O pânico em tempos de pandemia
- 14 de abril de 2020
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- Thamires Mattos
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A natureza humana é imediatista e isso tem garantido a sobrevivência
Ana Clara Silveira
Em 2020, a expectativa para um ano de conquistas foi interrompida pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). As Olimpíadas de Tóquio, Copa América, Eurocopa e outros eventos esportivos de grande escala foram transferidos para 2021. Além disso, shows foram cancelados; aulas, teatros e qualquer outro ponto de encontro, mesmo em pequenas cidades, estão à espera de uma trégua do isolamento social.
A família de vírus já registrava casos desde 1960 e costuma causar complicações no sistema respiratório. Em 2002, o SARS-CoV, cujo contágio foi registrado primeiro na China, infectou mais de 12 países, e, em 2014, o MERS-CoV atingiu principalmente países do Oriente Médio. No entanto, foi neste ano que sua nova mutação, causadora da doença conhecida como Covid-19, causou uma pandemia – nome dado a uma doença que se espalha rapidamente pelo globo. A primeira morte ocorreu na China, em 11 de janeiro de 2020. Em março, já tinha se espalhado por todos os continentes.
O cenário desconfortável costuma provocar a sensação de pânico. Muitas pessoas atribuem à imprensa o papel de disseminadora de um conteúdo alarmista e desnecessário. Estaria a mídia interessada na audiência e venda de jornais a todo o custo? Fato é que o descontrole das desinformações (fake News), programas sensacionalistas e governantes que descredibilizam o jornalismo praticado de maneira prudente e coerente desconstroem um senso crítico e maturidade da população tanto para averiguar, como confiar na informação que é divulgada pelas mídias sociais coerentes. Essa construção resultou em descuido e prepotência em pensar que as emissoras estariam potencializando uma doença que não mereceria tanta atenção. Por essa falta de “alarmismo”, o Brasil registra enquanto escrevo esse texto 116 mortes e 4006 casos, com a tendência de contágio ainda sem previsão de decrescimento.
Embora a crítica ao pânico seja comum, alguns fatores devem ser levados em consideração. A psicologia humana assegura que, para ter um comportamento correto em uma determinada situação, é necessário um nível de atenção e estímulo. Um fenômeno chamado Yerkes-Dobson faz um parâmetro que associa a produtividade ao seu nível de excitabilidade. Quantas vezes é possível realizar uma tarefa em um tempo mínimo após horas de procrastinação simplesmente porque o prazo para entrega está mais próximo? Embora exista um exagero provocado pelo sentimento de que não há saída, os cuidados redobrados podem ser mais positivos do que a ausência de disciplina ao lavar as mãos, manter distância e outras precauções.
Além disso, observa-se que os números de casos de dengue, por exemplo, também são expressivos. No entanto, as estratégias comportamentais que reduzem esse problema já são conhecidas, e, portanto, garantem uma previsibilidade. Enquanto o Covid-19 estiver em fase de estudos, é necessário manter as pessoas em alerta. A natureza humana é imediatista, e isso tem garantido a nossa sobrevivência. A Itália tentou ignorar o novo coronavírus e tranquilizar a população com campanhas publicitárias incentivando a continuidade normal das atividades. Dias depois, o caos estava instalado. Milhares de mortos. Um erro sem volta.
No fim, o pânico é válido. Embora traga alguns transtornos e exageros, as precauções em excesso podem ser um escape em tempos de crise e instabilidade. A mesma adrenalina que faz com que animais fujam de seus predadores pode ser a solução para a pandemia de Covid-19.