Os desafios do jornalismo internacional e a incapacidade da onipresença
- 10 de maio de 2023
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- Theillyson Lima
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Dificuldades de acesso a fontes, matérias replicadas e estereótipos.
Natália Goes
O jornalismo está presente em todo o mundo de forma estratégica, além de ser muito importante para a geopolítica. O que acontece além das fronteiras nacionais de um país influi cada vez mais no resto do mundo, como em domínios, nas culturas, no consumo e nas relações sociais. Os maiores veículos de jornalismo do Brasil tem em suas editorias uma parte destinada só para as notícias que acontecem ao redor do mundo.
Esse espaço generalista, ou nem tanto assim, traz muitas características de determinados países, além de crenças estereotipadas. A análise da cobertura das notícias veiculadas em sites pelos jornais G1 e BBC mostram algumas dificuldades que o jornalismo internacional enfrenta.
G1 e BBC News Brasil
Servir ao interesse público é uma das maiores tarefas do jornalismo, isso não é diferente quando se fala do jornalismo internacional. A função do jornalismo é passar para a sociedade o que acontece de relevante de forma que possa influenciar na sociedade.
O g1 é um site de notícias da Globo que foi fundado em 18 de setembro de 2006. A iniciativa do conteúdo jornalístico foi pensada para o digital, além de ser estruturado com uma redação própria e inteiramente dedicada à cobertura em tempo real. Segundo a Comscore, atualmente atinge em média mais de 55 milhões de usuários por mês e conta com redações espalhadas em todos os estados do Brasil, além de estar presente nas principais redes sociais e aplicativos para Android e IOS.
Já a BBC News Brasil, começou na internet em 1999 e desde então tem crescido. O jornal tem seu próprio site e faz parcerias com outros sites, sendo eles os principais portais de notícias do país. Atualmente a BBC News Brasil tem desenvolvido conteúdos de suas reportagens por meio de texto, áudio e vídeo para atingir todo o público brasileiro.
A incapacidade de estar em todos os lugares
Um dos problemas que afetam as redações no geral é o fato dos jornalistas da área internacional não terem acesso direto aos fatos. O número de correspondentes é pequeno, e nem todos os jornais conseguem capital suficiente para ter correspondentes ou até mesmo filiais ao redor do mundo.
Com essa dificuldade, os jornais acabam contando com as agências internacionais de notícias, notícias de jornais locais ou de algum contato com fonte no local. Apesar dos dois veículos terem correspondentes pelo mundo, o G1 por fazer parte de uma empresa grande de comunicações tem mais acesso a fontes e informações. Já a BBC Brasil tem um número menor de correspondentes e está presente em apenas quatro lugares, em sua sede em Londres, na sede em São Paulo, Washington e Brasília.
Isso pode dificultar o processo de produção de notícias e um trabalho bem feito por parte dos jornais. Não saber e não viver de fato o que está acontecendo em determinado país, pode acarretar informações que não transmitam a realidade daquele país e do fato em questão.
Cobertura e produção
O jornalismo internacional, seja ele veiculado por impressos ou por meio digital, como é o caso em questão, retrata acontecimentos particulares que acontecem fora dos limites de interação e de contato. A produção dos dois veículos são para o formato digital.
Enquanto o g1 tem um trabalho focado em fazer uma cobertura em tempo real de tudo que acontece mundialmente, a BBC News Brasil faz a cobertura em tempo real um pouco mais lenta, pelo fato de não ter tantos correspondentes ao redor do mundo.
É possível notar a diferença entre os dois veículos pela quantidade de notícias lançadas e o alcance de cobertura, além da diferença nos conteúdos. Na editoria Mundo do g1, em um dia foram lançados 34 conteúdos entre notícias e conteúdo de blog. Já a BBC News Brasil em um dia lançou 5 conteúdos que mais se parecem com blog post do que com notícias. Isso transparece em toda a sua editoria Internacional.
Outra diferença entre os veículos é o viés político de cada jornal que influi na produção de pautas e notícias de cada jornal. O viés de direita do g1 resulta em notícias mais gerais, enquanto que o viés de esquerda da BBC Brasil leva a notícias sobre países que tem o mesmo viés político.
Nesse processo, a BBC Brasil faz sua cobertura apenas de países que estão em destaque mundialmente. Já o g1 traz um apanhado geral de todas as notícias ao redor do mundo.
Guerras, desastres naturais, política, crimes e escândalos
Os grandes eventos mundiais têm coberturas especiais, como copa do mundo, olimpíadas, eleições, guerras, desastres entre outros. A participação de correspondentes existe, mas é limitada aos grandes veículos.
No jornalismo internacional vemos muito o uso da internet, mas ela não substitui a boa rede de correspondentes. Vemos isso no g1, que com a guerra da Ucrânia fez uma aba dentro da sua editoria Mundo somente para cobrir a guerra.
É comum vermos o destaque do jornalismo internacional somente quando aconteceu algum crime com grande proporção e muitas mortes, quando tem eleições presidenciais dos outros países, quando acontece algum desastre natural ou até mesmo guerras.
Os veículos focam somente no que está acontecendo em grande repercussão e deixa de lado as outras notícias, como foi o caso da BBC Brasil, que no presente tempo em que esse texto foi escrito, focou apenas na coroação do Rei Charles III e deixou de lado outras notícias como o ataque a tiros no Texas em que 8 pessoas foram mortas.
Além de focar apenas em alguns acontecimentos, o jornalismo internacional também fica responsável por caracterizar regiões. Muitas pessoas têm acesso a alguns países somente através das notícias e muitos veículos trazem alguns estereótipos dos países, como o Iraque sendo um país em que só acontecem guerras pelo fato de só cobrirem o país quando ele está em conflito. Sendo assim, acabam não trazendo diversificação para as informações.
Esses estereótipos trazem uma imagem negativa sobre a região Oriental, por exemplo. A exposição da região apenas por narrativas de violência e com pouca contextualização real dos fatos constrói uma imagem em que os países orientais são ameaças para o resto do mundo.
Conclusão
É importante frisar que o jornalismo internacional apenas faz recortes do mundo a ser visto e é extremamente desafiador. O público recebe as informações que acontecem fora da sua nação e não tem a noção real da complexidade dos fatos ali retratados.
A dificuldade de acesso às fontes, os limites financeiros, o excesso de demandas e o volume de conteúdos que chegam do exterior são as principais dificuldades do jornalismo internacional, que afetam os conteúdos publicados.
Na análise feita, os veículos g1 e BBC NEWS Brasil não cumprem com o papel que deveriam e ainda precisam se desenvolver mais na produção e apuração, especialmente a BBC Brasil.
A ausência de um jornalismo internacional independente é notável dentro dos veículos analisados, principalmente pelo predomínio de matérias produzidas por agências internacionais, mesmo quando a busca por informações nos dias atuais são facilitadas por meio da tecnologia.
Os veículos analisados possuem um problema amplo no qual é necessário uma rápida intervenção para uma melhor cobertura das notícias mundiais para, também, que o papel do jornalismo internacional seja cumprido com excelência.