Um equilíbrio na cobertura das queimadas
- 25 de setembro de 2024
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- Theillyson Lima
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Mídia humaniza queimadas, mas carece de profundidade em relação a situação que o Brasil vivencia nos últimos meses.
María Fernanda de la Cruz Chire
A prevenção de queimadas no Brasil é, sem dúvida, um tema crucial, mas a maneira como os meios de comunicação têm abordado essa questão merece uma análise mais crítica. Embora seja inegável que os incêndios florestais, especialmente na Amazônia e no Cerrado, causem danos ambientais, sociais e econômicos imensos, os veículos de mídia muitas vezes tratam o assunto de maneira superficial, sem explorar a fundo as causas estruturais e as soluções a longo prazo.
Em muitos casos, os meios de comunicação limitam-se a cobrir os incêndios durante os picos das crises, quando as imagens dramáticas de florestas em chamas e a poluição atmosférica já tomaram conta das manchetes. No entanto, há uma falta de atenção consistente fora desses períodos críticos.
O tema da prevenção é pouco explorado, e raramente há discussões detalhadas sobre as políticas públicas de gestão de terras, a fiscalização de desmatamento ilegal ou o apoio às comunidades locais que poderiam ser agentes ativos na prevenção de queimadas. Em vez disso, a mídia muitas vezes apresenta os incêndios como eventos inevitáveis, causados principalmente por fenômenos climáticos, sem atribuir responsabilidade suficiente aos fatores humanos, como o uso inadequado da terra e as práticas agrícolas insustentáveis.
Conexão emocional
Os relatos de agricultores que perdem suas colheitas ou de famílias obrigadas a abandonar suas casas devido a incêndios devastadores, embora poderosos, muitas vezes se limitam a apelos emocionais que, no fim, não levam a um debate mais crítico.
A mídia usa essas histórias para criar uma conexão imediata com o público, mas raramente explora em profundidade os fatores políticos, econômicos e sociais que perpetuam o ciclo das queimadas. Ao focar nas consequências individuais e viscerais, a cobertura muitas vezes desvia a atenção das questões estruturais, como a falta de fiscalização, a impunidade diante do desmatamento ilegal, e o papel das grandes corporações agrícolas na degradação ambiental.
Também essas narrativas emocionais podem gerar uma sensação momentânea de solidariedade, elas não necessariamente impulsionam ações concretas de longo prazo. O público é levado a sentir empatia, mas não é instigado a exigir mudanças políticas mais amplas ou a questionar os responsáveis por esses desastres. A mídia, em muitos casos, se contenta em mostrar o sofrimento, mas não dá espaço suficiente para soluções práticas, como iniciativas comunitárias de prevenção de incêndios, políticas públicas efetivas ou projetos sustentáveis que poderiam ajudar a mitigar o problema.
Uso de plataformas digitais
Embora os meios de comunicação tenham se adaptado à era digital para disseminar informações práticas sobre a prevenção de queimadas, essa abordagem muitas vezes carece de profundidade e efetividade. A utilização de redes sociais, blogs e vídeos é um avanço, mas a maioria das campanhas acaba sendo superficial, com dicas genéricas que nem sempre levam em conta as realidades locais e os desafios enfrentados por diferentes comunidades.
As campanhas educativas, embora bem-intencionadas, muitas vezes são tratadas como iniciativas pontuais, sem continuidade ou acompanhamento.
As iniciativas acabam sendo mais informativas do que transformadoras, deixando de promover uma discussão crítica sobre as responsabilidades governamentais e empresariais na prevenção de queimadas.
O uso das plataformas digitais é, sem dúvida, uma ferramenta poderosa, mas precisa ser melhor explorado para garantir que a conscientização se transforme em ações reais e duradouras, e não apenas em compartilhamentos e curtidas.
Linguagem acessível
Embora a humanização da linguagem pelos meios de comunicação seja uma tentativa válida de tornar a mensagem mais acessível, essa abordagem muitas vezes simplifica demais questões complexas. Ao priorizar narrativas emocionais e uma linguagem mais amigável, corre-se o risco de diluir a gravidade dos dados técnicos e das estatísticas que demonstram a real extensão do problema das queimadas.
Além seja importante tornar a informação compreensível para uma audiência ampla, o foco excessivo em uma linguagem simplificada pode deixar de lado a urgência das ações necessárias ou minimizar a complexidade das soluções. A acessibilidade não deve sacrificar o rigor da informação. O público precisa entender não apenas as histórias humanas, mas também os fatores científicos e estruturais por trás das queimadas, para que possa agir de maneira informada e efetiva.