Uma mãe gentil
- 29 de agosto de 2016
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- Thamires Mattos
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Frutos de uma terra exuberante nas formas e recursos naturais, de uma miscigenação peculiar, de um clima ameno e favorável, brasileiros são considerados alegres, espalhafatosos, hospitaleiros, fisicamente diferentes. Mas também, talvez devido a estas mesmas origens, o mundo os vê como desorganizados, pouco civilizados, corruptos. Quem são os brasileiros de fato? Se é possível construir tal conceituação, ela certamente será resultado de um país “gigante pela própria natureza”.
Em agosto de 2016 o mundo teve a oportunidade de viver uma espécie de experiência surrealista com o Brasil. O Rio de Janeiro, famigerada Cidade Maravilhosa e também cidade da violência, sediou a 31ª Olimpíada Moderna. Os meses que antecederam ao evento foram carregados por uma atuação pouco lisonjeira da mídia (na verdade, altamente cética e crítica) quanto a capacidade do país verde-amarelo realizar o megaevento. Foram incontáveis textos e imagens menosprezando as iniciativas cariocas, apontando as enormes falhas que poderiam destruir a festa mais significativa do mundo.
A própria imprensa nacional, assumindo a eterna síndrome do “vira-lata”, empenhou-se em atacar a organização do evento e as medidas governamentais para conter possíveis problemas. No entanto, o que se viu, nestes dias de interação cultural e esporte, foi quase um quadro de Salvador Dalí. Uma imagem que seria irreal, quase um sonho, não fossem as provas físicas de sua existência. Uma completa distorção da imagem construída e estabelecida pelos meios até então. O mundo sorriu, chorou, se afeiçoou, se desculpou, se sentiu parte, desta terra onde para conseguir a igualdade no tratamento midiático foi preciso mostrar o braço forte e carinhoso do povo.
É uma pena que este heroico brasileiro precise ser lembrando, por olhos externos, da característica mais marcante em sua história de altos e baixos, de injustiça, superação, de golpe e revolução, de pobreza e desenvolvimento: o fato de que um filho desta terra não “não foge à luta”. Sim, simplesmente por sermos capazes de manter a esperança e persistência em tempos tão insólitos, somos completa e absurdamente surrealistas.
A edição desta quinzena pretende falar da atuação desta mídia durante 22 dias surreais no Rio de Janeiro. Uma mídia ranzinza, levada quase contra vontade, a um universo de criatividade, irrealidades, de sonhos, que brotaram do inconsciente persistente de um povo que, (seja nas arquibancadas ou na vida), tem um brado retumbante. Que o verde-louro de nossa flâmula, a partir de agora, fale de paz no futuro do Brasil como pauta internacional. Paz nascida das glórias destas Olimpíadas que já ficam no passado. Nossa edição faz votos de que a mídia continue lembrando, com carinho, desta mãe que, para os filhos de seu solo e para os filhos de todos os solos do mundo, é sempre gentil!
Andréia Moura
Editora-chefe do Canal da Imprensa