O assassino sem face
- 2 de setembro de 2019
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- Thamires Mattos
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O serial killer Zodíaco ganhou mídia graças a seu ímpeto pela publicidade própria
Amanda Ferelli e Kevin Dantas
Era 20 de dezembro de 1968, quando dois jovens, Betty Lou Jensen, de 16 anos, e David Faraday, de 17, foram alvejados com 10 disparos de uma pistola .22. Foram as primeiras vítimas confirmadas daquele que mais tarde se tornaria conhecido como “Zodíaco”. Dois anos antes, uma pessoa foi morta a facadas e em Riverside, Califórnia. Este caso, porém, é questionado por alguns especialistas sobre sua ligação com o Zodíaco. O assassino atuou entre dezembro de 1968 e outubro de 1969 no Norte da Califórnia. Tem em seu histórico sete mortes confirmadas, dois feridos, e de 20 a 28 mortes atribuídas a ele (apesar de ter afirmado que matou 37 pessoas).
O serial killer ganhou mídia graças a seu ímpeto pela publicidade própria. Sentia prazer em jogar com a mídia e a polícia. Enviava aos jornais enigmas e cartas a fim de os guiar por labirintos sobre ele mesmo. Após efetuar um crime, informava a polícia e clamava autoria. No primeiro momento onde ganha mais publicidade, ele envia 3 enigmas diferentes para 3 jornais de lugares distintos. Nesses enigmas, clama autoria por crimes e faz ameaças. Começa então a caçada pelo criminoso.
Os personagens principais dessa história, retratada pelo filme “Zodíaco” (2007), são o jornalista Paul Avery e o cartunista Robert Graysmith. O roteiro da obra cinematográfica de David Fincher foi baseado no livro “Zodíaco”, de Graysmith. Durante o filme, podemos acompanhar a obsessão do cartunista com o caso. Por várias vezes, o mesmo tenta desvendar os enigmas enviados aos jornais e interpretar o que o assassino pretendia dizer. No filme, Graysmith consegue até estabelecer uma conexão entre uma frase de uma das cartas do Zodíaco com o conto “O jogo mais perigoso” (em inglês, “The most dangerous game”) –, que justificava a caça por seu personagem identificar-se como superior aos animais. Ainda no conto, o personagem comete assassinato e é justificado pelo mesmo motivo.
O Zodíaco possuía a mídia em suas mãos. Em suas cartas, exigia que as mesmas fossem publicadas para que outros assassinatos não viessem a acontecer. Com base em ameaças, conseguia fazer com que os três jornais escolhidos publicassem as descrições e os detalhes de seus assassinatos, bem como o que faria nos próximos ataques. Em uma dessas ameaças, disse que iria colocar uma bomba em um ônibus escolar. Os ataques não aconteceram, e suas ameaças publicadas serviram apenas para chamar atenção para os seus feitos e aterrorizar a população.
No longa, o cartunista Graysmith, interpretado pelo ator Jake Gyllenhaal, aparece tirando seu filho do ônibus escolar e optando por levá-lo até a escola, com medo que as ameaças do Zodíaco se concretizassem. Neste caso, a culpa pelo medo instaurado na população não pode cair sobre a mídia. As publicações eram impostas por meio de ameaças e os conteúdos publicados não foram usados para reconhecimento dos jornais. Inclusive, as autoridades acompanhavam as publicações para que nada fosse manipulado.
Sobre o trato da mídia no caso, foram muitos os momentos de harmonia e cooperação, onde o diálogo entre eles era presente. Porém, também houve atrito, já que o tempo passava e não se encontrava o culpado. A imprensa começa então a cobrar a polícia por uma solução.
Durante a investigação, houve um suspeito que se destacou. Em 1991, as autoridades desconfiavam de Arthur Leigh Allen, um ex-professor da Califórnia. Suas fotos foram reconhecidas por sobreviventes dos ataques e materiais explosivos foram encontrados em sua residência. Leigh também tinha um histórico questionável por acusações de molestar crianças. Além disso, os outros palpites levantados giravam em torno do seu conhecimento do conto citado e sua preferência pela marca Zodiac de relógios. Contra Leigh, estavam também os relatos de Don Cheney, seu amigo pessoal. Cheney afirmava que Leigh havia mencionado o desejo de matar casais aleatoriamente, provocar a polícia enviando cartas detalhando seus crimes, assinar suas cartas com o símbolo do seu relógio e ser chamado por “Zodíaco” em um futuro próximo e outras descrições que combinavam com as ações do serial killer – tudo isso sob a premissa de estar escrevendo um romance.
A favor de Leigh, estavam incongruências nas evidências. Digitais, DNA e escrita não batiam com as apresentadas pelo assassino. As suspeitas não foram suficientes para condenar Arthur Leigh Allen, e ele faleceu sem ser indiciado em 1992. Mas, assim, como os enigmas do Zodíaco, o caso permanece até hoje sem solução.