Twitter e diferentes formas de noticiar
- 18 de maio de 2022
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Informações vindas de não jornalistas podem ser consideradas jornalismo? – Segue o fio.
Helena Cardoso
Que o jornalismo vem se reinventando com a popularização cada vez maior das mídias sociais, não é surpresa pra ninguém. Cada plataforma possui determinado tipo de público que, por sua vez, é atraído de formas variadas. Cada rede possui sua própria particularidade e modo através do qual o fazer jornalístico é exercido. Mas você sabe de que formas isso acontece?
O Twitter é uma rede social com mais de 284 milhões de usuários ao redor de todo o mundo. Criado em 2006, funciona como uma espécie de “SMS online”, onde os usuários publicam mensagens para seus seguidores em até 280 caracteres. Mas essa não é a única finalidade dessa rede. O jornalismo encontrou diferentes formas de adentrar esse meio e se reinventar dentro dele, seja guiando novos leitores a jornais digitais ou trazendo informações na própria plataforma.
Sempre que ocorre um fato importante, um dos primeiros lugares onde a informação chega é o Twitter. Rapidamente a notícia duplica, triplica e quadruplica de tamanho pela quantidade de pessoas comentando sobre o assunto. A facilidade de expor suas opiniões, interagir com a informação, e interagir entre os próprios usuários pode ser o motivo que o leva a ser uma das principais redes de relacionamento e informação disponíveis hoje.
Jornais oficiais
Uma das formas mais claras de manifestação do jornalismo no Twitter é a utilização de perfis de jornais digitais para divulgação de notícias. G1, Folha de São Paulo e Estadão são alguns exemplos de plataformas que utilizam essa estratégia. O modo como tentam atrair visualizações para o site é similar ao que ocorre no Instagram: uma pequena legenda que introduz o assunto e chama a atenção do leitor é colocada acima de um link para acessar a matéria na íntegra.
Embora esse seja o modo mais tradicional (dentro da ideia de tradicionalidade em uma rede social) de inserção do jornalismo no Twitter, existem outros que ainda são discutidos sobre se podem ou não ser enquadrados enquanto produtos jornalísticos.
Threads
Se você usa Twitter regularmente, provavelmente já reparou que quando um tema complicado de entender (como economia e política) está em alta, muitos perfis não-jornalísticos começam a tentar explicar através das famosas threads (fio, em inglês). Elas são muito utilizadas para se aprofundar em um assunto que não cabe no limite de 280 caracteres, explicando-o de forma clara e objetiva.
Um exemplo que repercutiu muito foi o caso do povo Yanomami. Em 14 de novembro de 2021, a usuária Luísa Molina publicou uma thread explicando sobre o descaso do governo federal para com esse grupo. Junto aos tweets, Luísa adicionou links de matérias de jornais como G1, Uol e El País. Essa atitude, além de mostrar aos leitores a fonte da informação, ainda os direciona ao site oficial dos jornais para lerem e pesquisarem por conta própria.
Claro que o jornalismo envolve muito mais do que apenas passar uma informação. Claro que, por si só, essa ação isolada não pode ser pautada como jornalismo. Entretanto, além de contribuir para maior visibilidade das matérias que serviram de inspiração, as threads ainda informam e instruem a população (principal objetivo do jornalismo).
Notícia viral
Seja nas formas tradicionais de se passar a informação ou não, o jornalismo no Twitter não se restringe necessariamente apenas a notícias propriamente ditas. É comum, ao abrir páginas de jornais on-line, encontrar tweets virais que se transformam em pautas.
Em cinco de maio deste ano, o usuário @MrVanDep relatou sua experiência com contas de banco invadidas. Ele teve o celular roubado e apps como Nubank e Banco do Brasil acessados. Após expor seu desabafo no Twitter, muitos perfis começaram a postar dicas para evitar ter as contas acessadas. Então sites de notícia publicaram suas próprias sugestões e, no dia dez, o Estadão publicou uma matéria intitulada “Como proteger aplicativos de bancos em caso de roubo de celular“.
Outro caso que repercutiu até os canais oficiais de notícia foi o da usuária @amandanmilanez, que mostrou seu avô Hédio comemorando mesversários após completar 90 anos. O tweet rapidamente viralizou, o que levou o G1 a publicar uma matéria sobre o caso dois dias depois. Já no Dia das Mães, em oito de maio, @CrisSilvaStar usou a rede social para desabafar sobre um dos seus modos de matar a saudade da falecida mãe: abrir o Google Maps e ver uma foto dela na porta esperando-o chegar. Um dia depois, o mesmo site de notícias contou a história deste usuário.
Adaptação e invenção
Embora isso não aconteça sempre de forma convencional, o jornalismo está muito presente no Twitter. Por ser uma das maiores redes de informação e o local onde a notícia chega mais rápido, essa plataforma é capaz de atingir mais pessoas e trazer mais discussões do que qualquer outra. As diferentes formas de exercer o jornalismo nessa mídia mostram sua pluralidade e sua capacidade de se adaptar aos diferentes formatos em que é veiculado.
As notícias, por virem de todos os lados, acabam se misturando entre informações reais, com fontes confiáveis e meros achismos. Embora traga muito conhecimento, nem tudo o que está no Twitter deve ser levado como verdade absoluta e inquestionável. Saber identificar e diferenciar a realidade das mentiras, pesquisando em sites oficiais, além da rede social, é um processo que demanda tempo, mas que é fundamental para não reproduzir Fake News que, dentro dessa plataforma, se propagam na velocidade da luz.