O controverso mundo dos coaches religiosos: entre orientação espiritual e manipulação
- 13 de março de 2024
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- Theillyson Lima
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O mundo dos coaches religiosos revela casos chocantes de abuso de poder e traição de confiança.
Diogo Cruz
A série Riverdale, produzida pela Netflix, retrata um grupo de jovens que são influenciados a participar de cultos que prometem curar suas dores físicas e mentais. Um desses personagens é Kevin, que aceita participar dos cultos ministrados pelo líder Edgar Evernever. A trama acompanha Kevin em sua jornada de cura, mas ao longo da história, torna-se evidente que tudo não passava de uma farsa.
Órgãos foram retirados de Kevin sem o seu consentimento para serem vendidos, mostrando o nível de manipulação a que ele foi submetido pelo líder da seita. A série lança luz sobre os perigos de ser influenciado por líderes carismáticos e o impacto devastador que isso pode ter na vida das pessoas.
O caso de Kevin é semelhante a diversas outras histórias que você irá ler ao longo deste texto. Frases como: Você consegue! É possível! Nunca deixe de sonhar! Essas e outras afirmações são direcionadas a um grupo de pessoas que buscam melhorar e transformar sua vida, sejam elas através de palestras, consultorias ou reuniões.
Os responsáveis e líderes desses movimentos são os “coaches religiosos”, ou seja, líderes espirituais que combinam orientação religiosa com técnicas de coaching para auxiliar e direcionar os fiéis em sua “jornada” espiritual ou pessoal. O termo “coach”, do inglês, pode significar “treinador, instrutor”. Os pastores, líderes espirituais e os considerados “coaches religiosos” são responsáveis por, de alguma forma, ajudar e direcionar as pessoas que buscam algum tipo de orientação e ajuda a fim de se desenvolver.
A Teologia do coaching se concentra na obtenção de sucesso e bem-estar, muitas vezes caindo na armadilha do triunfalismo, que atrai uma audiência ávida por materialismo e respostas para suas decepções. No entanto, ao se concentrar excessivamente nos aspectos terrenos da vida, essa abordagem pode levar as pessoas a perderem de vista a dimensão divina e as recompensas do mundo vindouro, conforme a perspectiva cristã. Essa é a reflexão proposta pelo artigo intitulado “Imaginário utópico na Teologia do Coaching”. “
Coaches Religiosos
Bons exemplos de preparadores são aqueles que incentivam seus fieis a alcançarem conquistas e a praticarem a perseverança. Tais características são atributos essenciais quando se trata do verdadeiro exercício dos coaches. Alguns líderes que exemplificam esse tipo de comportamento podem ser Deive Leonardo e Tiago Brunet.
O próprio Deive Leonardo não se considera um coach religioso, quando perguntado sua resposta sempre é “ sou só um palestrante”, afirma.
A pesquisa Radar Evangélico, feita pela consultoria Nosotros, mapeou os 44 maiores influenciadores evangélicos do Brasil e os exemplos de coaches. Esses líderes sempre têm em seus discursos as palavras conhecimento, superação e vitória.
Eu menti pra vocês
A série intitulada como “The vol”, produzida pelo HBO, conta através de documentário que explora as práticas e crenças do NXIVM, revelando sua estrutura de poder, manipulação psicológica e a exploração de seus membros. Além disso, ele analisa como indivíduos foram gradualmente envolvidos e controlados pelo líder do grupo, Keith Raniere, e como alguns membros conseguiram escapar e expor a verdade por trás das fachadas do NXIVM.
Paralelamente a essa história é possível analisar que essas organizações exploram e mexem com o psicológico dos seus fiéis. Casos como esse viraram manchete ao redor do mundo e de acordo com a reportagem relacionada ao envolvimento de Alisson Mack em uma esquema de corrupção e crimes sexuais só mostram que essas organizações consideradas religiosas, na verdade, podem se tornar ao seu público um alvo perigoso.
“Eu menti para vocês, de novo e de novo, a fim de proteger a ilusão em que eu estava tão profundamente empenhada em acreditar”, afirma Keith.
120 anos de prisão
Assim como o caso de Allison Mack com sua organização, outro caso que ganhou notoriedade foi o do Tony Alamo. O tribunal do Arkansas condenou um pastor evangélico a 175 anos de prisão por abusar sexualmente de mulheres e crianças.
Bernie Hoffman, 75 anos, conhecido como Tony Alamo, fundador do grupo chamado de Ministérios Cristãos Tony Alamo, foi preso em julho passado, por abusar sexualmente de meninas. O juiz Harry Barnes condenou o pastor a 175 anos de prisão e a uma multa de 250 mil dólares por 10 crimes, segundo funcionários da justiça do Arkansas.
Esses casos destacam a necessidade urgente de uma vigilância mais rigorosa sobre os líderes religiosos e coaches que abusam de sua influência para cometer atrocidades. Eles também ressaltam a importância de educar as pessoas sobre os sinais de manipulação e abuso.
Missão não alcançada
Já ficou entendido que coaches são pessoas cuja principal habilidade é a comunicação, e muitas vezes exercem liderança em suas igrejas, células ou seitas. No entanto, o que acontece quando essa missão não é alcançada? E quando o ato de preparar, instruir e até mesmo motivar pessoas se transforma em crimes?
A explicação desses crimes para alguns pode soar estranha, alguns podem pensar: eu vou a uma igreja, célula ou uma reunião para ficar melhor seja lá como for e em qual for. A pessoa vai com o coração aberto para aquela instituição que na maioria das vezes é dirigida pelos então “coaches” ou “pastores” e acaba sendo vítima de crimes, sejam eles físicos ou morais, mas que de alguma forma destroem a pessoa.
É necessário tomar cuidado com possíveis manipulações, sejam elas feitas por líderes, pastores ou coaches. Casos como o de Kevin, que deixou-se influenciar pelo líder Evernever ao ponto de ter seu órgão retirado com a promessa de que era algo bom, ou o caso do líder Tony Alamo, condenado a 175 anos de prisão, são exemplos disso. Essas situações refletem o pior do ser humano: enganar pessoas vulneráveis psicologicamente e destruir suas vidas por meio das palavras.