A terra é plana
- 16 de junho de 2021
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Pesquisa aponta que 11 milhões de pessoas no Brasil apoiam uma ideia refutada pela ciência há 2 mil anos.
Thaina Reis
Pensar que a superfície da terra é plana era o pensamento mais lógico para o cidadão da Idade Média, que só podia acreditar no que se via. Mas aparentemente, essa teoria voltou a se popularizar nos dias de hoje. Pode parecer uma piada à primeira vista, mas o movimento terraplanista ganhou força a partir de 2014, tornando-se um fenômeno da internet.
Não é analfabetismo, são pessoas que estudaram o sistema solar e seus planetas na época de escola, mas que nos últimos anos decidiram que o formato redondo é uma gigantesca manipulação. O Instituto Datafolha divulgou uma pesquisa que apontou que aproximadamente 7% dos brasileiros acreditam que a terra é plana, ou seja, 11 milhões de pessoas apoiam uma ideia refutada pela ciência há 2 mil anos.
Os terraplanistas também estão no YouTube, com vários canais dedicados a mostrar experimentos e discutir o que chamam de “falácias” dos “globalistas”. Nos vídeos há também versões alternativas para a explicação de fenômenos como fusos horários, estações e eclipses.
Movidos pela conspiração
No Brasil, o fenômeno também vem ganhando força. A sociedade da Terra Plana existe desde 2004, são grupos brasileiros de milhares de membros, com direito até mesmo a uma biblioteca sobre o tema e uma galeria de mapas. Eles estão em todos os lugares. Embora não tenha se declarado um seguidor, o guru do presidente Jair Bolsonaro, o escritor Olavo de Carvalho, já demonstrou em suas redes certa simpatia pelo movimento. O cantor Froid, conhecido por cantar RAP também é adepto ao terraplanismo.
Os seguidores acreditam que o planeta terra é um disco achatado, coberto por um Domo, assim como no filme o Show de Truman. De acordo com a organização, o Polo Norte está no centro da terra e os continentes estão dispersos ao seu redor. Naturalmente, essa perspectiva tem outras implicações. Se a terra é plana, ela também é imóvel. Logo, também acreditam que a lua e o sol giram em torno de nosso planeta. Outra característica do grupo é a desconfiança de autoridades como a NASA e o governo norte-americano.
O perigo do negacionismo
Antes de assistir ao filme, A Terra é plana, é importante entender o contexto do grupo nos Estados Unidos. Um estudo feito pela Universidade do Texas demonstrou que a maioria dos terraplanistas busca informação por meio do YouTube e que a maioria, se convence mesmo sem comprovação científica.
Mark Sargent e Patricia Steere são os maiores porta-vozes da pseudorreligião e os protagonistas do filme. O diretor Daniel J. Clark coloca sua opinião de forma sutil e irônica, principalmente na edição. Os testes feitos pelos terraplanistas não dão certo, e o cineasta deixa a situação ainda mais desconfortável com momentos de silêncio e cortes abruptos certeiros. A intenção é mostrar o que leva tais pessoas a crerem nesta teoria sem fundamento científico, não se limitando apenas a criticar o grupo.
O documentário mostra como é o encontro anual de terraplanistas, que reúne centenas de pessoas para discutir o futuro da comunidade. A imagem da reunião é comparada a um culto ou uma seita que cega pessoas que foram “esquecidas” pela sociedade. Ao ouvir cientistas e psicólogos, o filme defende que ridicularizar essas pessoas só vai ajudar a isolá-los ainda mais.
Em um mundo de desinformação, a ciência traz muitas respostas, soluciona mistérios e também salva vidas. Os grupos que acreditam em teorias mirabolantes são, em sua maioria, um atraso para o pensamento lógico. Não é negar o formato esférico da terra, mas sim, desconfiar dos dados, enaltecer a subjetividade, rejeitar o que nos contradiz e acreditar em falsidades.