Hierarquização dos tons de pele
- 29 de março de 2023
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- Theillyson Lima
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A discriminação pela tonalidade de pele e seu impacto na sociedade contemporânea.
Bruno Sousa
Cor! Qual é o conceito dela para você? É importante conversarmos sobre esse assunto e trazer luz ao impacto que o colorismo tem na vida das pessoas. Assim, podemos entender como combater a discriminação a fim de construir uma sociedade mais justa e inclusiva.
Para isso, entrevistamos a jornalista Victória Henrique, formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense, que já trabalhou como repórter no Voz das Comunidades e no Notícia Preta. Atualmente, ela trabalha na equipe de imprensa do SBT no Rio de Janeiro.
Canal da Imprensa – O que é colorismo?
Victória Henrique – Vou tentar explicar de uma forma mais simplificada, já que o termo causa muitas dúvidas. Esse conceito traz a seguinte ideia: as discriminações contra as pessoas negras variam de acordo com o tom da pele. Ou seja, quanto mais escuro, menos aceitação.
CI – Quais são os impactos do colorismo na sociedade?
VH – São muitos. Impossível não citar o processo de embranquecimento que muitas pessoas negras foram submetidas e a tentativa histórica de apagar a ancestralidade africana. É muito comum ver negros se reconhecendo tardiamente, especialmente pessoas negras de pele clara que são frutos de uma relação interracial. O resgate da negritude é um processo. Doloroso? Sim, sem dúvidas. Ainda mais porque muitas pessoas negras vivem em um contexto totalmente branco e, por isso, não conseguem, por exemplo, entender que aquelas agressões que sofreram, de maior ou menor proporção, têm nome: racismo. Mas é importante falar que, apesar disso, é um processo necessário e libertador. Parafraseando a escritora Lélia Gonzalez, que tanto me inspira, “a gente nasce preta, mulata, parda, marrom, roxinha, dentre outras, mas tornar-se negra é uma conquista”.
CI – Qual a influência da colonização europeia no colorismo?
VH – A mestiçagem no Brasil é produto do estupro de mulheres africanas e indígenas. Vale lembrar que europeus, africanos e indígenas não se reproduziram e nem se casaram de maneira harmoniosa. Tem um estudo muito interessante a respeito do tema, desenvolvido por pesquisadores brasileiros. O nome é “DNA do Brasil”. Para a produção da pesquisa, foram colhidos dados genômicos das amostras de 1.247 brasileiros que vivem em diferentes regiões do país. As informações obtidas apontam para uma herança genética materna predominantemente africana e indígena. Por outro lado, a paterna é 75% europeia. O que isso significa? Que a colonização europeia foi extremamente violenta, inclusive sexualmente.
CI – Qual a diferença entre racismo e colorismo?
VH – Concordo com a escritora Alessandra Devulsky quando ela diz que o colorismo é um braço do racismo. O colorismo é utilizado, historicamente, como uma ferramenta de discriminação racial, retroalimentando, portanto, o racismo. À medida que o colorismo hierarquiza pessoas negras ao estabelecer quem poderá ocupar determinados espaços na sociedade e usufruir de certas vantagens, de acordo com a tonalidade da pele e os fenótipos, ele fortalece o racismo que atua para a manutenção do privilégio branco.
CI – De que forma a população influencia para que todo mundo tenha uma beleza padrão?
VH – Com relação a essa questão, especificamente, é importante entender “sociedade” como a junção de vários atores sociais. Como sou jornalista, citarei aqui a mídia como exemplo. A partir do momento que são as pessoas brancas com certo poder aquisitivo que majoritariamente e historicamente ocupam esse espaço, que é de visibilidade e que possibilita uma ascensão social, o que está sendo comunicado? Simplesmente que esse espaço não é para pessoas negras e que é preciso se adequar a um determinado padrão, inclusive de beleza, para estar nesse lugar. Importante reconhecer que essa realidade vem mudando a cada ano, o que é resultado do trabalho dos movimentos negros. No entanto, ainda estamos longe de atingir um nível ideal de representatividade.
CI – Como esse tema pode ser trabalhado na educação em busca de uma mudança?
VH – Uma vez entrevistei o Allan de Souza, que é um professor da rede pública que trabalha com educação antirracista. Ele desenvolve uma série de conteúdos para crianças, que tem como foco o respeito à diversidade. A educação antirracista é uma ferramenta potente para construção de uma sociedade mais igualitária. Ela possibilita ressignificar termos e valorizar a contribuição histórica africana na formação cultural do país. Além disso, você faz com que crianças negras cresçam seguras emocionalmente e que sejam protagonistas das suas próprias histórias, através do conhecimento da sua cultura. Com a educação antirracista é possível tornar a escola um ambiente ainda mais seguro para os alunos, o que ajuda, inclusive, no combate à evasão escolar.