
Um século de jornalismo global
- 4 de junho de 2025
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- Theillyson Lima
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O jornal O Globo completa 100 anos e segue inserido na rotina dos brasileiros, ainda que de maneiras alternativas.
Raíssa Oliveira
Todo mundo sabe que o Grupo Globo possui uma rede grande de conteúdos e plataformas, independente de qual tipo de mídia você preferir acessar. Entretanto, o primeiro, mais antigo e que originou tudo que se conhece hoje sobre esse conglomerado, tem nome e um século de história, seja no papel ou nos celulares dos brasileiros: O Globo.
Embora hoje o conglomerado seja mais lembrado pela atuação televisiva, estamos falando daquele velho companheiro das manhãs, parceiro de café e que você se debruça sobre as suas páginas impressas dia após dia para sair de casa bem informado. Fundado por Irineu Marinho em 29 de julho de 1925, que faleceu menos de trinta dias após, no Rio de Janeiro, O Globo nasceu com objetivo de informar, dialogar e defender os interesses da sociedade. Roberto Marinho, filho de Irineu Marinho, assumiu a liderança do jornal em 1931 e, sob seu comando, o jornal se consolidou como uma das vozes mais influentes do país e se tornou o alicerce de um dos maiores conglomerados de mídia da América Latina.
Novas necessidades
Acredito que a diferença de relevância do jornal entre as diferentes épocas, lançamento e a atualidade, possa estar ligada principalmente à concorrência. Ainda é muito relevante e um dos jornais mais lidos do país, porém, no início do século passado, no chamado capitalismo democrático, existiam monopólios de empresas, inclusive no quesito midiático. Atualmente, no denominado supercapitalismo, existe mais concorrência e alternativas, não só de outros veículos e imprensas, mas também de outras formas de consumo de mídia.
Dessa maneira, Roberto Marinho soube se adaptar às necessidades populares e, o que era uma das únicas ferramentas de comunicação e informação da sociedade, o jornal impresso, perdeu a sua força para as plataformas digitais e outras mídias que foram surgindo ao decorrer dos anos.
O Globo terminou 2023 com uma queda de aproximadamente 13% de assinantes em jornal impresso, encerrando o ano com 52.933 assinaturas em papel. Mesmo com jornal impresso ainda em circulação no Rio de Janeiro, atualmente, O Globo pode ser acessado pelo Brasil inteiro de modo bem mais fácil e econômico pela internet e, ainda assim, obtendo todos os conteúdos distribuídos nas páginas físicas, mudando drasticamente a maneira de consumo.
Mantendo a sua popularidade
Em contrapartida da diferença de assinaturas do jornal impresso, O Globo ainda permanece entre os destaques de mídia e informação do Brasil. Em 2020, foi o jornal mais lido do país, repetindo o mesmo feito no ano seguinte. Além de se comunicar com as minorias e todas as parcelas da sociedade, possui um conteúdo satisfatório também para a elite da população brasileira, sendo o jornal mais lido no Congresso Nacional e mencionado por quase metade dos parlamentares em uma pesquisa de Mídia & Política, feita pelo Instituto de Pesquisa em Reputação e Imagem (IPRI), da FSB Holding.
Em 2023, o Instituto Verificador de Comunicação, que é responsável por auditar as vendas de jornais, atendeu a um pedido das empresas de comunicação em 2023 e mudou a forma como contabiliza assinantes, estipulando o valor mínimo de R$1,90. Antes dessa mudança, só valeria se a assinatura fosse 10% do preço total que custaria para comprar o produto em banca durante 30 dias. Essa alteração permitiu que os jornais passassem a contabilizar os assinantes que pagavam valores menores para acessar conteúdos digitais. Dessa maneira, O Globo saiu de 287.024 assinantes digitais no mês de junho para 325.598 no mês de julho.
Apesar disso, entre os sites mais visitados no Brasil, está apenas o globo.com dos produtos do Grupo Globo. Entretanto, vale lembrar que O Globo e as outras ramificações podem ser acessadas através desse site. Para diferenciar o jornal de outro portal de notícias da Globo, é relevante salientar que ele traz conteúdos aprofundados e em âmbito nacional, já que possui apenas uma sede no Rio de Janeiro, ao contrário do G1, por exemplo, que foca o trabalho em conteúdos mais instantâneos e possui redações espalhadas por todos cantos do Brasil.
Muita política envolvida
Desde as eleições de 2018, o Grupo Globo é visto com maus olhos por muitos eleitores de Jair Bolsonaro, tendo em vista que adotou uma postura crítica em relação ao ex-presidente. Esse envolvimento com a política tem se arrastado por anos, é um fenômeno antigo. Uma das principais polêmicas do jornal O Globo com a política foi durante o golpe militar de 1964, quando se alinhou abertamente ao regime e favoreceu o autoritarismo. Mesmo após admitir que o posicionamento e apoio à ditadura foi um erro, é visível perceber que o jornal sempre foi responsável por moldar opiniões e ditar o que as pessoas pensam, por sua credibilidade.
A ideia de que se está na Globo é verdade, vem de muito tempo e, possivelmente, ainda quando a principal fonte de informação era o jornal carioca, se consolidando como uma das principais vozes da imprensa brasileira desde sua fundação e construindo o seu monopólio. A partir disso, muitas opiniões foram formadas com os textos exibidos nas folhas do jornal. Mesmo que esse conceito venha se modificando com o tempo, já que existem várias outras fontes de informação que se ajustam cada vez mais de forma personalizada aos ideais de quem consome as notícias, o Grupo Globo ainda possui uma credibilidade muito marcante à população brasileira e uma confiança que consegue ultrapassar todas barreiras geracionais.
Não é que O Globo tenha perdido força, mas o jornal impresso perdeu
O jornal O Globo perdeu a predominância no conglomerado e já não é mais o personagem principal do grupo, tendo em vista as modificações que precisaram ser realizadas para que a empresa ainda esteja entre as maiores. Na atualidade, e desde muito tempo, ganha quem consegue se reinventar e acompanhar as inovações tecnológicas e alterações de consumo. Roberto Marinho conseguiu reinventar a empresa e o próprio jornal com alternativas digitais, mas também outras formas de conteúdos transmidiáticos, fazendo com que jornal O Globo não tenha a mesma popularidade que tinha em um tempo sem televisão, streamings e telas.
Apesar disso, mesmo que com um público menor, o produto ainda é válido para os cariocas que possuem o costume e o gosto pela leitura física e também para brasileiros que gostam de ficar por dentro de notícias de modo eficiente e digital. Porém, as pessoas que migraram para a televisão e viciaram na voz impostada do William Bonner deixando o seu boa noite, ou até quem não consegue mais largar as redes sociais e quer acompanhar todas notícias lá, deixam de lado uma grande tradição que, para alguns, é indispensável nas suas rotinas.