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O papa é catolicismo, o papa é política, o papa é tudo

  • 14 de maio de 2025
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  • Theillyson Lima
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Mesmo não sendo uma figura de autoridade para muitos, o Papa impacta questões políticas, econômicas e sociais.

Gabrielle Ramos 

Marsílio de Pádua escreveu entre os séculos XIII e XIV que não é função da Igreja governar. Essa reflexão marcou um momento significativo da tensão entre Estado e Igreja, que se estendeu por séculos até a consolidação da separação entre essas instituições. Mesmo assim, é possível perceber que a influência da Igreja Católica permanece forte em várias partes do mundo. 

A comoção provocada pela morte do papa Francisco, em 21 de abril deste ano, é um exemplo claro disso. A notícia ocupou por dias o maior espaço nos principais portais de notícia do Brasil, o que mostra a relevância do catolicismo no país. Mas será que essa força é percebida com a mesma intensidade em outras partes do globo? E entre aqueles que seguem outras religiões, ou mesmo entre os que não tem nenhuma?

A análise deste texto tem como objetivo compreender se a influência do papa vai além do aspecto religioso e, em caso afirmativo, qual é a relevância disso no aspecto global.

Mais que uma figura religiosa

Atualmente, há 1 bilhão e 406 milhões de católicos no mundo, segundo a última edição do Anuário Pontifício 2025. Quase metade desse total está concentrada nas Américas, e dentre os países com maior presença católica, o Brasil continua sendo o maior.

O papa é a principal autoridade espiritual e moral para essas pessoas. Entre suas funções de liderança, uma das mais importantes é a infalibilidade papal, que o permite fazer pronunciamentos definitivos sobre questões doutrinárias. Além disso, exerce autoridade sobre a administração e a organização da Igreja em âmbito global.

Ou seja, é evidente que, para os católicos, a figura do papa é de extrema importância. Afinal, não há católico praticante que não saiba quem ele é, quais são suas funções e qual o seu papel na Igreja. Diante disso, torna-se compreensível o grande impacto causado pela morte do papa Francisco entre os fieis.

Mas se engana quem pensa que essa influência se limita à esfera religiosa. Desde que o papa também exerce o cargo de chefe de Estado do Vaticano, um pequeno território soberano situado na Itália, ele passa a ter, inevitavelmente, também um papel político. Ou seja, embora a decisão para eleger um novo papa seja um processo religioso da Igreja Católica, também envolve esta dimensão, já que um Estado soberano não pode permanecer sem um representante oficial.

Como o papa molda debates globais

Diante disso, além dos aspectos governamentais do próprio Vaticano, a influência do papa também se estende ao cenário global, de forma semelhante ao papel desempenhado por presidentes e outras figuras representativas no debate internacional.

Isso ficou evidente ao longo do papado de Francisco, que esteve à frente da Igreja durante um período marcado por intensas reviravoltas no cenário global. Ao longo desses anos, ele se posicionou sobre questões como migração, guerras, mudanças climáticas e desigualdade social. Além disso, a Santa Sé, jurisdição suprema da Igreja Católica, mantém observadores permanentes nas Nações Unidas e relações diplomáticas com diversos países a fim de discutir sobre esses assuntos.

Um exemplo recente do alcance dessa influência foi quando, no ano passado, a Santa Sé bloqueou uma discussão sobre os direitos das mulheres durante a cúpula climática da ONU. A justificativa envolveu um impasse em torno de questões de gênero e sexualidade. Apesar das críticas, esse episódio mostra o poder da Igreja e, consequentemente, do papa na condução de acordos que impactam milhões de pessoas.

É justamente por conta dessas ações que o processo de escolha de um novo papa costuma atrair atenção política. “Artigos recentes têm transformado o conclave em uma espécie de eleição presidencial fora de época”, destaca uma matéria da Gazeta do Povo.

Não surpreende, portanto, que diversos veículos discutam o perfil ideológico dos principais candidatos, classificando-os como progressistas ou conservadores. Isso pode ser observado na manchete da Folha de S.Paulo: “Esquerda brasileira perde trunfo com morte de papa Francisco, apontam especialistas”.

Além da mídia tradicional, comentários e postagens nas redes sociais têm exercido um papel ainda mais presente neste conclave, diferente de edições anteriores. Isso tem contribuído para a polarização ao dividir os possíveis candidatos segundo suas crenças e posicionamentos, o que politiza ainda mais o processo.

Este texto não tem como objetivo julgar se essa politização é certa ou errada, afinal, a escolha de um papa é, essencialmente, uma questão religiosa. É justamente por isso que o conclave ocorre em regime de reclusão, sem contato com o mundo exterior, a fim de evitar influências externas. Ainda assim, não se pode ignorar que o posicionamento do futuro papa diante de certas questões terá impacto político e influenciará os rumos da Igreja Católica.

Francisco, por exemplo, adotou uma agenda que incluía inclusão social, cuidado com o meio ambiente e ética. Por isso, era considerado por muitos, incluindo grupos LGBTQIA+, como um líder progressista. Embora sua postura tenha atraído fieis de diversas partes do mundo, também gerou oposição entre os setores mais conservadores da Igreja.

