Nem todo mundo é super-humano
- 3 de abril de 2024
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- Theillyson Lima
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Meu nome é Khan traz uma reflexão sobre como o autismo é retratado nas telas
Maria Fernanda da cruz
Rizwan Khan é um imigrante indiano nos EUA, que possui síndrome de Asperger – um distúrbio do espectro autista. Como muçulmano, ele passa a sofrer com o preconceito após os eventos de 11 de setembro, e vive uma jornada de desafios para cumprir uma promessa: conhecer o presidente e dizer, “Senhor, meu nome é Khan e não sou um terrorista”.
Através da jornada pessoal de Rizwan, o filme explora temas como o amor, a discriminação e a os estereótipos associados ao autismo.
O filme oferece uma representação positiva e realista de uma pessoa no espectro autista, mostrando seus desafios e pontos fortes de uma maneira autêntica, além de capturar a complexidade de seu personagem e transmitir com sensibilidade as características de alguém no espectro autista.
Trama do longa
O filme segue a jornada de Rizwan Khan, enquanto ele busca provar que “não há terrorismo no Islã” após sofrer preconceito em decorrência dos ataques de 11 de setembro de 2001. A história explora os desafios pessoais enfrentados por Rizwan, incluindo discriminação, a busca pela aceitação e o amor.
Ao longo do filme, Rizwan enfrenta uma série de obstáculos enquanto viaja pelos Estados Unidos, culminando em uma missão para reconciliar-se com sua esposa Mandira. A trama é uma mistura de drama e questões sociais, destacando temas como identidade, tolerância e resiliência em face da adversidade.
O autista superdotado?
No filme, embora não seja explicitamente mencionado que o personagem principal possui superdotação, há indícios disso. Ele possui habilidades extraordinárias em certas áreas, como a memorização de informações detalhadas e a capacidade de fazer cálculos complexos.
Rizwan demonstra uma capacidade excepcional em memorizar datas, horários, números e informações geográficas. Ele também é capaz de lembrar com precisão eventos passados, como datas de nascimento e aniversários de pessoas que conheceu, bem como detalhes específicos de suas vidas.
Essa habilidade de memorização é especialmente destacada quando ele é capaz de relembrar nomes de ruas, números de telefone e outros detalhes que o ajudam em sua jornada.
Além disso, Rizwan demonstra uma habilidade impressionante em resolver problemas matemáticos complexos.
Apesar de parecer uma representação positiva, esse detalhe traz uma questão mais complexa. Estudos demonstram que apenas cerca de 10% das pessoas autistas têm capacidades cognitivas excepcionais, e alguns estudos reduzem este número a menos de 1%. Ou seja, é problemático reduzir um grupo complexo e heterogêneo de pessoas a uma característica única.
Autistas não têm sentimentos?
Um estereótipo comum acerca do autismo é que eles não têm sentimentos ou não compreendem eles por inteiro. Nesse aspecto, Meu nome é Khan traz uma visão bem mais realista, explicando que eles têm sim sentimentos, apenas não os expressam da mesma forma que uma pessoa neurotípica.
No filme, embora Rizwan tenha dificuldade em entender e expressar emoções da maneira convencional, seu rosto muitas vezes reflete seus sentimentos de maneira sutil – nesse ponto, vale um destaque para a atuação de Shahrukh Khan. Suas expressões faciais podem variar de seriedade e concentração a alegria e tristeza, permitindo que o espectador se conecte com suas emoções através de gestos sutis.
A própria trama reflete de maneira positiva as diferentes emoções de Rizwan, através de sua relação com outros personagens, quando ele demonstra amor, devoção, preocupação ou medo, por exemplo.
Suas interações com sua esposa Mandira, seu amigo Zakir e outras pessoas em sua jornada mostram sua capacidade de se conectar emocionalmente com os outros, apesar das barreiras de comunicação que ele enfrenta.
A sociedade não sabe lidar com o autismo
O filme oferece uma profunda e comovente reflexão sobre uma sociedade que muitas vezes não está preparada para lidar adequadamente com pessoas que possuem a síndrome de Asperger, ou qualquer forma de autismo.
Ao longo da narrativa, somos confrontados com uma série de situações e interações que expõem as dificuldades enfrentadas pelo protagonista devido à sua condição. Desde o momento em que é detido pela segurança no aeroporto por um “comportamento incomum”, até a maneira como é tratado com desconfiança em situações do dia a dia.
O filme nos apresenta uma sociedade que muitas vezes estigmatiza e discrimina aqueles que são diferentes.
Além disso, também destaca a falta de compreensão e empatia por parte das pessoas ao redor de Rizwan. Seja na loja de conveniência onde é acusado de ser um terrorista, ou em situações mais pessoais, nas quais sua honestidade é interpretada como má intenção, Rizwan constantemente se vê isolado e incompreendido pelos outros.
Essas interações revelam uma sociedade que carece de educação e sensibilidade em relação ao autismo, e que muitas vezes falha em reconhecer a humanidade e as necessidades específicas das pessoas no espectro autista.
Uma reflexão sobre o autismo
Apesar de alguns erros, Meu nome é Khan oferece uma poderosa reflexão sobre temas como autismo, discriminação e busca por aceitação. Embora tenha sido criticado por sua representação simplificada do autismo e por uma narrativa às vezes melodramática, o filme ainda consegue transmitir uma mensagem importante sobre empatia, compaixão e inclusão.
Ao acompanhar a jornada de Rizwan, o longa nos leva a refletir sobre a necessidade de compreender e aceitar as diferenças individuais, especialmente quando se trata de pessoas com condições como o autismo.
Apesar de uma abordagem simplista de questões complexas, como o terrorismo e as relações interculturais, o filme ainda consegue provocar uma reflexão profunda sobre a importância do amor e da tolerância em um mundo diverso e multifacetado.
Em última análise, o filme continua sendo uma obra cinematográfica que ressoa com muitos espectadores, inspirando conversas significativas e promovendo uma maior conscientização sobre as experiências das pessoas com autismo e outras formas de diversidade.