
O novo símbolo do conservadorismo bolsonarista
- 2 de abril de 2025
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- Theillyson Lima
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O sucesso do Frei Gilson que tem incomodado alguns e levado palavras de esperança para outros.
Nátaly Nunes
O sol ainda não apareceu. São quatro da manhã e milhares de fieis já estão acordados e reunidos em uma live para realizar a oração do Santo Rosário junto com o Frei Gilson, que ama dormir, mas não ironicamente suas lives são tão cedo assim porque é Quaresma, tempo de renunciar suas próprias vontades. Reza, louvores, interação com o público, pregação e uma missa para finalizar. Agora, já são aproximadamente nove da manhã. Ele se despede e os espectadores estão prontos para continuar o dia e seguir com sua rotina.
Em números, mais de sete milhões de inscritos no YouTube, a principal plataforma para assistir às lives e que já acumula mais de um bilhão de visualizações. Somando Instagram, TikTok e o canal de informações no WhatsApp, já ultrapassam dez milhões de seguidores.
E nem precisa de muita apresentação para saber que Gilson da Silva Pupo Azevedo, mais conhecido como Frei Gilson, está com um super engajamento e leva para seus milhares de seguidores e curiosos a palavra de Deus. Logo, um Frei fazendo todo esse sucesso e até ser comparado a um popstar no título da Revista Veja, com certeza chamou a atenção de todos. Não escrevi a frase anterior com “chamou a atenção de todos os católicos” ou “todos os cristãos”, pois vai muito além disso. E é essa diversidade de opiniões que vamos analisar neste texto.
A religião também é um tópico muito presente nas redes sociais, tal como esporte e política. Não vamos entrar no tema de que se esses assuntos devem ser discutidos ou não. Mas se é o que a mídia mais fala, por que silenciar análises mais profundas? Fato é que o canal do Frei, que postou seu primeiro vídeo há nove anos, não é o primeiro e nem vai ser o último a causar divergência no público.
As falas que não agradam a todos
Um dos assuntos mais comentados foi após uma live falando sobre as mulheres. Os sites trouxeram algumas frases do sacerdote resgatadas por internautas como “Essa é uma fraqueza da mulher, ela sempre quer ter mais […] Ela nasceu para auxiliar o homem“, no UOL e a CNN trouxe como recorte “Isso é a ideologia dos mundos atuais. Uma mulher que quer mais, vou até usar uma palavra que vocês já escutaram muito: empoderamento”.
No dia 16 de março deste ano o portal Metrópoles fez uma enquete perguntando se os internautas concordavam com essas falas referentes às mulheres, especificamente “a mulher nasceu para ser auxiliar do homem, não para ser líder”. Nos resultados, de 2.473 leitores, 18,4% responderam que sim e 81,6% responderam que não concordam.
Frases ditas em lives, como: “Não permitais, senhor e rainha de Nazaré, que os erros da Rússia venham a assolar o Brasil, como bem afirmou Nossa Senhora em Fátima” foram atacadas por grupos de esquerda por serem anticomunistas.
A alegação que não pode ficar de fora e talvez deixar um ponto de interrogação em alguns é a “oração do golpe”. O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, que foi citado no relatório final da PF sobre o golpe de Estado, enviou mensagens no WhatsApp de Gilson com nomes de generais e do Ministro da Defesa pedindo oração por eles e alertou para ele enviar a lista de oração apenas para pessoas de confiança. José Eduardo relatou que a conversa tinha apenas cunho de apoio espiritual, e não tinha ligação com o golpe.
Obviamente, no meio de tantas informações existem as fake news. Uma delas ,que circulou nas redes sociais, foi um vídeo no qual o secretário de Assistência Social de Várzea Grande, Gustavo Henrique Duarte, brigava com agentes da Polícia Federal. O secretário e o Frei tinham características físicas parecidas e estavam espalhando que era Gilson discutindo com os oficiais.
Uma das únicas vezes que ele se pronunciou em suas redes sociais foi sobre a acusação, feita pelos próprios católicos, por estar criticando o uso de imagens sacras. O líder esclareceu em um vídeo que o corte do sermão foi tirado de contexto.
Ataque e defesa, esquerda e direita
Enquanto a esquerda atacava, a direita abraçava ou de acordo com o portal UOL “viu uma oportunidade”. E escrever aqui que a direita o abraçou/apoiou, não anula o que alguns portais estão dizendo dando a entender que o próprio Gilson foi em busca desse “abraço”, como se fosse um objetivo ser notado e ainda por cima veiculado a política. Mas isso veremos depois de comentarmos um pouco mais sobre a reação da esquerda e da direita frente às polêmicas.
Sobre o vídeo relacionado às mulheres, a deputada federal Tábata Amaral postou um vídeo em suas redes sociais se identificando como católica, porém, criticando as falas do Frei, dizendo que não representa a igreja que ela pertence.
A BBC trouxe uma entrevista com um antropologista que considerou a ação da esquerda em atacar as falas muito precipitadas, pois falas conservadoras de um cristão já são esperadas e que Frei Gilson tem o direito de defender suas pautas religiosas. Ao criticar o clérigo a esquerda pode trazer prejuízos políticos.
Em contrapartida, ele foi defendido até mesmo por grandes representantes da direita. O ex-presidente Bolsonaro chegou a conclusão de que esses ataques vem porque ele é um “fenômeno em oração, juntando milhões pela palavra do Criador”. O deputado Nikolas Ferreira se solidarizou e não se viu surpreso com os ataques. Houve até uma iniciativa do deputado Paulo Bilynskyj com um projeto de lei que visa criminalizar ataques religiosos nas redes sociais.
O portal Metrópoles relembrou das diversas vezes que as redes sociais do líder religioso foram bloqueadas, nas quais os aplicativos alegavam que ele estava transgredindo as regras da plataforma. A deputada federal Bia Kicis usou o termo “cristofobia” e afirmou que essa censura está calando os fiéis.
O novo sinônimo da direita é…
Existem vários ataques alegando que Gilson estava ligado ao bolsonarismo. Um ponto a ser levado em conta, pois em nenhum momento ele demonstrou algum apoio. Atualmente, ao defender a bandeira do conservadorismo, a única conclusão que as pessoas chegam é: bolsonarismo! Agora, demonstrar opinião sobre um recorte de assunto, carrega necessariamente um representante político.
Como resultado dessa associação, o sacerdote católico apagou ou colocou em privado mais de 2 mil vídeos de seu canal do YouTube. O jornal Estadão, ao procurar a assessoria do Frei, recebeu como resposta que ele está focado na Quaresma e que não vai comentar sobre a remoção dos vídeos. Entre reflexões espirituais e bíblicas, a maior quantidade de conteúdos ocultos foi do ano de 2022, ano das eleições.
Propositalmente ou não, Frei Gilson é um belo exemplo de que o conservadorismo, na mente do povo, não está mais andando nos trilhos de algo que remete a característica conservadora, a quem está ligado a preservação de costumes e valores, e sim a um único pretexto: o bolsonarismo. Ser uma figura influente é estar fadado a carregar fardos que muitas vezes seus próprios influenciados trouxeram.