Economia de Francisco

O mesmo se aplica ao aspecto econômico. Francisco durante o seu papado demonstrava preocupação com a economia dos países em desenvolvimento. Por isso, criticava o consumismo e participava ativamente de discussões sobre desigualdades sociais e econômicas.

Esses posicionamentos não ficavam apenas no campo discursivo. Em 2019, ele lançou a iniciativa “Economia de Francisco”, um movimento que reuniu jovens economistas e empreendedores com o objetivo de promover um modelo econômico mais humano e sustentável. A proposta era chamar a atenção para os limites do planeta e a necessidade de um consumo mais consciente.

A atuação do pontífice também se estendeu ao acolhimento de refugiados, especialmente na Europa. Ao incentivar diversos países a adotarem políticas mais humanitárias, sua influência impactava, inclusive, os gastos públicos e as políticas fiscais de várias nações.

Além de afetar a economia de países inteiros, o papa mesmo após o falecimento pode influenciar até mesmo a vida financeira de pessoas que, a princípio, não acompanham diretamente seu trabalho. Segundo uma análise publicada pelo TradingView, a morte de Francisco pode levar investidores a buscarem ativos mais seguros. No dia do conclave, é provável que haja instabilidade nos mercados e empresas que atuam no setor de turismo religioso também podem ter seus lucros afetados. 

Papa para não católicos

Apesar de Estado e Igreja serem instituições distintas e atuarem separadamente, símbolos religiosos ainda são utilizados para legitimar pensamentos e posicionamentos políticos. Mas o papa não é a única figura que mostra essa relação, no Brasil, durante o governo de Jair Bolsonaro, foi possível perceber como aspectos religiosos foram frequentemente mobilizados para justificar determinadas ações.

Em um país com forte presença evangélica, como o Brasil, a figura do papa é normalmente conhecida. No entanto, seu posicionamento não reflete autoridade espiritual ou moral entre outras denominações, como os evangélicos. Isso pode gerar repercussões diversas, positivas ou negativas.

Um exemplo disso foi a permissão dada por Francisco para realização de casamentos entre casais homoafetivos. Esta decisão afastou ainda mais parte significativa dos evangélicos de sua liderança, em grande medida por conta do perfil social do pontífice e de sua afinidade com a Teologia da Libertação, uma vertente do cristianismo que busca a promoção da justiça social a partir da fé. Por esse motivo, ele costuma ser associado à esquerda por setores mais conservadores.

Não por acaso, após sua morte, lideranças evangélicas de destaque no Brasil, como o bispo Edir Macedo, o pastor André Valadão e o pastor Silas Malafaia, optaram pelo silêncio diante da notícia. Por outro lado, algumas figuras lamentaram sua morte mais pelo aspecto humano do que pelo papel religioso que ocupava. Um exemplo é o ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a divergir de Francisco quando o papa defendeu “uma Amazônia que lute pelo direito dos mais pobres”, mas ainda assim fez questão de prestar uma homenagem em redes sociais.

Essas reações revelam como a relação dos evangélicos com o papa pode ser, muitas vezes, ambígua e até controversa. Por outro lado, em diversas regiões do mundo onde o catolicismo não é a religião dominante, como países de maioria hindu, islâmica ou budista, o papa é visto como uma figura distante. Nesses contextos, líderes da ONU, ativistas, cientistas e celebridades tendem a ter maior influência prática, especialmente nas redes sociais e na opinião pública mais jovem.

Ainda assim, em temas como meio ambiente, pobreza e direitos humanos, Francisco conseguiu dialogar não apenas com outras religiões, mas também com pessoas não religiosas. Uma pesquisa global de 2015, da WIN/Gallup International diz que 51% dos ateus e agnósticos enxergavam o papa de forma positiva.

Assim, durante seu papado, ficou claro que sua atuação humanitária tinha alcance amplo. Um episódio marcante foi quando, em meio a suas falas sociais, o presidente cubano Raúl Castro, conhecido por ser ateu, afirmou: “Se o papa continuar falando assim, mais cedo ou mais tarde, voltarei a rezar e retornarei à Igreja Católica”.

Segundo o padre Luís Corrêa Lima, professor de Teologia da PUC-Rio, em entrevista à BBC, Francisco conquistou os não católicos e os não crentes por ter se mostrado, desde o início, um papa aberto ao diálogo, e não uma figura divisiva. A própria escolha de seu nome já refletia um compromisso com os pobres e marginalizados. Pois é uma homenagem a São Francisco de Assis, santo conhecido pela humildade, amor à natureza e compaixão pelos pobres.

No entanto, um novo papa pode adotar uma visão diferente e transformar completamente o legado deixado por Francisco. Por isso, seja ao incentivar causas humanitárias ou ao bloquear discussões, as ações do pontífice e da Igreja Católica continuam moldando discussões globais, inclusive entre evangélicos e ateus.

 

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