“Falta de espaço é consequência do desinteresse nacional”
- 29 de agosto de 2016
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- Thamires Mattos
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Comentarista esportivo reflete sobre a relação entre audiência, abordagem e repercussão na cobertura esportiva das Olimpíadas
Thais Alencar
Foram 28 modalidades disputadas durante 16 dias de atividades intensas para todos os envolvidos de alguma maneira nas Olimpíadas. Nesta entrevista, o comentarista esportivo Bruno Prado faz um balanço sobre a cobertura realizada e mostra o que está por trás das escolhas do que foi transmitido pelos grandes meios nos últimos dias. O jornalista ainda fala um pouco sobre o que podemos esperar para o futuro do esporte brasileiro após a realização do grande torneio no Rio de Janeiro.
Canal da Imprensa: Como você avalia a cobertura das Olimpíadas de maneira geral?
Bruno Prado: No geral, gostei da cobertura. Deu para acompanhar praticamente tudo, informações a todo momento, as emissoras aproveitaram bem o fato de o evento estar sendo realizado no Brasil. Em algumas modalidades, senti falta de informações mais específicas do jogo e do esporte durante a transmissão, acho que com o jogo rolando é necessário informação e análise, principalmente em esportes que não são tão populares.
Canal da Imprensa: De que forma é realizada a seleção dos esportes a serem transmitidos ou noticiados em forma de matérias?
Bruno Prado: São priorizados os esportes em que o Brasil tem mais chance de medalha, principalmente na TV aberta que trabalha mais diretamente com a audiência, na fechada o espaço ficou um pouco mais dividido, até por serem canais de esporte. Na aberta, além dos brasileiros, também foi dado bastante espaço para ídolos mundiais como Phelps e Bolt que também tem forte apelo de audiência.
Canal da Imprensa: Esta seleção influencia na popularidade destas modalidades? De que maneira?
Bruno Prado: Influencia sim, a maior parte do público brasileiro acompanha apenas o futebol diariamente, nos outros esportes depende muito do desempenho do Brasil. As televisões dão espaço maior a um determinado esporte, se os brasileiros estiverem bem e naturalmente o público se interessa mais. Fora o futebol, o restante depende muito do desempenho do país e consequentemente ganha mais espaço na mídia e maior popularidade.
Canal da Imprensa: Em alguns momentos, é possível notar que mesmo diante do mau desempenho dos atletas brasileiros, os comentaristas elogiam os atletas. De que forma isso afeta a percepção da realidade pelo grande público?
Bruno Prado: Eu penso que o analista deve buscar um equilíbrio, mesmo no futebol que tem uma condição melhor, eu gosto de análises mais focadas no jogo, no desempenho técnico, na estratégia e na evolução do jogo. Penso que o comentarista tem esta função. O narrador precisa passar mais emoção, até pela necessidade de dar um bom ritmo na transmissão. Acredito que no momento do jogo, a análise deve ser técnica, a parte pessoal pode ser mostrada em outras situações, como em reportagens especiais por exemplo. Sou contra o exagero na crítica e também no elogio. Se o atleta foi mal, isso deve ser falado, com argumentos baseados em informações e análise com fundamento, com comparação de desempenho, apontando erros e acertos.
Canal da Imprensa: Em sua opinião, a cobertura excessiva das Olimpíadas não está encobrindo outros assuntos de relevância para o povo brasileiro? Por quê?
Bruno Prado: Acho inevitável que aconteça uma grande cobertura de uma Olimpíada no país. As pessoas que se interessam mais pelos assuntos políticos e econômicos sempre vão procurar informação e vão encontrar. Quem se interessa por determinado assunto sempre buscará informação. Não acho que os jogos atrapalhem outros assuntos, claro que em cada momento, determinado assunto tem prioridade no noticiário. A política nos últimos meses ocupou grande espaço na mídia, até pela relevância dos fatos recentes e vai ocupar sempre que necessário.
Canal da Imprensa: O que podemos esperar para o futuro do esporte brasileiro depois das Olimpíadas?
Bruno Prado: Não acredito em grandes mudanças no esporte brasileiro depois dos jogos, o espaço na mídia continuará o mesmo, com prioridade para o futebol, até porque a maior parte do público não se interessa tanto por outros esportes fora do período olímpico. Os meios de comunicação vivem de audiência e repercussão, o principal motivo do pouco espaço para outros esportes é a falta de interesse do público. Alguns esportes evoluíram, outros caíram e vai continuar desta forma.