“Da diversidade surge a erudição”
- 2 de outubro de 2020
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O jornalista Paulo Mondego é graduado em Jornalismo pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo, Campus Engenheiro Coelho. Entre 2004 e 2007, período no qual foi aluno do curso, atuou como redator e editor-chefe do Canal da Imprensa. Atualmente reside em Taguatinga, Distrito Federal, e atua como editor-chefe na coordenação de Rádio e TV no Tribunal Superior de Justiça
Hellen Piris: Qual foi o primeiro contato com o Canal da Imprensa?
Paulo Mondego: O primeiro contato que tive com o Canal foi no logo no início da faculdade. A agência na qual o Canal se encontrava era recém-criada, e por se tratar do Unasp que está geograficamente isolado, o Canal da Imprensa surge com uma importância significativa já que é, talvez, o primeiro laboratório do curso de jornalismo. Então os que pretendiam ingressar ao curso, obrigatoriamente deveriam procurar passar por ali se quisessem ter alguma experiência nesse ramo. Eu comecei a faculdade em 2004, e já no primeiro semestre sabia da existência do Canal. Ingressei nele no segundo semestre com a função de redator do Canal.
HP: Com o tempo você foi tendo outras funções? Como se desenvolveu o processo de crescimento dentro do Canal da Imprensa?
PM: Quando surge o Canal, ele tem a função de laboratório. Naquele momento a direção da agência estava a cargo do professor Dargã, que teve a preocupação de organizar um rodízio entre os alunos. Acredito que isso é fundamental, todo mundo merece essa chance de crescimento e o professor me deu essa oportunidade de participar primeiro como redator. Já no segundo ano da faculdade auxiliei a redatora-chefe que na época era a Vanessa (NE: reside em Londres e é mestre em Direitos Humanos pela Birkbeck University), e quando ela saiu, assumi o cargo de editor-chefe do Canal da Imprensa. Na minha visão foi um episódio curioso, porque eu era apenas um aluno do segundo ano e precisei aprender a lidar com situações variadas, em ocasiões bem complicadas, além disso, os equipamentos que tínhamos disponíveis para a realização das atividades, não eram dos melhores, e isso dificultava nosso trabalho. Eu lembro de edições que virávamos a noite tentando colocar o Canal no ar porque os equipamentos não funcionavam bem. Ademais tinha muita pauta, os textos eram extensos e não tínhamos a visão que temos hoje sobre o conteúdo para a internet. Na época, a internet ainda era um veículo recente, era tudo novo, experimental, mas já tinha os seus frutos.
HP: Pelo que você está comentando, você também ficava responsável por outros alunos?
PM: Sim, cabia a mim como chefe do canal debater as pautas, reunir a equipe, distribuir as pautas, cobrar os textos, editar eles e depois passar para o professor Allan Novaes, que na época era o coordenador da redação. Eu tinha uns 23 anos.
HP: Pode contar alguma experiência ou algum fato curioso que você vivenciou na Redação e que lembra até hoje?
PM: Eu me lembro de uma edição que colocamos no ar, era uma edição de análise dos principais veículos e grupos de comunicação existentes no Brasil. Globo, Folha, Estadão, SBT, Band, e houve uma divisão de tarefas muito grande, já que essa edição tinha ficado muito extensa, e foi no mesmo momento em que estávamos realizando um projeto de reformulação do template do site. Então tinha uma estética diferente para cuidar, uma quantidade absurda de textos para fechar e foi tudo muito exaustivo porque era uma atividade em conjunto com uma disciplina que o professor Allan tinha. Coube a mim colocar essa edição no ar com um colega que nem era do curso de jornalismo, mas foi uma peça fundamental já que ele estava responsável da equipe técnica. Era o Rodrigo, e ele ajudou bastante nesse processo de colocar o site no ar. Nós tínhamos começado a trabalhar às duas da tarde e concluímos a postagem do site as cinco da manhã do outro dia, porque o equipamento travava com frequência. Depois desse processo o Canal foi impulsionado, mas a primeira edição foi desafiadora, e como aluno de Jornalismo aos 22 anos encarei essa situação como o fechamento do Jornal Nacional sobre a derrubada do presidente Jair Bolsonaro. Para mim foi uma experiência de muita responsabilidade, uma vez que é publicado algum conteúdo na internet não tem volta atrás, e nós como equipe tínhamos essa preocupação desde o início.
HP: A cada quinze dias, nas quintas-feiras um aluno da Redação ficava responsável por todas a atividades e demandas desse dia sem a supervisão de um professor ou superior. Você chegou a passar por essa experiência? Como foi para você?
