Pequenos consumidores, grandes consumistas: Por que as crianças querem ser ricas?
- 25 de agosto de 2021
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Ser astronauta não está mais em questão, agora as crianças querem ser bilionárias
Isabela Vitória
Criador de uma empresa, sócio fundador de outras três, investidor da bolsa de valores, e… criança? Felipe Molero, com 13 anos, já é um reflexo da sociedade gananciosa e consumista do século XXI.
Em seu canal do YouTube, Felipe explica que aos 9 anos, enquanto navegava no Instagram começou a ver muitas mansões e carros luxuosos. Ele não entendia como alguém podia ter tanto dinheiro, a ponto de poder comprar coisas tão caras. A partir disso, começou a estudar sobre o dinheiro e investimentos, até que chegou a conclusão que quanto mais cedo começasse a investir, mais cedo alcançaria uma condição de vida melhor. Aos dez anos Felipe Molero já era um investidor na bolsa de valores, aos 11 fundou sua própria empresa e hoje, aos 13 anos de idade também é sócio fundador de outras três startups.
Mas afinal, por que uma criança se preocupa com isso? Grandes casas, carros luxuosos, bolsa de valores, e principalmente dinheiro. De onde as crianças recebem incentivo para pensar como adultos? A resposta está mais perto do que você imagina, não é de hoje que a mídia deixou de tratar a criança como alvo inviolável.
Mídia como influência direta
A chuva de publicidade cria consumidores cada vez mais novos. Vítimas de um incentivo subliminar a ser e ter o que lhes é propositalmente projetado pela indústria. No documentário “Criança, a alma do negócio“, o sociólogo e psicólogo Pedro Guareschi comenta: “A mídia hoje é de fato o primeiro elemento na construção e criação das nossas subjetividades e valores, não mais a família, igreja ou escola”.
“A publicidade evidentemente promete mais do que a alegria da posse, ela promete a alegria da inscrição na sociedade. […] Consumindo você será aceito como consumidor, depois será inscrito entre os consumidores daquele produto e afastado dos não consumidores. Portanto terá uma existência social que vai te alegrar. E isso tudo começa na infância”, complementa o Doutor em Ciências da Comunicação Clóvis de Barros Filho. O desejo da criança hoje, mais intensamente do que na época do documentário (2008) pode ser completamente implantado nela, e não um desejo real.
Através das redes sociais, Felipe foi bombardeado por desejos que ele talvez não tivesse naturalmente. Porém, ao invés de relevá-los, ele decidiu dedicar sua infância para, como ele mesmo comenta em seu canal no Youtube, se aposentar mais cedo. A troca do desejo de brincar pelo desejo de ter, seja dinheiro ou posses, não é nada mais que uma ideia publicitária muito bem desempenhada.
Felipe possui hoje 693 mil seguidores em seu Instagram e 59,4 mil no seu canal do YouTube. Produz semanalmente conteúdos sobre investimento, principalmente para crianças, jovens e iniciantes. Para uma sociedade que em 2008 problematizava as mídias pelo poder de influência e indução ao consumo, o que podemos dizer sobre as crianças que trabalham para alimentar essas mesmas redes todos os dias?
Efeitos colaterais
O psicólogo infantil Thiago Cavalcante, em entrevista para o Canal da Imprensa, afirma que perder a vivência do período infantil pode forçar o amadurecimento precoce da criança, abrindo espaço para gerar estresse, depressão, ansiedade e até mesmo aspectos de psicossomatização. Esses prejuízos são resposta a uma vivência de adulto para alguém que ainda não desenvolveu recursos psicológicos, como estratégias recompensatórias que auxiliam a lidar com sentimentos e frustrações.
Porém, quando esse processo for feito de forma moderada e planejada trará elementos muito importantes. É interessante que a criança tenha responsabilidades de acordo com sua idade, eventualmente em algumas atividades de adulto. O psicólogo também aponta que: “Aos 10, 12 anos, a criança já deve ter muitas responsabilidades! Cuidar de seus brinquedos, arrumar o quarto, lavar suas louças e quem sabe, até as roupas, dependendo da construção familiar”. O ideal é que exista um cuidado especial para que a infância seja conservada, havendo equilíbrio entre funções de lazer, responsabilidade e imaginação.