“O movimento antivacina existe como alerta”
- 17 de junho de 2019
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- Thamires Mattos
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Fernanda Silva
Em tempos de polarização, as mídias digitais são as principais ferramentas para divulgação de informação e formação de opinião. Na área da saúde, os impactos positivos e negativos são sentidos de forma nítida. Afinal, da mesma forma que a mídia veicula campanhas que reforçam a importância da vacinação, também são propagadas matérias e relatos contrários à ela. Para entender um pouco mais sobre o uso das redes digitais pelo movimento antivacina, entrevistamos Isma de Sousa, administradora da página no Facebook “O lado obscuro das vacinas”. Ela esteve presente na Conferência AutismOne 2019 e no 4º Simpósio Anual de Educação Internacional sobre Vacinas contra o HPV, realizados em Chicago, nos Estados Unidos. Também participou de palestras na Suécia sobre pesquisas relacionadas ao vírus HPV e Alumínio Adjuvante em vacinas.
Fernanda Silva: Como você entrou em contato com movimento antivacina? O que lhe motivou a fazer parte dele?
Isma de Sousa: O termo “antivacina” foi criado no sentido pejorativo, para desacreditar alertas sobre os perigos com a vacinação. Em 2013, fiquei consciente dos riscos vacinais e me tornei adepta do desafio de mostrar o lado obscuro das vacinas. Passei a buscar mais informações sobre o tema depois que meu filho mais velho adoeceu e não se recuperou apesar de tratamento. Com o tempo, fui entender que podia ser uma reação tardia às vacinas que ele havia tomado. O médico determinou autismo atípico. Meu segundo filho tem traços de autismo, mas não fizemos investigação.
FS: Qual é a base científica utilizada pelo movimento antivacina e em que legislações acreditam?
IS: Existem inúmeros artigos publicados em databases de confiança que mostram os perigos das vacinas. Isso é fato. Creio que o maior problema seja a dificuldade das pessoas lerem, compreenderem e formarem uma opinião sensata e própria. Eu vacinei meus filhos por falta de conhecimento. Hoje sei que base científica não falta – esse é o resumo. Para muitos, costumamos recomendar que, ao vacinar, busquem se conscientizar dos riscos.
FS: Como você tem utilizado websites e as redes sociais, especialmente o Facebook, para fomentar esse movimento?
IS: Não é necessário um grande esforço. As pessoas compartilham as reações que acontecem após vacinarem os filhos continuamente. Elas sabem que não estão sozinhas. Temos o website montado por um antigo moderador, ele fez um trabalho fantástico. Já no Facebook, utilizo apenas o grupo público, não há o que esconder. Mas sei que existem grupos que são secretos.
FS: O movimento antivacina têm crescido nos últimos anos no Brasil. Você acredita isso tem relação com a facilidade que a internet possibilita para publicação e acesso de conteúdo?
IS: Eu creio que tem crescido porque aumentou a quantidade de vacinas no calendário vacinal, tanto para crianças e adultos. Consequentemente, aumentou também a quantidade de pessoas que estão tendo reações. É claro que no fundo fica a revolta, pois o paciente tomou vacina para manter a saúde, e, se teve efeito contrário, as pessoas irão ficar contrariadas e se manifestam nas redes sociais. Confira o calendário vacinal dos anos 1980, 1990 ou 2000, e compare com o de 2019. Você terá uma visão melhor sobre a quantidade. Sobre a internet e acessos de conteúdos, não creio que influencia muito. Sabe, o brasileiro compartilha de suas experiências no “mano a mano”, no contato próximo. Então, um vizinho que teve um filho que tomou a vacina e morreu já consegue alertar uma grande quantidade de pessoas. A partir disso, as pessoas desconfiam que possa ser verdade, e muitos não arriscarão passar pelo perigo de ter uma reação tão fatídica. Outros irão tomar as vacinas, e dirão “seja o que Deus quiser”.
FS: O movimento antivacina foi incluído no Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos dez maiores riscos à saúde global em 2019. Por que eles tomaram essa decisão??
IS: A decisão da OMS é apenas um alarme falso com objetivo de desacreditar que, na verdade, o movimento antivacina existe como alerta. O que o tal movimento antivacina está fazendo é o que a OMS, governos, médicos e profissionais de saúde deveriam fazer: alertar sobre os riscos. O consentimento informado é lei no Brasil. Leia sobre isso. Nunca no mundo se vacinou tanto quanto agora. Os dados falam contra a OMS.
