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O corpo esfria, a imagem esquenta

  • 14 de maio de 2025
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  • Theillyson Lima
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Aquela vez que o papa que vendeu o céu em HD

Vefiola Shaka 

Quando um papa morre, o mundo se cala e os jornais se apressam em falar. Com muita pressa querem enterrar ele, selando seu legado antes que a poeira do luto baixe e as contradições comecem a se instalar. Com Francisco, não foi diferente. Seu corpo ainda estava quente e já havia manchetes como “Papa dos pobres”, “Papa da paz”, “Papa pop”. 

Mas, quando se lê com mais atenção, algo incomoda: a mesma mídia que o elogia por sua bondade evita confrontar o que essa bondade realmente abordou ou, melhor dizer, o que não conseguiu mudar. A partir da análise de cinco artigos publicados por Vatican News, Veja, Italia Oggi, CNN e The New York Times, fica claro que a imprensa global se apaixonou por sua imagem e deixou de lado sua obra inacabada. O retrato de Francisco se torna um espelho que evita refletir o peso da estrutura e o fracasso da reforma. 

As vozes oficiais

O texto oficial do Vatican News poderia ter sido escrito por um anjo burocrata. O conteúdo é controle e reverência. O site do Vaticano evita qualquer sombra sobre o Papa, não há falhas, não há resistências, não há crise. Francisco aparece como o sucessor ideal, como se tivesse transformado a Igreja por decreto celestial. Mas o silêncio sobre os escândalos, as barreiras internas e a paralisia de certas reformas denuncia um texto mais voltado à liturgia da imagem do que à realidade histórica. Há quem confunda hagiografia com jornalismo.

Voltando para a mídia brasileira, a Veja escreve um texto sobre o legado do papa que é bonito de ler, mas é tão superficial quanto uma vitrine de shopping. A matéria se concentra na popularidade de Francisco e seus gestos. A simplicidade se torna um espetáculo e o carisma é apresentado como reforma. Mas a Veja parece não saber o que realmente mudou. Nem uma única linha sobre a resistência às suas propostas, a crise de credibilidade da igreja ou as limitações que o papa enfrentou. Francisco é apresentado como um sucesso de marketing, uma boa alma em um mundo cínico. Simplesmente se esqueceram de perguntar: e a estrutura? E a doutrina? E os porões da igreja? 

Jornais estrangeiros

Em meio à euforia generalizada, o jornal italiano Italia Oggi escreve com bastante clareza. Ao contrário dos outros, este jornal não tem medo de sujar as mãos. Expõe as fissuras internas, as armadilhas e a desilusão de uma parte do clero. Não trata Francisco como um milagreiro, mas como um reformador frustrado por uma máquina velha demais para mudar. Mostra que seu carisma não foi suficiente para superar o peso da tradição. Aqui, o legado é de conquistas e derrotas. E isso, talvez, o aproxime da humanidade que tanto pregou.

Continuando nas matérias internacionais, a CNN segue a lógica do consenso global: Francisco é necessário. O artigo destaca suas posturas humanitárias, seu papel como líder ético em um mundo em colapso, mas para por aí. O texto hesita diante da complexidade. Há uma tentativa de análise, mas o gesto se dissolve na busca pela universalidade. A crítica se torna um sussurro. A CNN quer agradar a fieis, progressistas, liberais e conservadores ao mesmo tempo. O resultado? Um papa com alta definição moral, mas que parece pairar acima das estruturas, sem nunca tocá-las. 

Dos cinco, o New York Times oferece o retrato mais equilibrado, porém, constrangedor. Reconhece as conquistas de Francisco, mas também destaca suas limitações e conflitos internos. É o único a mencionar a frustração das reformas inacabadas e os desafios que ele enfrenta dentro da igreja. A nuance, às vezes, descamba para a cautela excessiva. O texto pretende ser justo, mas termina quase neutro, como se temesse ofender o próprio legado que pretende analisar. Foi preciso coragem para dizer que talvez, apesar do esplendor externo, a estrutura tenha permanecido praticamente intacta.

Francisco será lembrado como o papa do gesto, da fala, do propósito. Mas a cobertura da mídia revela mais sobre os próprios jornais do que sobre ele. A imprensa parece fascinada pela superfície, e ela mesma prefere que seja assim. Falar sobre a imagem é fácil; difícil é afundar no peso das convulsões, na rigidez teimosia da instituição. O corpo esfria, mas a imagem permanece quente, circulando em alta definição nos obituários do mundo, imune à frustração que qualquer tentativa real de mudança carrega.

 

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