
Fernanda Torres: da irreverência brasileira ao reconhecimento internacional
- 5 de março de 2025
- comments
- Theillyson Lima
- Posted in Análises
- 0
A atriz ganhou visibilidade mundial com o prêmio do Globo de Ouro e concorreu ao Oscar.
Raíssa Oliveira
Tudo começou em janeiro deste ano, mais especificamente na madrugada do dia 6, quando Fernanda Torres subiu ao palco para receber o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama. O prêmio, considerado o segundo mais importante de Hollywood, era inédito para o Brasil na categoria e veio como reconhecimento à sua notável performance no filme “Ainda Estou Aqui”. O impacto foi imediato nas manchetes do mundo inteiro que destacavam a sua conquista, enquanto os brasileiros, encantados com o seu talento, ansiavam pelos próximos capítulos e deduziam possíveis trajetórias de sucesso.
E o que era esperado, ao menos para os brasileiros, aconteceu. No final do mesmo mês, a notícia que mudaria o rumo do cinema nacional repercutiu mundialmente assim que o filme ganhou três indicações ao Oscar, sendo uma delas exclusiva para Fernanda e seu trabalho.
Fernanda para quem a desconhece – se é que ainda é possível
Fernanda Torres sempre esteve entre as grandes atrizes do Brasil porque, antes mesmo de nascer, seu sobrenome já era sinônimo de talento dentro da dramaturgia brasileira. Filha de Fernando Torres e Fernanda Montenegro, escolheu construir a sua própria história ao invés de apenas herdar o legado dos seus pais. Ela seguiu os passos da sua mãe com maestria, já que Montenegro foi indicada ao Oscar em 1999 pelo seu trabalho em “Central do Brasil”.
Atriz desde que se entende por gente, redescobriu o seu talento ao longo dos anos também como escritora, cronista e roteirista. Fernanda é conhecida pela versatilidade percebida em seus trabalhos, ela transita com facilidade da comédia popular até o drama digno de Oscar. Para alguns ela será eternamente Fátima, vendedora icônica e romântica incurável da série “Tapas & Beijos”. Já para outros, será difícil esquecer seu humor caótico e inconfundível de Vani em “Os Normais”. Independentemente qual comédia tenha arrancando mais risadas do público e em qual cada um mais se identifica, o certo é que Fernanda já esteve na tela e na memória nostálgica de quase todos brasileiros.
Se na comédia conquistou os telespectadores, no drama ela apresentou uma profundidade que a consagrou. O filme “Eu Sei Que Vou Te Amar” rendeu o prêmio em Cannes, enquanto “Casa de Areia” também revelou a sua capacidade de construir personagens emocionantes.
Entre risos e lágrimas, possui uma carreira sólida e chegou ao prestígio máximo do cinema.
Cobertura internacional
Com o seu nome circulando pelos jornais do mundo inteiro, as barreiras geográficas foram quebradas e a imprensa internacional tomou conhecimento da atriz que faz parte da cultura dos brasileiros e do nome que habita na memória coletiva. Por mais que no Brasil a maioria das pessoas tenha crescido assistindo as obras da Fernanda, seja a Torres ou Montenegro, no exterior as coisas mudam um pouco. Enquanto alguns enaltecem as suas conquistas e talento, outros ainda descobrem como se escreve ou pronuncia o seu nome e tentam entender o porquê de uma artista brasileira estar nos holofotes de Hollywood.
A BBC encarou a vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro como algo surpreendente e inesperado, porque a atriz estava mal colocada na lista de possíveis indicados ao Oscar e o troféu a posicionou em um patamar bem diferente na disputa, juntamente com seu discurso. Na mesma reportagem, o veículo britânico ressalta que apesar de Fernanda ser uma artista veterana, dificilmente é uma estrela de Hollywood, porém, enfatiza que a vitória foi merecida.
A NPR divulgou a perspectiva do crítico John Powers, que ficou encantado com o trabalho realizado com brilhantismo e performance sutil, internalizada e silenciosamente devastadora da atriz brasileira no filme. Em um mundo justo, de acordo com o crítico, ela ganharia todos os prêmios que disputasse esse ano. Em contrapartida, Jacques Mandelbaum, crítico de um dos principais jornais franceses, Le Monde, atribuiu ao filme “Ainda Estou Aqui” apenas uma estrela, em uma escala que vai até quatro, além de indicar como um dos principais defeitos do filme o desempenho de Fernanda Torres. A justificativa de Mandelbaum para a sua nota baixa e forte crítica ao trabalho da atriz brasileira se refere à excessiva carga melodramática que Fernanda depositou na personagem e uma performance repetitiva, fazendo com que o filme trate de maneira bastante rasa o entendimento do regime ditatorial.
Nunca foi uma descoberta
Enquanto na cobertura internacional os críticos ainda descobrem quem é Fernanda Torres, no Brasil a história é outra. Os veículos midiáticos nacionais destacam a importância da sua conquista para o cinema nacional e visibilidade no mundo todo. Até os brasileiros que nunca assistiram o filme e nem costumam acompanhar o Oscar declararam sua torcida por Torres. As notícias que circulam no Brasil sobre a atriz podem ser até muito repetitivas, enfatizando com frequência que Torres está fazendo história e comparando seu feito com o de Fernanda Montenegro – tendo em vista que foram as únicas atrizes brasileiras indicadas ao prêmio na categoria de Melhor Atriz no Oscar – como destacam as revistas Carta Capital e Forbes Brasil.