FS: Há alguma associação que reúne todos os conteúdos produzidos pelo movimento? Existe alguma organização de coleta e distribuição de informações sobre o tema, ou cada um produz e procura as fontes de forma independente?
IS: Eu utilizo as fontes das produtoras internacionais de vacinas e dados registrados nos Estados Unidos. Existe uma associação na produção de vacinas que envolve o Brasil, e outros países. Pesquise sobre “Brics Vacinas” no Google e poderá entender melhor sobre o assunto. Da mesma forma, costumo recomendar a outros que façam pesquisas próprias. Se aprofundem no assunto e cheguem a suas próprias conclusões e conhecimentos.
FS: O movimento antivacina têm estimulado o comércio eletrônico em sites como Amazon com livros que abordam o tema e também de remédios naturais que substituiriam as vacinas. Qual é o seu posicionamento sobre essas tendências?
IS: Na verdade, apesar de ter pedido várias vezes, nunca consegui um livro pelo Amazon sobre o assunto com vacinas. Então tenho dúvidas que o Amazon contribua com essa estimulação. Sobre a questão de remédios naturais, eu concluo o seguinte: as pessoas têm adoecido e buscado tratamentos médicos. Remédios prescritos não resolveram o problema delas. Daí elas se voltaram à busca do natural.
FS: Podemos dizer que a recusa de vacinas é um fenômeno basicamente de classe A e quase todos os casos de recusa de vacinas são de pessoas de categorias socioeconômicas elevadas?
IS: Existem afirmações sobre isso, que é classe A que recusa vacinas. Mas, discordo. Quem está recusando vacinas são pessoas que buscam conhecimento também sobre as reações. Pessoas com nível econômico limitado, se veem os filhos tendo reações e não tem dinheiro para comprar remédios, decidem não vacinar, pois não terão como cuidar depois. Isso já me foi relatado em diversas ocasiões. E tenho conhecimento de pessoas Classe A que pagam no particular para vacinarem os filhos por acreditarem que as vacinas, no particular, irão causar menos reações.
FS: Quais seriam as formas alternativas de proteção contra diversas doenças infecciosas e epidemias além da vacina, tendo em vista que as vacinas são consideradas pela Organização Mundial de Saúde a forma mais eficaz de prevenção?
IS: Bom, eu creio que Deus, o Eterno, criou o sistema imunológico natural perfeito, e capaz de combater processos inflamatórios. Sempre antes da doença, há os processos inflamatórios, os avisos. Se existem doenças infecciosas e epidemias, alguém está brincando com fogo em laboratórios. Vamos à realidade: onde existe a concentração de vírus, produtos biológicos, bactérias e outros conteúdos tóxicos utilizados em vacinas? Estão concentrados em laboratórios, nas mãos dos produtores de vacinas.
Como vacinas podem ser eficazes para combater doenças, quando elas produzem reações que levam a diagnósticos/doenças?
FS: De acordo com pesquisas realizadas pela USP, os conservantes utilizados nas vacinas não causam mal à saúde por serem em doses muito baixas. Como o movimento antivacina explica esse fenômeno?
IS: Olha, a USP apresentou um trabalho sobre o mercúrio ou thimerosal, e essa nova informação, na verdade, seria uma fraude. Seria como afirmar que as vacinas não causam reações. Creio que não há pecadinho ou pecadão, sabe. Tudo que for colocado no corpo, que não é para estar no corpo, vai ter consequências. Então, não é sobre a quantidade de conservantes no corpo na vacinação. A questão é: para quê colocar no corpo algo que não deveria estar lá? Como trazer saúde ao corpo colocando produtos biológicos tóxicos?
Apesar das pesquisas mostrarem que as redes sociais são a principal ferramenta para a divulgação do movimento antivacina, ainda parece ser tímido o uso e organização do movimento de forma sistemática. O modelo “boca a boca” ainda é mais eficaz –, e não envolve a mídia de forma direta. A decisão e o bom senso é todo seu, leitor, em escolher o que consumir. Mas, talvez, a mídia não seja a vilã ou a heroína dessa decisão.