PM: A rotina funcionava da seguinte maneira, depois de ter passado o dia supervisionando, tínhamos uma reunião de pontuações daquilo que foi positivo ou negativo, daquilo que podia ser melhorado. Dessa experiência o que resgato como mais interessante é a própria temática do Canal, ele analisa e critica a mídia, é um exercício que todos podem fazer, sobretudo no tempo atual no qual nos encontramos, onde vivemos uma avalanche de fake news, de desinformação. Já na faculdade, esse tipo de análise é fundamental para que o estudante consiga elaborar ferramentas e derrubar essa avalancha de notícias faltas e sobretudo valorizar os meios de comunicação tradicionais. Cabe ao jornalista profissional realizar esse serviço, e ter a oportunidade de realizá-lo ainda na faculdade é muito interessante. A nossa atividade como jornalista está em xeque quase todos os dias, nós temos sido provados diariamente, e para chegar ao mercado de trabalho no meio dessa loucura, o profissional precisa estar preparado, ele deve se questionar sobre o tipo de conteúdo e informação que está produzindo, então acredito que Canal consegue alcançar esse objetivo.
HP: Você acredita que essa experiência o ajudou de alguma forma no mercado de trabalho?
PM: Sem sombra de dúvidas, quando saímos da faculdade e entramos em uma redação comercial, normalmente somos invadidos por um medo, uma sensação de que talvez você não seja o suficientemente capaz ou não vai dar conta da demanda. É uma insegurança natural da falta de experiência. A minha primeira experiência no mercado foi como produtor de uma TV, e no começo foi muito desafiador, a informação vinha primeiro para a minha mão, para logo ser passada ao repórter que ia se basear naquela informação para fazer a sua apuração e fechar o material dele. Naqueles momentos, a primeira coisa na qual eu pensava era: “que tipo de informação era útil para o profissional, para o meu colega”, e era nesses momentos que lembrava de tudo aquilo que tinha observado e aprendido na sala da aula e na redação. Aquelas atividades tinham exigido muito mais da minha rapidez e habilidade e das informações apuradas naquele momento, então quando lembrava desse aprendizado, eu ia perdendo o medo, porque a informação estava comigo. Eu busquei as minhas próprias experiências na faculdade. O Canal foi essencial nessa formação inicial e nessa vontade de fazer igual no mercado de trabalho.
HP: Durante o seu período na Redação, vocês ganharam algum prêmio com o Canal? Explique como foi o processo para lograr as premiações e quais exatamente foram esses prêmios.
PM: Na época nós pesquisávamos as premiações nas quais poderíamos concorrer e inscrevíamos os nosso trabalhos nessas competições. Acredito que é importante ressaltar que não era o meu prêmio, era o prêmio do Canal da Imprensa e de todas as pessoas que tinham passado por lá. Além disso, percebi que o trabalho feito na faculdade pode render frutos, bons frutos, e não é o prêmio pelo prêmio, é o reconhecimento pelo seu trabalho que está sendo notado externamente, isso é muito importante. E com relação aos prêmios especificamente, ganhamos o prêmio da Intercom em 2006 com o lançamento da ABJ e o prêmio de “Melhor Vídeo Institucional” na Intercom de 2007. Além destes, recebemos um prêmio de uma instituição do Paraná, então foram três prêmios durante esses dois anos.
HP: Do que você mais sente falta da sua época no Canal da Imprensa?
PM: O que mais sinto saudade é de chegar à Redação, encontrar os meus colegas, e começar a desfrutar, atender as demandas, dispor daquela rotina acadêmica de chegar e produzir em parceria com os meus colegas. Muitos dos estudantes da faculdade perguntam assim: poderia contar uma experiência maravilhosa que você teve na sua carreira?, mas nenhuma carreira é feita de experiência extraordinária cada dia, o desafio da carreira, é manter uma rotina de trabalho. Diariamente você vai ter uma pauta, e nem sempre essa pauta vai ser muito interessante, mas por mais irrelevante que consideremos, ela vai ter um impacto para alguém, então essa rotina se torna importantíssima para a formação do jornalista. É da diversidade que surge a erudição. Daquela época lembro que tínhamos um ambiente muito agradável na agência, tínhamos um sistema de parceria, todos se ajudavam mutuamente, e todos precisam dessa ajuda para conseguir se formar, esse apoio poupava dinheiro e tempo. Eu tenho saudades dos colegas chegando na redação, das confraternizações, trocas de livros no clube do livro, as próprias atividades da faculdade como o Jornada Acadêmica, era muito útil e divertida porque integrava todo o curso. É a interação, a troca de informação, e todos esses elementos convergindo para um objetivo só, que é a formação.
HP: Atualmente você exerce a profissão de jornalista?
PM: Atualmente continuo atuando na área, desde que saí da faculdade atuo na área. Hoje estou como editor-chefe do Tribunal Superior do Trabalho (TST) no núcleo de rádio e televisão. É uma atividade de jornalismo institucional e lá temos um núcleo que produz conteúdo para todas as plataformas, rádio, televisão, redes sociais, material interno. Trabalhamos com todas as mídias para a Justiça do Trabalho.