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A igreja Católica e a mídia: uma trajetória de conivência

  • 13 de março de 2024
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  • Theillyson Lima
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A morte de uma freira explicita o silenciamento de uma instituição e a omissão da mídia em casos de abusos sexual.

Natália Goes

Quem matou Catharine Cesnik? Essa é a pergunta principal da série documental “The Keepers” da Netflix. A série documental, baseada em fatos reais, aborda o caso do assassinato da freira Cathy Cesnik, comentido em Baltimore, nos EUA, na década de 1970. O assassinato serve como ponto de partida e fio condutor para explorar vários assuntos, como corrupção, preconceito, educação e principalmente pedofilia.

A pedofilia na Igreja Católica Apostólica Romana é tão antiga quanto seus templos imponentes. No entanto, somente em 2002, a revelação da investigação pelo jornal The Boston Globe sacudiu o mundo, desencadeando outras investigações sobre os abusos sexuais dentro da igreja católica. 

Posteriormente, a Universidade de Justiça Criminal John Jay, de Nova York, conduziu outra investigação para analisar denúncias entre 1950 e 2002, concluindo que 10.667 pessoas nos EUA haviam acusado 4.392 clérigos de abusos sexuais de menores, o equivalente a mais de 4% do pessoal religioso.

Os abusos

Segundo relatos das próprias vítimas, os abusos seguem um padrão. Os clérigos, por serem figuras de respeito e terem poder hierárquico, aproveitam-se da fragilidade das crianças e dos adolescentes devido à pouca idade e maturidade, roubando-lhes a inocência.

Outro padrão surge devido ao papel dos clérigos como mediadores entre Deus e os homens. Muitas crianças procuram acolhimento e cuidado em suas confissões sobre suas vulnerabilidades ou até mesmo outros abusos sofridos, mas acabam recebendo feridas e cicatrizes ainda maiores com as sugestões feitas pelos sacerdotes. 

As propostas são feitas condicionando o perdão ao cumprimento de tarefas de natureza sexual para que as vítimas possam ter seus pecados perdoados, conforme é abordado na série documental “The Keepers”.

O impacto na vida dessas crianças e adolescentes a curto prazo inclui a desconfiança em pessoas que ocupam posições de poder na sociedade, bem como problemas relacionados à fé. Ao longo prazo, muitas vezes, essas vítimas se tornam adultos disfuncionais, enfrentando vícios em álcool e drogas, traumas e tendências suicidas, o que representa um problema para a sociedade. 

Muitas questões e teorias surgem sobre por que tais atos são cometidos por padres. O psicoterapeuta e pesquisador Richard Sipe, que atuou como padre por 18 anos antes de abandonar a batina para trabalhar em instituições de saúde mental, estudou profundamente essas questões. Sipe trabalhava nas instituições para onde os sacerdotes eram enviados após serem acusados de abusar de menores e afirma que o celibato e os abusos sexuais estão ligados.

Em sua pesquisa, Richard Sipe estimou que 6% de todos os padres católicos são pedófilos e que apenas 50% dos clérigos mantêm-se realmente fiéis ao celibato. Segundo o Anuário Pontifício 2023 e o Anuário Estatístico da Igreja 2021, divulgados pelo Vaticano, existem atualmente 407.872 padres católicos no mundo. Com base nesses dados e conforme a estimativa da pesquisa de Richard Sipe, mais de 24 mil padres seriam abusadores de crianças.

No Brasil, existem cerca de 30 mil padres. Se fizermos uma comparação e colocarmos os números em proporção, pareceria que quase todos os padres do Brasil são abusadores.

Cultura de ocultamento 

A Igreja Católica começou a falar timidamente sobre os abusos sexuais em crianças dentro da sua instituição apenas recentemente. No entanto, desde o surgimento das primeiras denúncias dos crimes na década de 1960, a Igreja Católica sempre tentou e ainda tenta resolver o problema internamente, muitas vezes transferindo os clérigos para outro local, como no caso de Miguel.

O acobertamento institucional e o seu silenciamento, fingindo que nada está acontecendo, convencendo as vítimas a aceitarem dinheiro e não tornarem público o ocorrido, demonstram a conivência da instituição com o crime e com os criminosos, tornando-a, assim, uma instituição criminosa. 

Omissão da mídia

Nas décadas de 1950 a 1990, a mídia deixou a desejar na investigação e cobertura dos crimes de abuso sexual em crianças envolvendo parte do clero, assim como casos de pessoas que faziam parte da estrutura da Igreja, como a Freira Catharine Cesnik. Mas por que houve hesitação em investigar crimes que ocorreram por anos? 

A relutância em sair das redações e enfrentar uma instituição poderosa como a Igreja Católica demonstra uma mídia covarde, fraca, débil e impotente. Além do medo de reações negativas por parte dos fiéis. 

Abusador x Salvador

Os corredores largos e as muralhas do Vaticano não foram suficientes para impedir que o maior e mais sombrio segredo da Igreja Católica permanecesse silente. O fato da Igreja Católica assumir o papel de abusadora mas também de salvadora é uma dicotomia que não pode ser simplesmente ignorada. A Igreja não consegue salvar as pessoas dos traumas e vícios decorrentes dos abusos, nem minimizar ou reverter os crimes cometidos por seus clérigos apenas por meio de compensações monetárias.

A impunidade do agressor, o fácil acesso à vítima e a cultura de culpabilização da própria vítima, com a frase “a culpa é sua”, contribuem para o silêncio que encobre anos de abusos. A falsa separação entre religião e Estado interfere nas leis e políticas públicas que poderiam interromper imediatamente os abusos sexuais contra crianças e adolescentes.

Apesar de alguma luz ter sido lançada sobre as trevas quando o Papa Francisco recentemente se desculpou pelos abusos cometidos pelos clérigos, esses abusos ainda persistem e muitos permanecem impunes devido à prescrição do crime, à morte de muitos desses padres e outras desculpas.

Os sobreviventes merecem mais do que compensações monetárias pelos crimes cometidos; merecem que seus abusadores sejam destituídos de seus cargos, levados à justiça e responsabilizados pelo que fizeram. Foi isso que a freira Catharine Cesnik buscava em Baltimore: justiça. Após descobrir os abusos sexuais que suas alunas sofriam, ela lutou sozinha contra um sistema nojento de ocultação de crimes. 

No entanto, o que recebeu foi o silenciamento da sua voz por meio de sua morte. Portanto, podemos concluir que a Igreja Católica calou a Catharine Cesnik para manter seus segredos ocultos. Por que ainda nos calamos e permitimos que a impunidade prevaleça? Quantas crianças precisarão ter sua infância, seus sonhos e vidas roubadas? Quantas Cathys Cesniks precisarão morrer para que esses abusadores sejam responsabilizados? 

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