Ela é o cara: um retrato da mulher no esporte
- 30 de agosto de 2023
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- Theillyson Lima
- Posted in Sessão Cultural
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Até que ponto a mulher carece de apoio no esporte?
Lucas Pazzaglini
Uma menina sonha em jogar futebol de forma profissional, mas não encontra apoio na família e muito menos na sociedade. Cansada das críticas infundadas, ela recorre a uma medida drástica: fingir ser um menino para jogar em um time de futebol masculino. Essa é a premissa do filme “Ela é o cara”, lançado em 2006.
Estrelado por Amanda Bynes, o longa faz parte da coleção de sucessos da atriz nos anos 2000, podendo até ser confundido com “Ela e os caras”, lançado em 2007. O elenco ainda conta com nomes como Channing Tatum, David Cross e Laura Ramsey. A direção é de Andy Fickman.
Sendo um dos grandes sucessos da Sessão da Tarde, Ela é o Cara acompanha a trajetória de Viola, a menina apresentada no começo do texto. O preconceito que ela sofre por ser mulher e jogar futebol a faz trocar de lugar com seu irmão gêmeo em uma escola em regime de internato.
Sebastian, seu irmão, está em uma viagem e não vai chegar para o começo das aulas. A única que sabe da informação é Viola, e assim começa sua aventura em Ilyria, a escola em que história é situada. Se passando por homem, ela arruma um disfarce – aparentemente muito convincente – e, obviamente, acaba ficando no dormitório masculino com um colega de quarto, Duke, capitão do time de futebol.
A partir disso você já pode imaginar o que acontece. Afinal, é uma típica comédia romântica dos anos 2000. Sentimentos românticos afloram em todo o canto e, junto com isso, muitas situações cômicas e dignas de risada.
O filme se caracteriza facilmente como o marco de uma geração que cresceu com a TV aberta, e até hoje é possível encontrar alguns apaixonados pela trama.
Shakespeare
A obra estrelada por Amanda Bynes é identificada como uma releitura livre do texto “Twelfth Night, or What You Will” (Noite de Reis, na adaptação para o português), escrito por William Shakespeare. A peça teatral explora os preconceitos e intolerância que uma transvestida teatral sofre, pois, na época, apenas homens podiam atuar no teatro.
Basicamente, o filme de Andy Fickman troca o teatro pelo campo de futebol e a atriz por uma jogadora. O conceito é o mesmo: a mulher tendo que se adaptar a uma realidade imposta por homens e mergulhada em preconceitos.
Críticas atuais
Apesar de tanto a peça quanto o filme apontarem uma situação aparentemente exagerada, a crítica gerada pelas obras é clara: a falta de oportunidade para mulheres, simplesmente por serem mulheres.
“Ela é o Cara” ainda acrescenta o tópico do esporte ao debate, principalmente o futebol, tema de discussões até hoje. Apesar de ter sido lançado há mais de 10 anos, o filme ainda tem grande relevância social ao levar em conta que o relacionamento da mulher com o esporte e, sobretudo, o preconceito imposto a essas jogadoras não mudou muito.
Apesar de ser engraçadinha, e ótima para assistir a tarde comendo pipoca, é triste pensar que essa ficção pode ser comparável à realidade. Este ano, por exemplo, presenciamos a Copa do Mundo Feminina e, apesar do investimento inédito no time brasileiro, ainda é possível observar uma diferença absurda entre o apoio ao futebol masculino e feminino.
No entanto, essa não é apenas uma questão de investimentos e sim social, na qual meninas sofrem críticas por se interessarem por futebol e às vezes são até impedidas de se matricular em escolinhas da modalidade. Para uma sociedade “tão avançada”, acho que todos imaginavam que problemas como esse não seriam mais vistos.
Impacto real
O filme foi um dos pilares para o breakdown de Amanda Bynes. A atriz conta que, ao se vestir como menino, ela perdeu parte da sua identidade e nem conseguia se reconhecer no espelho. Se uma atriz, interpretando um papel, sofreu consequências graves por apenas se vestir de forma diferente, imagine quem precisa tomar essa medida na vida real.
Acredito que todos esperamos que não seja mais necessário recorrer a tamanha mudança para a prática de um esporte, mas se esse filme puder ser baseado em fatos, estamos muito atrás do ideal.
“Ela é o Cara” atinge diversos públicos e de maneiras diferentes. Se você já assistiu o filme, procure enxergá-lo agora de maneira mais crítica, e se nunca viu, aproveite também para se divertir.