Guerras x Cobertura jornalística
- 15 de maio de 2024
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- Theillyson Lima
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A cobertura jornalística constante não só informa, mas também mobiliza a sociedade. Apesar disso, assuntos contínuos como as guerras são muitas vezes negligenciados ao longo do tempo.
Sara Helane
Imagine que você está rolando o feed da sua rede social e se depara com uma postagem com o título: “As fotos mais fofas de pets tiradas pelos seus donos. Clique aqui para ver as imagens!”. Se você é uma pessoa que ama os seres de quatro patinhas, já deve ter clicado para ver as fotos das fofuras. Se você tiver feito isso, não se preocupe, essa era exatamente a ação esperada por quem fez a postagem.
Em portais de notícias ou sites de conteúdos diversos, colocar notícias aleatórias sobre animais fofos é uma estratégia comum para gerar engajamento e o famoso “clickbait”, caça-clique em português.
Pouco interesse em assuntos contínuos
Assim como os pets precisam de ração e água, os portais de notícia e mídias que produzem conteúdos precisam de cliques e acessos para sobreviverem. Mas a pergunta que fica é: O que isso tem a ver com a cobertura midiática de conflitos e guerras entre nações?
Para responder este questionamento precisamos levar em conta um ponto crucial: entender que a cobertura jornalística em guerras é importante não apenas em momentos específicos, mas durante todo o conflito. Portais de conteúdos ainda têm a dificuldade de gerar cliques em cima de assuntos que se arrastam com o tempo . Isso ocorre porque detalhes contínuos perdem a importância com o tempo.
Exemplificando isso, imagine outra ocasião: você precisa repassar a mesma informação para uma mesma equipe de trabalho todos os dias. Nos primeiros dias você tende a dizer exatamente como foi repassado para você. Porém, com o tempo, a sua fala tende a encurtar, pois alguns “detalhes contínuos” deixam de ser importantes. Além disso, a equipe parece não prestar mais atenção, já que a informação é sempre a mesma. É exatamente isso que acontece em coberturas midiáticas de conflitos contínuos.
A guerra entre Israel e Palestina é um exemplo claro. Este é um embate que teve início no século passado, porém persiste há muitos anos e não parece ter uma resolução próxima.
Israel e Palestina
O conflito começou com a declaração de independência de Israel em 1948, porém seu mais novo capítulo iniciou-se em outubro de 2023, quando a artilharia do Hamas lançou uma série de foguetes em direção à cidade de Ashkelon, em Israel. O principal motivo do confronto é a disputa pelo território, pois as duas partes atestam que a região da Palestina deve pertencer ao seu povo.
Desde então, o mundo voltou os olhos para o conflito e, de lá para cá, vez ou outra os portais de notícias retornam ao assunto, que ainda é “pauta quente”. Sempre que o número de vítimas aumenta drasticamente em um dia ou quando algum dos países envolvidos faz mais declarações ou ataques diretos, voltamos a falar deste conflito. Porém, quando isso não acontece, o mundo parece esquecer que todos os dias ainda morrem pessoas por causa do conflito. Esse fenômeno é esperado, já que práticas contínuas perdem o interesse do público com o tempo.
Quando pensamos nisso, ficamos com mais um questionamento: Por que os portais noticiosos tendem a cobrir apenas momentos específicos desses conflitos? A resposta é exatamente o que já foi falado aqui. Cobrir todos os momentos de um conflito contínuo perde o interesse do público e faz com que o veículo perca os cliques e acessos que precisa para manter o alto alcance de seus conteúdos.
Essa realidade precisa mudar, pois uma das razões principais para a relevância contínua da cobertura jornalística em tempos de guerra está em sua habilidade de oferecer uma narrativa em tempo real dos acontecimentos em curso. Isso possibilita que pessoas ao redor do mundo tenham uma compreensão mais abrangente e atualizada da situação, permitindo uma resposta mais embasada por parte da comunidade internacional, organizações humanitárias e governos.
Cobertura midiática constante
A presença de jornalistas em zonas de guerra muitas vezes serve também como uma forma de proteção para civis, fornecendo testemunhas independentes e documentação dos eventos que ocorrem. Isso pode ajudar a dissuadir potenciais agressores de cometerem abusos contra civis, sabendo que suas ações estão sendo monitoradas e relatadas pela mídia.
Portanto, a cobertura jornalística persistente em cenários de conflito contribui para manter a atenção do público e dos responsáveis pela tomada de decisões sobre os confrontos. Essa é uma medida crucial para assegurar que as vítimas do conflito não sejam esquecidas e que pressão seja exercida sobre as partes envolvidas para buscar uma solução pacífica e abordar as raízes subjacentes que alimentam o embate.
Para concluir, é fundamental compreender que, embora a busca pela audiência seja relevante, o verdadeiro propósito do Jornalismo é alcançado quando ele consegue mobilizar a sociedade de maneira significativa, sempre embasado em princípios éticos e morais.
No caso dos conflitos que acontecem diariamente, é essencial que os profissionais da área de comunicação se empenhem em promover um jornalismo comprometido com a informação de qualidade e a promoção do debate público. Assim, contribuirão para uma sociedade mais informada, engajada e consciente.