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O português perdeu o fôlego

  • 24 de setembro de 2025
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  • Theillyson Lima
  • Posted in Análises
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O jornalismo digital sacrifica a precisão das palavras em nome da estética global.

Vefiola Shaka

A linguagem jornalística sempre acompanhou as transformações da sociedade, mas com a chegada da internet, esse processo ganhou velocidade inédita. O vocabulário, que antes se limitava ao impresso e à TV, foi sacudido pelas plataformas digitais. 

Hoje, novas palavras invadem os noticiários, outras mudam de significado e o tom dos textos parece competir com a lógica de engajamento das plataformas. O que aconteceu com a riqueza lexical da língua portuguesa no jornalismo? Como o vocabulário, uma ferramenta fundamental na construção da informação, se adaptou para atender a um público cada vez mais ávido por novidades e imediatismo?

News ou notícia?

Nos últimos anos, uma avalanche de termos em inglês tomou conta das redações, com muitos veículos utilizando-os sem tradução, como se fossem de compreensão universal. A mistura de idiomas se tornou quase uma assinatura do jornalismo digital. Esse fenômeno reflete a padronização linguística que ocorre à medida que as plataformas digitais se tornam dominadas por um vocabulário globalizado, em que o inglês se destaca como língua franca.

Um exemplo disso é a newsletter The News CC, que em sua edição de 19 de agosto usou tanto português quanto inglês. Enquanto manchetes como “Polícia faz operação para pegar criminosos infiltrados nas torcidas organizadas” estavam em português, seções como “NEED TO KNOW” e termos como “apps” e “AI” surgiram em inglês. 

O vocabulário da comunicação jornalística se tornou híbrido e internacionalizado. Mas essa mistura, mais do que uma inovação estilística, pode representar um enfraquecimento da comunicação em língua portuguesa. Por que manter “NEED TO KNOW” em inglês quando o restante está em português? Seria uma escolha estética, uma forma de parecer moderno, ou uma dependência do vocabulário globalizado que é repetido por convenção e não por clareza? 

Ao tentar entender se o uso de palavras em inglês faz sentido nos sites brasileiros de notícias, deparamos com um dado bastante curioso. Dados apontam que apenas 5% dos brasileiros falam inglês, e apenas 1% tem fluência de fato. Ou seja, se o uso dessas palavras tem como objetivo soar bonito e moderno, parabéns: eles alcançaram o efeito. Soa diferente e, muito provavelmente, a maioria das pessoas nem se preocupou em entender o significado, apenas continuou a consumir as notícias.

Segundo o Google Trends, a expressão “need to know” foi mais buscada na internet no ano de 2021 por conta do lançamento de uma música com o mesmo nome. Isso evidencia, muitas vezes, a indiferença do público em relação a essas palavras trazidas apenas por motivos estéticos colocados em meios informativos. 

Nos últimos cinco anos, essa palavra foi pouco buscada na internet. Comparando com o público leitor dessa newsletter ou de outras que podem utilizar o termo, fica evidente que elas não foram levadas em consideração ou que os leitores não demonstraram interesse em saber o que significa.

O impacto no pensamento crítico

De acordo com o levantamento do Poder 360, com dados do IVC (Instituto Verificador de Comunicação), 9 entre 14 jornais brasileiros tradicionais registraram queda na circulação impressa em 2024. Ao mesmo tempo, o Brasil lidera o consumo de notícias pelas redes sociais na América Latina, com 6,4 bilhões de interações em 2024, segundo a Comscore. Esta transição do jornalismo impresso para o digital destaca não apenas o novo formato de consumo, mas também como o vocabulário se adapta a esse novo ritmo: mais rápido, mais fragmentado, mais acessível.

Embora essa agilidade seja vantajosa em muitos aspectos, ela também carrega o risco de comprometer a profundidade da informação. O jornalismo digital, ao priorizar a brevidade e a atratividade, pode reduzir questões complexas a slogans ou manchetes curtas.

Um exemplo claro disso são as postagens da plataforma X (antigo Twitter), que frequentemente trazem textos reduzidos e, muitas vezes, sem o contexto necessário para uma compreensão mais aprofundada. As palavras, nessas postagens, se tornam “tags” rápidas e de impacto, mas muitas vezes deixam de refletir a complexidade do mundo real.

Ultimamente, um caso que está viralizando nessa rede é a coroação da influencer Virginia na escola de samba Grande Rio. Com a tag “Grande Rio”, se encontram mais de 18,6 mil posts sobre o assunto. Postagens-memes, expressões curtas ou apenas imagens cumprem o papel que palavras bem escolhidas e um vocabulário jornalístico poderiam fazer em uma notícia. Preciso admitir que esse formato é extremamente simples de acessar e compreender, sem exigir tempo ou esforço, o que mantém o público informado sem perder o timing da questão quente em discussão.

Mas mesmo assim, este caso expõe o lado perigoso do jornalismo digital: a rapidez e o visual substituem a análise e o contexto. Memes, imagens e posts curtos transformam notícias complexas em fragmentos superficiais, fáceis de consumir, mas pobres em conteúdo. O leitor recebe informação sem profundidade, reage emocionalmente e não é provocado a refletir ou questionar.

O assunto viralizou justamente por ser tratado de forma superficial, sem trazer o contexto real, mostrando que o vocabulário jornalístico é essencial, palavras bem escolhidas e precisas não apenas descrevem fatos, mas ajudam a estruturar o pensamento crítico de cada um, permitindo compreensão, análise e reflexão sobre o que está sendo noticiado.

Palavras que entram e saem

Se de um lado o jornalismo digital acolhe neologismos que surgem das redes, como “viralizar”, “cancelamento”,“hater” e “influencer”, de outro abandona palavras que por décadas fizeram parte do seu repertório. Termos que antes pertenciam apenas à gíria digital, como “vazar” ou “shippar”, chegam até mesmo a pautas de jornais tradicionais, mesmo que nem todo mundo entenda, ou até estranhe, especialmente as pessoas mais velhas que ainda torcem o nariz para essas novidades.

Ao mesmo tempo, expressões clássicas como “matutino”, “vespertino”, “caderno” ou “colunista social” estão desaparecendo, substituídas por categorias mais genéricas e pela lógica da instantaneidade. 

O léxico jornalístico, portanto, não apenas acompanha a cultura digital, mas também absorve e descarta palavras em um ritmo que a própria língua portuguesa nunca havia experimentado. Isso evidencia o caráter não estático do léxico. O acervo lexical se expande para atender tanto a novas necessidades de nomeação quanto a fins estéticos. 

O jornalismo digital se torna um grande propagador destas novidades, deixando visível que o léxico está em constante movimento. Ele explora os limites imprecisos da língua para trazer expressividade, mostrando que a imprensa não apenas acompanha as mudanças da linguagem, mas atua como agente ativo na própria transformação da língua.

Mas vale relembrar que palavras não são ornamentos, mas  ferramentas para pensar, analisar e compreender. Quando o jornalismo se rende a atalhos, memes ou termos de efeito, entrega ao leitor apenas fragmentos rasos de realidade. Sem perceber, o jornalismo molda leitores superficiais, abrindo mão da riqueza lexical que sustenta o pensamento crítico.

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