uma sensação de que esse é um dos principais fatores responsáveis pela situação econômica brasileira, direcionando esse cenário caótico como responsabilidade única da Presidenta Dilma.
CI: Uma imagem vale mais que mil palavras?
Tessarolo: Acredito que essa afirmação pode ser atualizada para o contexto da imagem . Com o barateamento das tecnologias informacionais e de comunicação o indivíduo, cada vez mais, possui recursos para a criação e a alteração das imagens. Nesse sentido, eu posso tirar uma foto de uma pessoa na praia e publicar isso nas redes sociais com um contexto completamente diferente. As informações são alteradas e repassadas adiante. Veja a repercussão que o caso da “Senhora” teve, uma reportagem em que uma jornalista corre atrás da entrevistada acabou gerando milhares de variações sobre o contexto daquela imagem. Isso pode ser visualizado na maneira como as informações são compartilhadas nas redes sociais, a maneira como os boatos e algumas montagens ganham repercussão demonstram um pouco esse ponto da contextualização da imagem.