O show ao vivo que não para
- 7 de maio de 2020
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- Thamires Mattos
- Posted in Sessão Cultural
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Como a indústria artística se mantém viva durante o isolamento social?
Esther Fernandes
Nunca a frase “O show deve continuar” fez tanto sentido no contexto mundial. Diante de toda uma agenda de shows musicais cancelados ou adiados em função do novo coronavírus, diversos artistas adotaram formas alternativas para entreter o público. Evitar aglomerações é a regra da vez, e, a fim de não desperdiçar tempo e perder dinheiro, cantores/as, grupos e duplas nacionais e internacionais utilizam as redes sociais em seu favor. As famosas lives, que inicialmente aconteceram no Instagram, têm se tornado cada vez mais presentes e elaboradas durante a quarentena.
No Brasil, quem abriu a temporada de grandes lives produzidas foi o cantor sertanejo Gusttavo Lima. Ele optou por uma super produção, deixando de lado a atmosfera caseira do Instagram. Sua transmissão ao vivo bateu recorde de acessos simultâneos de vídeo no YouTube. Até então, esse troféu era da cantora Beyoncé. A dupla sertaneja Jorge e Matheus também fez história em sua live no Youtube. A dupla quebrou o recorde da plataforma ao atingir 3,1 milhões de acessos simultâneos. Com o sucesso dos shows online, vários artistas já agendaram suas apresentações para fãs acompanharem do conforto de suas casas. Mas, deixando um pouco de lado a questão mercadológica das lives, em síntese, qual é o impacto social e o que essas expressões artísticas representam no contexto atual?
Theodor Adorno, sociólogo e estudioso da Escola de Frankfurt, publicou em 1949 um ensaio chamado “Crítica cultural e social”. Uma citação em especial, presente em seu ensaio, se popularizou e se expandiu de forma vulgar. “Haverá poesia após Auschwitz?” Esse questionamento permeia a sociedade e se resignifica: como será a arte após a pandemia do coronavírus? Ou, ainda: como a cultura está se desdobrando em um momento de crise?
A arte, ao longo da história, revela os “pés” sociais e históricos de determinada civilização. Esse caráter de espelho social nos permite analisar o contexto coletivo. Dentro do cenário atual, o que se observa é um conjunto de tentar voltar aos antigos formatos artísticos dentro de novas esferas. Fora do campo cultural, é comum ver manifestações do governo em que o principal discurso é a volta da economia. Um governo que defende a volta dos trabalhadores em um momento de crise está interessado em atender a classe que depende da mão de obra para se manter no poder. Nessa lógica, o valor do humano está, paradoxalmente, no quanto ele gera valor. Os shows online representam uma classe artística que está se desdobrando em casa para manter antigos formatos em novas esferas.
Vale ressaltar que o questionamento central não é o caráter assertivo ou não das lives, e sim a consciência do seu significado em um contexto de pandemia mundial. Sem dúvida, as expressões culturais irão sofrer alterações ao término do isolamento social. Cabe a investigação de seus novos desdobramentos e continuações, afinal, “o show não pode parar”.