Nascido em Gaza: um retrato da infância roubada
- 15 de maio de 2024
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- Theillyson Lima
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Conheça a realidade da infância das crianças que crescem em meio ao conflito na região.
Yasmim Larissa
Uma das fases mais importantes no desenvolvimento de todo ser humano é a infância. Afinal, de acordo com a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), esse é o momento em que as experiências vividas pelos pequeninos de 0 a 12 anos podem afetar significativamente o desenvolvimento físico, mental, social e emocional de cada um.
Agora, imagine passar por esse período da sua vida em meio a uma guerra e ver seus pais, amigos e colegas de classe sendo mortos na sua frente. Não há dúvidas que tal situação seria marcada por traumas.
Uma importante produção
O documentário “Nascido em Gaza”, lançado em 2014 pelo diretor italo-argentino Hérnan Zin, mostra a fundo como a vida de crianças palestinas que cresceram em meio a disputa na região de gaza, foram afetadas pelos bombardeios. O longa espanhol acompanha a vida de 10 crianças de maneira intimista, colocando o seu telespectador de frente com sonhos, esperanças e medos dessas crianças e mostrando como lutam e fazem para normalizar suas vidas diante um ambiente marcado pela violência.
Escolher a região de Gaza para produzir o documentário e 10 histórias impactantes para representar as – até aquele momento – 507 crianças mortas e mais de 3.000 feridos, com certeza foi assertiva para mostrar ao mundo a situação do que é o atual centro do conflito. Não é a toa que a produção venceu na categoria de melhor documentario nos prêmios Goya, uma das premiações mais importantes do cinema espanhol.
A produção utiliza o momento após ataques do exército de Israel no verão de 2014, para construir uma narrativa marcante e emocionante. Nós não somos apenas inseridos na vida das crianças palestinas, mas somos levados a conhecer suas casas – a maioria sob escombros -, o seu amadurecimento precoce e sonhos destruidos como se também fossem atingidos por um dos mísseis.
Feridas reabertas
Para abordar tal sentimento, o diretor não poupou esforços em suas gravações. Além de pedir que as crianças contassem de forma detalhada a infância delas, revisitou os locais onde nasceu o seu trauma. Mas será que esse apelo emocional realmente era necessário?
Gravar locais ilhados, construções completamente destruídas e ouvir testemunhos, talvez já fosse suficiente para mostrar ao público o que aqueles pequeninos estavam passando. Não digo isso pensando em apenas fazer o minímo que um documentário se propõe ao se comprometer em explorar a realidade, mas sim naquelas crianças que são revisitadas pela dor diariamente. Uma delas chora apenas de olhar para foto do pai enquanto tem pesadelos com a cidade em cinzas e outra diz todos os dias a sua mãe que gostaria de morrer.
Fazer com que cada uma revisitasse um momento doloroso como esse é mais uma forma de atingi-las cruelemente, em meio a situação que estão vivendo. Aqueles que não foram feridos fisicamente (e até os que foram) sofreram com feridas psicologicas que, como o documentário revela, não estavam sendo tratadas.
A narrativa que tem como foco mostrar que eles estão sofrendo, precisam ser adultos e trabalhar para sustentar a familia, esquece de se aprofundar no contexto histórico e situar de forma completa o espectador. Se alguém busca ver de que maneira a guerra pode afetar e mudar completamente a vida de alguém, o documentário disponível na Netflix é o ideal para isso, mas não para contextualizar sobre tudo o que acontece atualmente.
Ao expor as vidas dessas crianças, somos estimulados a refletir sobre a necessidade de paz na região e no mundo. Pensar que, enquanto tivemos uma infância tranquila e sadia, crianças do outro lado do mundo não estão nem tendo a oportunidade de vivenciar algo parecido, é um despertar para a sociedade.
Ao utilizar de uma abordagem provocativa, o longa que assim como outras produções de guerra possui seus erros e acertos, impacta diretamente a audiência ao revelar uma parcela da realidade vivida pelos moradores da região.