“Não vamos trocar o mundo real pelo virtual”
- 26 de setembro de 2016
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- Thamires Mattos
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Foram anos de espera, mas finalmente algo tornou-se realidade, melhor dizendo, Realidade Virtual. O assunto é amplo e divide opiniões. Nesta entrevista, o Diretor de Tecnologia da Intel do Brasil, Reinaldo Affonso, esclarece questões importantes sobre o assunto e ainda reflete sobre o futuro desta ferramenta nos meios de comunicação
Victória Coelho
Canal da Imprensa: Quais as diferenças entre realidade virtual e realidade aumentada?
Reinaldo Affonso: Embora os nomes sejam parecidos, as tecnologias e aplicações são bastante distintas. Na Realidade virtual, um ambiente totalmente virtual é gerado por um computador. Com isso, o usuário é inserido nesse ambiente e pode interagir com ele, por meio de um capacete, óculos, etc. Já a realidade aumentada insere elementos virtuais no ambiente real: o usuário continua vendo o mundo real, porém, complementada por informações ou elementos virtuais. Além desses dois tipos, temos também a realidade combinada utilizando realidade virtual, aumentada e elementos do mundo real para criar uma experiência de imersão no mundo virtual, porém com total interação do usuário com o mundo real.
Canal: Onde de fato a Realidade Virtual pode ser aplicada?
Affonso: A realidade virtual pode ser aplicada em diversos setores, ela não se restringe só a um segmento, como ao campo dos games. No campo educacional, em um curso de medicina, por exemplo, é possível utilizar a realidade virtual para criar ambientes de simulação de procedimentos, ajudando a dar mais realismo aos exercícios. O mesmo pode ser feito com o ensino nas escolas, ajudando a contextualizar e complementar o ensino dos alunos. Escolas que formam pilotos de avião já usam há muitos anos softwares de simuladores de voo, que o aluno pilota em um computador, por exemplo. É difícil precisar todos os segmentos que serão afetados pela realidade virtual, mas entretenimento e educação são os campos onde essa tecnologia já está mais avançada.
Canal: Quais os dispositivos que a realidade virtual tem à disposição hoje?
Affonso: São diversos dispositivos entre óculos, capacetes e fones VR disponíveis no mercado.
Canal: Quais são os prós e contras quanto a esse assunto?
Affonso: Não há dúvida que existem áreas que irão se beneficiar muito desse tipo de tecnologia. Novamente, educação e entretenimento são as áreas mais promissoras no momento. Mas é difícil precisar como a nossa vida será afetada por esse tipo de tecnologia. As aplicações ainda estão sendo pensadas e criadas, e existem muitos caminhos possíveis. Vale lembrar, entretanto, que ainda é uma tecnologia que tem muito a amadurecer.
Canal: Seria possível uma aplicação desta tecnologia no jornalismo factual, por exemplo?
Affonso: O futuro do jornalismo certamente contará com tecnologia de realidade virtual, em produções jornalísticas e publicações que permitirão ao usuário/ leitor do jornal fazer uma imersão em um ambiente de reportagem com a ajuda de óculos especial de realidade virtual, por exemplo. Já existem algumas primeiras experiências nesse sentido. A questão é: como a tecnologia pode ajudar um jornalista a contar uma história de forma mais contundente e precisa? Já em 2014 foi demonstrado no World Economic Fórum o Project Syria, que coloca as pessoas em um ambiente virtual onde ela pode passear pela zona de conflito na Síria, ou pro um campo de refugiados. É uma forma muito diferente e impactante de se contar uma história importante, que precisa ser compreendida para ser resolvida.
Canal: Qual sua opinião sobre o posicionamento da mídia em relação a este tema?
Affonso: A realidade virtual tem sido uma promessa há décadas, e agora essa promessa está finalmente se tornando realidade. É natural que as pessoas fiquem um pouco empolgadas. Cabe a nós, como indústria, informar e educar a população sobre o que é a Realidade Virtual, suas aplicações, e como seu uso pode resultar em uma vida melhor e mais completa. Vale lembrar que esse é o ciclo normal de toda tecnologia, primeiro uma euforia exagerada, depois a decepção por não conseguir fazer tudo que se esperava e finalmente o amadurecimento e a adoção massiva. Já vimos isso antes e com certeza veremos novamente com outras tecnologias.
Canal: O que esperar sobre a realidade virtual para o futuro. Trocaríamos a experiência real pela virtual?
Affonso: Por mais que a ficção científica queira nos convencer do contrário, não vamos trocar o mundo real pelo virtual. A Realidade Virtual é uma ferramenta. Ela está aí para criar novas experiências, novas formas de comunicação, interação e aprendizado. Ela será uma parte da nossa vida, mas não o todo. É aqui que a ideia da realidade combinada ganha força, pois ela funciona justamente na junção do mundo real com o virtual. Acreditamos que como outras tecnologias a Realidade Virtual vai amadurecer e integrar-se ao nosso cotidiano ajudando a melhor a qualidade de vida das pessoas.