E elfo, existe?
- 16 de novembro de 2022
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- Theillyson Lima
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Em um universo totalmente ficitício, um elfo negro é quem não pode existir.
Camilly Inacio
A série “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder” (com o título original “The Lord of the Rings: The Rings of Power”) teve o primeiro episódio lançado no dia 1 de setembro de 2022, desde então, muitas discussões têm sido levantadas, tanto sobre a série, quanto sobre pautas sociais percebidas a partir dela.
Fazendo parte do universo de Senhor dos Anéis, escrito por J. R. R. Tolkien, a trama não foi escrita escrita diretamente pelo autor, apesar disso, não foge da realidade e das características oficiais expostas nos livros.
Sobre o personagem
Desde seu lançamento, a série tem dado o que falar. Dentre os motivos está o personagem Arondir, um elfo negro. Em todas as produções visuais do universo lançadas até o momento, esse é o primeiro personagem negro pertencente a essa raça.
Arondir é um dos personagens criados especificamente para a série. Ele é um dos elfos que resolveram migrar para outras regiões da Terra Média após o fim de uma guerra contra os inimigos Morgoth e Sauron.
O personagem tem um relação próxima com Bronwyn, uma humana da vila que ele vigia junto com um grupo de elfos. Eles mantêm um romance secreto considerado proibido, mas a parceria dos dois é o que ajuda a vila de Bronwyn a superar alguns dos desafios encontrados durante a trama.
Mas Elfo nem existe!
Após a divulgação de que existiria um elfo negro na série, muitos fãs se manifestaram contra esse personagem, e afirmaram que elfos negros não existem. No entanto, estamos falando sobre um universo totalmente fictício cheio de personagens e “raças” que, em si, não existem. Então, como afirmar que não existe um elfo negro, quando nem os próprios elfos existem?
Essa se tornou a série mais cara da história, e sua produção teve supervisão e aprovação do “Tolkien Estate”, órgão que administra a propriedade do escritor, incluindo a maior parte dos direitos autorais. O instituto é composto pelas pessoas de maior autoridade e conhecimento sobre os livros e histórias escritas nesse universo. Então, tendo em vista a validade da série, e a aproximação da realidade criada pelo escritor inglês, entendemos que as histórias e personagens que aparecem durante os episódios, bem como suas características, são incontestáveis.
Para explicar a existência de um elfo negro na série, levamos em consideração as características apresentadas por Tolkien sobre os seres existentes no universo criado por ele. É importante lembrar que em nenhum momento ele afirma que os seres élficos eram brancos. Mas curiosamente, ele também não afirma em nenhum dos livros que tais seres tinham orelhas pontudas.
Todavia, desde os primeiros filmes, essa raça foi foi apresentada com a forma pontuda das orelhas, mas isso não foi contestado pelos fãs. Entre as características deixadas por Tolkien em seus livros, os elfos eram fortes, mas leves. Sendo extremamente rápidos, imponentes, áureos e sempre transmitindo uma sensação de serenidade.
Sendo assim, todas essas características tratam-se de uma liberdade artística, que não contradiz o “original”, ou seja, o que foi dito pelo próprio autor em seus livros sobre os elfos apresentados nos filmes e séries do universo.
Isso significa que os comentários contrários à existência de um personagem negro da raça élfica se trata apenas preconceito contra a cor de pele do ator Ismael Córdova. Ou seja, se trata de racismo.
Negro e latino
O ator tem 35 anos e veio de Porto Rico. Ele começou sua carreira aos 15 anos e já fez parte do elenco fixo série infantil, Vila Sésamo. Também esteve presente em “The Good Wife” e “Berlin Station”. Em Anéis de Poder, sua atuação como Arondir, foi extremamente elogiada. Mas apesar de ser um ator que se apresenta promissor, sua aparição como elfo negro gerou muita controvérsia.
Essas manifestações ofensivas são a prova que ressalta o preconceito contra negros, e nesse caso, contra a comunidade latina. Em um post no instagram, Ismael escreveu um texto sobre seu “sonho de ser um Elfo”. Durante o texto ele conta que o sonho élfico parecia uma impossibilidade, pois as pessoas riam e diziam: “Você não pode ser um elfo. Não existem Elfos Negros. Não há elfos latinos”. Mas ao longo do texto ele conta que manteve o sonho vivo.
O texto termina com sua conquista que inspira a outras pessoas que sofrem por sua cor ou raça. “E aqui estou eu. Negro, latino, porto-riquenho, orgulhoso e élfico. É melhor você pegar aquela flecha e mirar o mais alto que puder”, finaliza o ator.
Comunicado oficial
Entre muitos comentários racistas afirmando que Elfos negros não existem e ofensas ao próprio ator, os produtores destacaram a importância da diversidade. Além disso, um comunicado oficial divulgado pela conta da franquia, o elenco de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, decidiu se posicionar contra os comentários racistas feitos desde a estreia.
Essa é a primeira vez que, por conta de problemas dessa natureza, uma franquia se posiciona junto de seu elenco para se opor aos comentários ofensivos de fãs (ou haters).
O texto começa dizendo que o elenco está junto em solidariedade e contra o racismo implacável, ameaças, assédio, e abuso que alguns dos colegas estão sendo sujeitos. “Nós nos recusamos a ignorar ou tolerar esse tipo de comportamento”, eles afirmam.
Durante o texto é reforçada a ideia que o mundo criado por Tolkien é multicultural, feito para derrotar as forças do mal. Eles afirmam “a Terra-Média não é toda branca”. Na parte final eles agradecem aos fãs que estão apoiando e reforçam a validade e qualquer pessoa integrante da família de O Senhor dos Anéis. A declaração é encerrada pela palavra élfica equivalente ao “adeus’, “namárië”.
Portanto, ao analisarmos a validade da série e de seus personagens, bem como a qualidade dos mesmos, olhamos para essas pessoas que se manifestaram contra um elfo negro, apenas por sua cor, e percebemos que tais pessoas tem perpetuado uma luta que é travada há muito tempo.
Essa luta contra o preconceito, racismo e falsos estereótipos foi reforçada por pessoas que não estão realmente interessadas em ter a validade de acordo com os escritos de Tolkien, pois os escritos provam o contrário.