A televisão dentro da televisão
- 20 de maio de 2019
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- Thamires Mattos
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“A televisão me deixou burro, muito burro demais”. Assim começa o Tá no Ar: criticando.
Vitória Ribeiro
Sendo sincera, eu não conhecia o Tá no Ar. Sabia da existência de um programa de humor na Globo que fazia sátiras e paródias sobre as situações cotidianas do país, porém, nunca cheguei a assisti-lo. Um episódio marcante foi a vila militar do Chaves, que viralizou por um tempo na internet por criticar o comportamento do atual presidente. Cheguei a ver esta paródia no período pós-eleições, mas não tinha ideia de que fosse um programa de humor global. Quando procurei saber mais sobre a atração, descobri que o programa começou em abril de 2014, e tem seis temporadas. As produções encerraram-se este ano.
“A televisão me deixou burro, muito burro demais”. Assim começa o Tá no Ar: a TV na TV. É surpreendente a maneira que ele permite que o público mergulhe em vários formatos televisivos. No começo, fiquei um pouco confusa com as zapeadas, mas logo me acostumei com o conceito que queriam passar. Uma das coisas que me chamou atenção ao longo do programa foram os comerciais. Em um dos episódios, é exibida uma propaganda sobre um carro esportivo feito especialmente para fazer trilhas. Enquanto o comercial mostra a velocidade do carro dentro da mata, no trajeto, aparecem animais silvestres mortos e lixo, resultado de um dia de trilha. No final, há o slogan: “se você ama a natureza, faça sua trilha a pé”. Em outro comercial, os diretores relembram o caso da morte da vereadora Marielle Franco – ocorrida em 2018 no Rio de Janeiro – com a seguinte frase: “Marielle está presente, hoje e sempre”.
O programa contém seis personagens fixos. Dois deles me chamaram a atenção. O primeiro é um militante que surge no meio das programações como uma interferência da TV pirata. Nesse bloco, o personagem conta teorias da conspiração e críticas contra a Globo. Talvez retratar os furos da emissora de forma sarcástica e irônica tenha sido a forma que os diretores e o elenco encontraram para criticar o próprio conglomerado e seus consumidores. Tudo isso – como diria o militante – em forma de “mensagem subliminar”. Outro personagem é Obirajara Dominique, que aparece como apresentador em uma das programações do quadro TV Tupiniquim. Obirajara é um índio moderno e atualizado, desmitificando a imagem de que os indígenas estão sempre reclusos em suas ocas e sem qualquer contato com a tecnologia.
A exibição do Tá no Ar não é apenas uma forma de crítica e ironia à televisão e aos conteúdos que as demais emissoras nos oferecem, mas sim, um comentário sobre como os telespectadores consomem os conteúdos que lhes são oferecidos à ligeiras zapeadas pelos canais. A ansiedade e a inquietude permeiam tais comportamentos. Com muita ironia e humor em suas paródias de programas conhecidos pela massa, o elenco passa uma mensagem de conscientização e reflexão ao seu público. Portanto, não deixe que a televisão te deixe “burro, muito burro demais”.