Fora de opinião
- 10 de maio de 2023
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- Theillyson Lima
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O que a editoria de opinião quer que você pense.
Ana Toyota
Com o objetivo de difundir uma opinião institucional, a editoria é elaborada a partir do ponto de vista do próprio colunista, seguindo a linha editorial do jornal. Quando se fala de jornalismo, vale destacar que o texto jornalístico deve ser o máximo possível imparcial e transparente a fim de que o público construa a própria opinião sobre determinado assunto. Essa análise crítica visa observar a editoria de opinião dos jornais Folha de São Paulo e Poder 360.
Ambos os jornais possuem editorias de opinião distintas, com formatos de textos diferentes e opiniões políticas diferentes. Mas será que eles têm abordado a editoria de maneira correta?
Poder 360
A editoria aborda quase que exclusivamente assuntos que envolvem política, no entanto, mesmo um assunto sério também é bom ser tratado em tom de ironia. A construção dos textos é um tanto curiosa: não seguem um padrão formal, muitos textos são em formato de poesia e até em narrativa, com falas de personagens reais, mas dentro de um enredo fictício.
No trecho abaixo você pode ler um texto da editoria escrito pelo jornalista Voltaire de Souza.
“Tomou a vacina, sim
Fraudes. Mutretas. Apreensões.
A Polícia Federal Não tem Dúvidas
Bolsonaro usou atestado falso de vacina.
O general Perácio não conseguia compreender.
– Inaceitável. Verdadeiro Absurdo.
O assistente Guarany teclava no laptop.
– Parece que é verdade, general…”
O jeito de abordar a opinião através de uma construção narrativa envolve o leitor no enredo e no contexto da história, fazendo com que, mesmo em uma prosa fictícia, ele consiga entender melhor a situação da notícia, o que faz com que o leitor desenvolva uma opinião mediante à “vivência” através do texto narrativo.
Esse texto escrito por Voltaire causa uma certa indignação, uma vez que mostra a situação como injusta, onde o ex-presidente Jair Bolsonaro é descoberto por utilizar de um atestado falso de vacinação contra a covid-19, uma vez que ele mesmo defendia a não imunização da população em seus discursos como presidente durante a pandemia. O que o jornalista cria na trama é um suspense sobre se o ex-presidente tomou ou não, com base no atestado de vacinação que realmente existe, mas que pode ser “fake” ou real.
No geral, a Poder 360 apresenta um posicionamento aparentemente imparcial, trazendo opiniões que aparecem contra políticos e não contra a direita ou à esquerda no geral. Na sua editoria é possível encontrar críticas ao governo Lula e crônicas sobre os últimos atos do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Folha de São Paulo
A editoria de opinião da Folha de São Paulo se distingue muito da Poder 360. Aqui o texto é mais formal, com estrutura de notícia, podendo até dizer que o primeiro parágrafo é um lead. Os títulos também chamam a atenção. Todos são extremamente curtos, na maioria das vezes constituídos de 2 palavras ou uma frase curta, dando a ideia de um “título conceito” antes do texto objetivo.
No trecho abaixo você pode conferir um texto da editoria de opinião da Folha de São Paulo:
“A hora do Senado
Câmara avançou na defesa do marco do saneamento; senadores devem fazer o mesmo
A Câmara dos Deputados deu o primeiro passo para proteger o marco legal do saneamento básico; agora, cabe ao Senado Federal ratificar o gesto e impedir o retrocesso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende impor a essa política social aprovada em 2020.
Foi no começo de abril que Lula deslanchou sua iniciativa. Embotado pela ideologia e de olho nos interesses imediatos de políticos paroquianos, baixou decretos para modificar o marco legal em favor de empresas estatais ineficientes no campo do saneamento.”
A editoria da Folha de São Paulo é voltada a pautas de esquerda, no entanto sempre tenta manter a imparcialidade. Os seus textos seguem um padrão que é como o trecho citado acima, onde os colunistas expressam sua opinião de acordo com a linha editorial da empresa e estrutura jornalística.
Entre linhas
Os dois veículos jornalísticos abordam opiniões de maneira diferente. No entanto, o que eles têm em comum? As pautas abordadas. É visível que predominantemente a política é abordada, deixando de lado outras pautas, como saúde e meio ambiente. Até mesmo essas pautas de saúde ou meio ambiente são levadas ao lado político, deixando a crítica cada vez mais pessoal.
Os textos da Poder 360 são feitos a partir de prosas narrativas, poemas e até crônicas, deixando o enredo dinâmico e atrativo para quem se interessa por assuntos de política, mas não sabe bem sobre dissertar sobre. O problema pode estar na visão de que a narrativa seja um storytelling, que faça o leitor abraçar a opinião do jornal de maneira subconsciente, e isso pode ser persuasivo. A Poder 360 apresentou conteúdos mais variados que a Folha, mostrando textos sobre tecnologia e educação.
A Folha de São Paulo por abordar de maneira mais formal, pode apresentar o assunto de maneira mais impessoal, mas que ainda possui características de um texto de opinião. Assim como a Poder 360, a Folha permanece batendo na tecla da política, não se vê pautas sobre tecnologia ou ciência, e qualquer outro assunto é transformado em artigo de opinião política.
Ambos os veículos jornalísticos têm a editoria de opinião como uma potência dos colunistas. A Poder 360 dá até mesmo liberdade aos jornalistas para apresentarem a opinião da maneira que eles quiserem, enquanto a Folha ainda é “presa” à estrutura de texto jornalístico, o que “limita” o escritor a depositar sua opinião com certas regras e formalidades, deixando o texto de opinião ironicamente um pouco mais imparcial.
A formalidade da Folha é justificável pela história do veículo. O jornal possui mais de 100 anos, sendo ele fundado em 19 de fevereiro de 1921, o que o torna um jornal clássico e histórico. Já a Poder 360 se identifica como jornalismo independente, sendo este criado em meados de abril dos anos 2000.