80 anos e um legado para a igualdade
- 29 de agosto de 2016
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- Thamires Mattos
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Ana Flávia da Silva
A história
James Cleveland Owens, mais conhecido como Jesse Owens, ficou marcado como o homem que desafiou Hitler. Verão de 1936, com o nazismo já presente na Alemanha e três anos antes do início da Segunda Guerra Mundial, um negro sai das Olimpíadas de Berlim com 4 medalhas de ouro. Era uma prova de que a raça ariana não era assim tão superior, como dizia o Führer.
Sob a direção de Stephen Hopkins, o filme Raça (Race) foi lançado em junho de 2016. O trabalho dá detalhes desta história que marcou o mundo e lembra um dos momentos mais marcantes da história dos Jogos Olímpicos, em tempos de tanto racismo e preconceito – não apenas na Alemanha nazista, mas também no próprio país que Owens representava: os Estados Unidos da América.
Jesse Owens (Stephan James) nasceu em Oakville, no Alabama, mas ainda na infância se mudou durante uma grande onda de migração para Cleveland, em Ohio. Durante seu tempo no colegial, se identificou com a corrida e ao entrar na Universidade de Chicago começou a quebrar recordes nacionais e a se destacar em todo o país. Apesar do preconceito que sofria ao sair com sua equipe para as competições, continuou firme, tendo todo o apoio e incentivo de seu treinador Larry Snyder (Jason Sudeikis).
O cenário na Alemanha, no entanto, não parecia favorável para o acontecimento dos jogos. Vários países tentaram se unir para boicotar as Olímpiadas. Os jogos estavam sendo usados, na realidade, como um meio de disseminar as ideologias nazistas e mostrar uma Alemanha forte e unida, mas que mascarava suas políticas antissemitas e racistas. Os Estados Unidos estava entre estes países. Avery Brundage (Jeremy Irons), presidente do Comitê Olímpico dos EUA, era contra o boicote e acreditava que não existe lugar para a política no esporte. Sendo assim, ele vai até a Alemanha a fim de comprovar que os jogos poderiam acontecer normalmente e se esforça ao máximo para que os atletas americanos participem sem nenhum tipo de preconceito.
Às vésperas dos testes para as olímpiadas, Harry Davis, representante da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor, vai até a casa de Jesse. Ele diz que – devido ao cenário político da Alemanha, suas posições em relação as minorias e a forma como eram tratados, até mesmo nos EUA –, Owens deveria se recusar a competir para assim demonstrar solidariedade aos judeus e aos negros. Jesse fica confuso e discute com seu treinador ao dizer que não irá mais participar das competições. Mais tarde, muda de ideia e depois de passar em todos os testes, embarca para Berlim.
Ao chegar na cidade olímpica, a maior novidade para ele é perceber que na tão temida Alemanha, negros e brancos se alimentam juntos, dormem no mesmo quarto e se tratam bem – algo que não acontece em seu próprio país.
Jesse participa de quatro provas e entre elas o salto em distância, onde compete com Luz Long, um atleta alemão de quem mais tarde se torna amigo próximo. Owens sai com o ouro nas quatro provas. Ao receber sua medalha, Brundage, como presidente do Comitê Olímpico Americano o leva para receber os cumprimentos de Hitler, que se retira antes mesmo dele chegar para não ser visto cumprimentando um negro.
Owens então volta para os Estados Unidos e um jantar com os representantes do país é feito em sua homenagem. Ele e sua esposa, no entanto, ao chegarem no restaurante são barrados e obrigados a passar pela entrada de serviço por serem negros. O que apenas fica em evidencia é a hipocrisia dos americanos na época – que tanto diziam condenar o nazismo, mas que faziam o mesmo de forma subentendida.
Preconceito além do nazismo
Sempre se ouve dizer que o esporte é uma forma de unir pessoas, culturas, diferentes povos. Contudo, de acordo com a história, Hitler apenas quis usar as olímpiadas para pregar suas ideologias e o suposto sucesso de uma Alemanha nazista.
Em meio as críticas feitas sobre o filme, nota-se que ressaltar a atitude de Hitler para com o atleta negro, trouxe uma polemica e tanto, já que muitos historiadores contestam esta versão. Não que sejam defensores do Führer, mas o que se conta é que Hitler acenou para Jesse depois de sua premiação, sem nenhuma reação que demonstrasse preconceito. Já a outra parte da história na qual o presidente dos EUA, Franklin Roosevelt se recusou a encontrar Owens para não perder votos entre os mais conservadores, não é nem mesmo mencionada no longa-metragem.
Ainda assim, isso não impediu que o espectador notasse que o preconceito racial ainda era forte na América. O movimento de luta contra a segregação racial nos país só teve início em 1955, e o episódio durante o jantar feito para Jesse mostra quão grande ainda era caminho a ser percorrido até que se amenizasse a intolerância racial.
Hoje
Os oitenta anos que se passaram desde as olímpiadas de Berlim trouxeram dezenas de conquistas para as minorias, resultando em conscientização sobre o valor da igualdade entre diferentes raças, cores e culturas. O Brasil, como um país de grande miscigenação proporciona – ou deveria proporcionar – um maior conforto a tais grupos.
Recentemente, nas Olímpiadas de Londres em 2012, Rafaela Silva, lutadora de Judô, sofreu vários ataques racistas após ser eliminada dos jogos. Nas redes sociais pessoas a chamaram de macaca e disseram que lugar de macaca não era nas olímpiadas, mas sim em uma jaula. Após o acontecido, a atleta ficou tão abalada que quis desistir. Todavia, o apoio das pessoas próximas a ela não permitiu que isso acontecesse e neste ano a judoca conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil nas olímpiadas.
O que se comprova é que não existe uma raça superior a outra e apesar de sempre existir aqueles que mantém a prática repugnante do racismo, também sempre haverá quem preza pela igualdade. Os esportes são uma forma de união, e as Olímpiadas Rio 2016 provaram que é possível unir diferentes etnias e povos com simpatia, respeito e consideração. Jesse Owens deixou sua mensagem, não aos americanos ou aos alemães, mas a todo o mundo: todos podem ser os melhores independente do que pensam ou dizem. Rafaela entendeu o recado.