O podcast: um formato de jornalismo ainda imaturo
- 27 de abril de 2022
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Em meio a uma crescente busca por novos conteúdos no formato de podcasts, o jornalismo segue atrás em todos os sentidos.
Lucas Pazzaglini
Durante os últimos anos o consumo de podcasts no Brasil tem apresentado um crescimento elevado. De acordo com a Comscore, os brasileiros passam cerca de 13 bilhões de horas por mês ouvindo conteúdos através desse tipo de plataforma. O Brasil ainda tem a oportunidade de ser o segundo maior produtor desse formato, como explica o Listen Notes através do seu levantamento mundial.
Uma pesquisa realizada pelo cupomválido.com.br, em parceria com a Statista e o IBOPE, constatou que o Brasil é o terceiro maior consumidor de podcasts no mundo, ficando atrás apenas da Suécia e da Irlanda. A questão é que mesmo tendo mais de 30 milhões de ouvintes fixos, as temáticas preferidas continuam sendo as de entretenimento.
A partir do ranking de podcasts mais ouvidos pelos brasileiros, destacados através da pesquisa, fica claro o desinteresse por conteúdos jornalísticos através dessas plataformas. Entre os cinco principais, apenas um com essa temática alcança o pódio.
- Horóscopo Hoje
- Mano a Mano
- Flow
- Primocast
- Café da Manhã
O único podcast que de fato se enquadra no jornalismo é o Café da Manhã, que deve muito dos seus ouvintes ao fato de pertencer à Folha de São Paulo, um dos maiores jornais do Brasil. Mesmo não tendo esse apoio, os outros programas ultrapassam seu alcance e número de ouvintes.
Os conteúdos abordados dentro do top 4 variam entre: astrologia, forma básica de entretenimento com um conteúdo rápido, entrevistas, mais voltado a opinião pessoal e histórias de vida e um canal voltado diretamente para a área de investimentos e economia.
O que o público pensa?
Esse modelo se repete quando pesquisado “quais os podcasts mais ouvidos do Brasil”. Os primeiros sites que aparecem quando a barra de pesquisa é preenchida com essa frase, trazem opiniões pessoais que partem de um público consumidor da plataforma. O site zinecultural.com é o primeiro a aparecer trazendo uma relação de 24 podcasts que ele considera interessante de serem ouvidos.
As sugestões variam entre temáticas diversificadas, mas mesmo assim apenas 3 podcasts jornalísticos, entre 24 sugestões, são citados. Nesse caso o foco não chega a ser a quantidade, mas sim o veículo. O site em questão é gerido por pessoas pertencentes ao público geral, que têm interesse em saber mais, se o site aparece como primeira opção, significa que ele tem alcance, ele é influente.
A plataforma compartilha pensamentos de um grande público, e com dois cliques é possível perceber que esse pensamento não é favorável para o jornalismo de podcast. Apenas três programas jornalísticos em meio a outros 20 reafirmam a crença de que essa temática, dentro dessa plataforma, não agrada ao grande público.
Dentro da pesquisa do cupomvalido.com ainda foi feito o levantamento dos podcasts mundiais mais ouvidos e, para a surpresa de poucos, nenhum com temática jornalística alcançou o top 3 que pertence a: The Joe Rogan Experience, em primeiro lugar trazendo um conteúdo totalmente humorístico, em seguida temos o “Call Her Daddy”, um programa humorístico voltado para o público feminino, e em terceiro, Crime Junk, um podcast que conta a história de crimes reais.
Desinteresse geral
Programas voltados a entrevistas, entretenimento e a pautas culturais continuam sendo procurados de forma mais assídua do que os com caráter noticioso. Esse dado pode significar que o desinteresse existe de forma geral em diversas plataformas, e que o brasileiro perdeu o interesse pelo real. Se esse for o caso, é dever do jornalismo se tornar interessante de novo.
Essa forma de mídia pode ser um caminho para isso, mas ainda não alcançou a meta. Apenas com muita presunção é possível dizer que o jornalismo dentro do podcast está consolidado. O jornalismo ainda precisa correr muito para declarar os podcasts como uma plataforma jornalística ativa, sustentável e lucrativa.
Solução
O jornalismo de podcast não precisa ser o com a maior audiência, mas deve existir um público fiel. Um caminho para isso pode ser a utilização dos nichos, para que o público saiba onde procurar e o que vai encontrar. Mesmo que haja mais limitações dentro desse modelo, é melhor que haja um público fixo, do que público nenhum ou variável.
Gêneros como “true crime”, onde são abordados crimes e seus detalhes, têm crescido visivelmente. Se adaptados de forma correta, essa forma de entretenimento pode ser usada como ferramenta jornalística, e não apenas como um episódio de “CSI” em uma plataforma de áudio.
Podcasts no geral são um mercado em ascensão e a introdução da atividade jornalística nesse meio pode ser adaptada. Ainda existe solução para o fato de que não existe um jornalismo instaurado nos podcasts: é necessário mudar a abordagem e não se contentar com os números que são apresentados hoje.