Em nome da corrupção
- 13 de março de 2024
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- Theillyson Lima
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O ser humano nasce bom, mas sua ganância o corrompe.
Yasmim Larissa
Você já se perguntou qual é a definição de um pastor? De forma literal, um pastor é alguém que dedica sua vida a cuidar de animais como ovelhas, mas também podemos usar esse título para “ministros do evangelho” quando atribuído a uma religião do cristianismo. Afinal, ambos como autoridade confiável e respeitável no ambiente, possuem a função de cuidar dos interesses dos envolvidos. O problema acontece quando aquele que ocupa tal posição, deixa de cuidar dos interesses de seu “rebanho” e começa a praticar atos desonestos a fim de obter benefícios de ganho pessoal.
Quando ocorre um escândalo de corrupção envolvendo uma autoridade, a mídia corre para ser a primeira a dar o furo, mas será que essa mesma velocidade é utilizada quando o objetivo é informar seu público sobre tal situação envolvendo as igrejas evangélicas? Nesse texto, vamos analisar como os veículos de comunicação abordam casos de corrupção envolvendo igrejas evangélicas e suas autoridades.
Grandes escândalos
Quando uma notícia sobre corrupção envolvendo o nome de líderes evangélicos é divulgada, não somente a reputação das instituições envolvidas é abalada, mas também, diversos fiéis começam a questionar suas próprias crenças.
No Brasil, não é novidade a informação de que as igrejas são isentas de impostos e, para muitos, esse é o ponto principal que seduz os olhos do ser humano e traz a corrupção para dentro desses templos, a fim de obter benefícios de interesses próprios. O filósofo Jean-Jacque Rousseau já havia alertado que as ações do homem são o reflexo do meio o qual o indivíduo está inserido, com sua marcante frase “o ser humano nasce bom, a sociedade o corrompe”.
São diversos os casos de corrupção envolvendo líderes religiosos, e de forma alguma se limitam a uma religião ou país específico. Um dos casos, conhecido como “Operação Timóteo”, é a denúncia da Polícia Federal de que o pastor Silas Malafaia faria parte de um esquema de lavagem de dinheiro, caracterizado pela realização de contratos fraudados com empresas de exploração mineral.
Existem outros casos, como o de Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, que já foi acusado juntamente de outros líderes por sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito; o apóstolo Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, acusado de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Uma das investigações mais recentes que obtiveram grande repercussão foi o “Escândalo do MEC”, que eclodiu em 2022 e revelou um esquema do ex-ministro da educação, Milton Ribeiro, com Arilton Moura e Gilmar Santos, dois pastores.
Gabinete paralelo
O Ministério da Educação é um órgão governamental responsável pela educação do país, aqueles que ocupam a cadeira como ministro possuem vínculos com o setor de ensino ou cargos públicos, como foi o caso do pastor presbiteriano e professor Milton Ribeiro. Quando se trata dos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, não havia esse vínculo. Mesmo assim, a dupla foi flagrada cerca de 28 vezes, entre 2019 e 2022, na sede administrativa do governo, o Palácio do Planalto.
O esquema veio a público após uma reportagem do Estadão apontar que pastores comandavam a agenda do ministro, formando um tipo de gabinete paralelo que interferia na liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação(FNDE) para as prefeituras, cobrando propina em dinheiro, Bíblias superfaturadas e até barras de ouro. Dias depois, um áudio do ex-ministro é revelado pela “Folha de São Paulo”, no qual Ribeiro afirmava que só fazia esse repasse de verbas indicado pelo pastor Gilmar Silva, por ter sido um pedido do atual presidente naquele ano, Jair Bolsonaro.
Com tal prova em jogo, Milton deixou o cargo de ministro da educação, sendo o quarto a sair de tal função durante o mandato de Bolsonaro. Isso não evitou que o mesmo fosse preso, junto com o pastor Arilton e Gilmar, por dois dias durante a investigação.
A cobertura mais completa veio do Estadão, sendo um dos veículos jornalísticos principais a publicarem diversas reportagens sobre o escândalo. Suas entrevistas trouxeram pessoas em cargos consideráveis para o caso, como pastores e políticos que receberam a oferta, mas recusaram se envolver no esquema de propina. Enquanto veículos como o Estadão fizeram até uma série de investigações sobre o caso, vencendo em uma das principais categorias do prêmio IREE de jornalismo, houve quem preferiu não dar muitos detalhes da situação.
O dever com a informação
Um exemplo disso é a Record, que utilizou de frases como “prefeito de Boa Esperança do Sul (SP), Manoel do Vitorinho (PP), afirmou nesta quinta-feira (24) que o pastor Arilton Moura pediu a ele uma propina”, levando o leitor a questionar o denunciador e não o denunciado. É de se questionar se o proprietário da terceira maior emissora de televisão do Brasil, Edir Macedo, não interferiu na abordagem utilizada pelos jornalistas, afinal, além de ser o responsável pelo grupo Record, Macedo também é um bispo evangélico, televangelista e líder da Igreja Universal do Reino de Deus. Vale lembrar que em 2022, o bispo usou suas redes sociais para demonstrar seu apoio ao governo Bolsonaro.
Infelizmente, casos de corrupção nas igrejas evangélicas tem se tornado cada vez mais comuns, principalmente quando relacionadas ao governo. As autoridades desonestas, pensando apenas em benefício próprio, acabam deturpando a imagem que grande maioria das igrejas buscam deixar.