A hipocrisia de Bill Gates
- 25 de agosto de 2021
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A filantropia de Bill Gates é uma tentativa de limpar a desordem que ele mesmo ajuda a criar
Adalie Pritchard
William Henry Gates III, além de estar na lista de bilionários da Forbes e ser um cofundador da Microsoft, é youtuber. No seu canal, ele aborda temáticas como aquecimento global, soluções bio-técnicas ao Alzheimer, educação, e até dicas de leitura, entre outros vídeos para promover as ações filantrópicas da Fundação Gates.
É difícil ver o panorama completo sobres as prioridades de Gates com as informações que estão disponíveis para nós. Neste ano, escutamos muito sobre o divórcio de Bill e Melinda Gates, mas o alarmante foram os motivos da separação. Melinda revelou ter preocupações sobre a relação do seu marido com Jeffrey Epstein, bilionário acusado de tráfico sexual de menores, além de um caso que teve com uma empregada. A relação de Gates com Epstein não é de forma alguma uma amizade casual, pois Melinda expressou que se incomodou com o financista e criminoso sexual a mais de dez anos antes da sua convicção e escandaloso suicidio na prisão.
Não que essas informações não sejam importantes, mas ao ser o único viés sobre a celebridade, podem distrair o público de informações que o afetam diretamente. O divórcio, no fim das contas, é um assunto da vida privada dos indivíduos envolvidos. A mídia está cheia de informações sobre o evento, e quando não, falam sobre ações filantrópicas da Fundação Gates. No entanto, as massas tem apenas conhecimento superficial sobre os investimentos do cofundador da Microsoft. É mais fácil dar notícias boas do que entender os números que podem revelar suas verdadeiras intenções.
Bill Gates: o fazendeiro
Bill Gates investe diretamente na indústria de combustíveis fósseis. Ele é o maior acionista em uma das maiores empresas de petróleo e gás do Canadá, a Canadian National Railway, enquanto a Microsoft também tem ligações diretas com as indústrias de petróleo e gás, entre outras empresas gigantescas. A vastidão do império nestas indústrias resulta contraditória com a imagem que ele deseja transmitir nas plataformas digitais e no seu recente livro “Como evitar um desastre climático”.
No ano de 2020, Bill Gates decidiu investir em propriedades agrícolas. Atualmente, ele é o maior proprietário privado dessas terras nos Estados Unidos, deixando os agricultores americanos sem esperanças para lutar contra o bilionário. As terras agrícolas, em quase 20 estados do país, cultivam vegetais como cenoura, soja e batata, se tornando o lanche do McDonald’s que todos comem.
As soluções do filantropo ante a crise climática são abordadas com uma mentalidade de “solucionismo tecnológico”, termo cunhado pelo autor do livro To save everything click here, Evgeny Morozov. Quer dizer que Gates demonstra optar por soluções tecnológicas, talvez porque consegue tirar lucro delas. Como, por exemplo, as patentes de alimentos sintéticos hiper-processados como substituto da carne de boi. Esses “alimentos” não são tão melhores para o meio ambiente, pois seu desenvolvimento requer muita água, produz a mesma quantidade de emissões que as aves e cinco vezes as emissões de vegetais e legumes.
Gates, assim como a maioria das super empresas, ainda tenta culpar-nos como indivíduos. Seus vídeos criativos tentam nos dizer como fazer nossa parte como consumidores, sendo que ele é fonte dos bens e serviços que requerem grandes emissões de gases do efeito estufa para sua produção. É tentador cair na armadilha de tomar uma culpa que não é totalmente nossa.
A Fundação de Bill e Melinda Gates fornece subsídios generosos a jornais importantes como The Guardian, BBC e Al Jazeera, por exemplo. Seria muito fora da realidade assumir que esse poderia ser um motivo pela parcialidade de uma parte da mídia? A filantropia parece ser uma tentativa de limpar a bagunça que o empreendedor ajudou a criar. Até parece que a única maneira de ganhar o poder necessário para fazer uma diferença positiva, é fazer o oposto primeiro.