Colin em Preto e Branco: o retrato do racismo estrutural no esporte
- 29 de março de 2023
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- Theillyson Lima
- Posted in Sessão Cultural
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Uma história de um garoto negro que lutou para romper as diferentes barreiras sociais para conseguir alcançar seus sonhos.
Camylla Silva
Negro e adotado por uma família branca, “Colin em Preto e Branco” mostra as barreiras de raça, classe e cultura que Kaepernick enfrentou ao longo de sua vida. O ator Jaden Michaels interpreta o adolescente Colin antes de se tornar um famoso jogador da NFL e ícone cultural. Nick Offerman e Mary-Louise Parker interpretam seus pais, Rick e Theresa. Colin Kaepernick conta a história sozinho, guiando os espectadores por uma série de realidades passadas e presentes para revelar sua verdadeira natureza.
Quem é Colin Kaepernick?
Colin Kaepernick é um ativista e jogador de Futebol Americano estadunidense. Mas a carreira do quarterback na NFL (National Football League), durou cinco anos desde que ele foi convocado pelo San Francisco 9ers em 2011. Pode ser um pouco difícil entender para quem vê de fora da bolha o que aconteceu com o jogador que levou o time às finais em seu primeiro ano de carreira. Mas ele foi demitido em um curto período de tempo.
Desrespeito?
O motivo que ganhou a atenção da mídia em 2016, foi por Colin se recusar a ficar de pé para cantar o hino nacional dos EUA em todos os jogos do San Francisco 9ers (seu ex-time), como forma de protesto contra as relações sociais desiguais entre brancos e negros. O jogador foi um dos primeiros atletas a defender o movimento Black Lives Matter – ou “Vidas Negras Importam”, em tradução – e desde 2017 está sem time na liga profissional de Futebol Americano.
A atitude do jogador rapidamente atraiu a mídia e recebeu críticas de todas as esferas da sociedade nos Estados Unidos. Quando menos esperava, políticos, como o ex-presidente Trump, jornalistas, torcedores e até mesmo outros esportistas condenaram a ação de Colin, chamando-a de falta de respeito.
O jogador de 35 anos continua a lutar para retornar ao esporte enquanto permanece sendo ativista dos direitos civis. Um dos capítulos nas lutas do ex-atleta é a minissérie “Colin em Preto e Branco”, que entrou para a Netflix em outubro de 2021.
A série
Em um formato de documentário, a minissérie conta a história real de Colin Kaepernick (Jaden Michael). Os seis episódios de 30 minutos foram co-criados por Kaepernick com a roteirista e diretora Ava DuVernay, que dirigiu o filme “Selma: Uma Luta Pela Igualdade” (2014) e a minissérie “Olhos Que Condenam” (2019), entre outros trabalhos.
A série conecta a adolescência fictícia de Colin com eventos ambientados na história do racismo nos EUA de forma criativa. A narração é feita pelo próprio atleta, que sempre olha para o seu passado com os olhos da atualidade, misturando fortes imagens de sua história.
Você acompanha Jaden Michael interpretando Colin mais novo, na época do ensino médio. Um garoto que lutava para entender seu lugar no mundo e que vivia com a expectativa de ser um atleta, se destacando no basquete, beisebol e futebol americano.
A relação com o esporte é uma das primeiras portas de entrada para a cultura negra, como revelam as figuras de Iverson (basquete) e Roman Bearden (beisebol). Desde então, Colin também se dedicou à música, moda, literatura e outros mundos.
Porém, Kaepernick era um adolecente negro e filho adotivo de pais brancos, o que não permitiu que tivesse experiência na comunidade negra. Além disso, ele não sabia o que era ser um negro nos Estados Unidos, e os abusos que teve que suportar em silêncio fizeram dele o ativista que é hoje, desde pegar elevador para o sucesso com os pais até desistir dos sonhos e se conformar com o que a vida jogava nele.
Enquanto acompanhamos a história do adolescente, o próprio Colin Kaepernick traça paralelos entre grandes nomes que foram importantes para a sua formação como atleta. Ele cita Toni Morrison, James Baldwin, Ida B. Wells, DJ Kool Herc, Nina Simone e muitos mais.
Agressão hostil
Essa estrutura paralela ajudou a explicar melhor a jornada de um adolescente negro na América. O mais interessante e necessário é que cada capítulo apresenta um tema específico, como a discrepância no tratamento de negros e brancos em comércios, transportes, televisão e principalmente nas escolas.
As “microagressões” também são uma parte importante da narrativa que mina gradativamente a confiança e a segurança de uma pessoa que sofre aos poucos. Um exemplo disso é a cena em que Colin vai para a corrida com seus pais e sempre tem que provar sua inocência nos hotéis onde estão hospedados. Isso tudo além dos problemas que ele enfrentou depois de trançar o cabelo, como o racismo estrutural, que na maioria das vezes veio de sua própria casa.
Em relação ao esporte, Kaepernick narra sobre a necessidade dos negros provarem muito mais para ter uma chance. Ou, em outros casos, jogar como brancos (na gíria do beisebol, “jogar da maneira certa”, que transforma em “jogar da maneira branca” – traduzindo, jogar da maneira certa/jogar da maneira branca). Ele também diz que isso acontece em outros lugares, como na televisão, onde os obedientes personagens negros estão sempre envoltos em um cobertor especial para que os brancos tenham amor por eles.
“Confie no seu poder!”
Não é preciso muito para perceber que a minissérie é um tapa na cara da sociedade, ou melhor, uma resposta bem dada à críticas e uma história surpreendente de um garoto negro que rompeu diferentes barreiras sociais. A série também é muito clara em relação às responsabilidades dos envolvidos e mostra com detalhes a atitude imperceptível do racismo estrutural, da agressividade silenciosa da sociedade, e como isso afeta gradativamente quem sofre.
Além do sentimento de revolta, há orgulho de Colin Kaepernick por seu posicionamento e enfrentamento frente ao racismo desde a adolescência até a vida adulta. A autobiografia pode ser útil para milhares de jovens, pois, de fato, é uma história necessária e de sucesso.
Ninguém deve ficar imobilizado aceitando um destino escolhido por outros, e o atleta reafirma isso na minissérie. Mesmo quando ele se ajoelhou, manteve o queixo erguido enfrentando o batalhão que se ergueu à sua frente. Para Colin, mesmo com poucas armas, é possível fazer o mesmo. No último episódio da série, Kaepernick, deixa sua motivação em apenas uma frase: confie no seu poder.