Sem medo: The Guardian não foge do fogo
- 28 de outubro de 2020
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Antipatia pelo presidente Jair Bolsonaro e coberturas indispensáveis sobre as queimadas
Ana Clara Silveira
A trajetória do jornal britânico The Guardian não nega as tendências às pautas de esquerda. Embora esteja na Europa, o veículo se posiciona com veemência em todos os anos da sua existência sobre aspectos políticos e econômicos das mudanças internacionais. A América não escapa dos olhos do jornal que, como um guardião das notícias, não as deixa passar em branco sem as tornar alvos de discussões por todos os lados.
Incomum quando comparado a outros grandes portais, The Guardian se antecipa nas percepções de problemas que passam desapercebidos por outros. Por conta dessa caraterística veloz de noticiabilidade, a temática do pantanal brasileiro de maneira alguma poderia ser ignorada. Pelo contrário. A partir das notícias sobre as queimadas trágicas deste ano [2020], o veículo pôde reafirmar como encara com lamento as causas e consequências do desastre ambiental. E ainda esclarece a quem confere culpa.
Sem contradição, o jornal que já tinha se posicionado muito desfavoravelmente à política brasileira quando as queimadas na Amazônia em 2019 se tornaram capas no mundo. Assim, abriu novos espaços para que seu público encontre indícios da sua oposição ao presidente Jair Bolsonaro e seu plano governamental.
Apesar disso, não há forte apelo às questões políticas. De maneira simples, em dado momento, The Guardian entrega uma coleção de imagens com a realidade dos animais, moradores e outros que sofrem perdas diretas com as queimadas. O espaço na galeria mostra que, para além das notícias de cunho político, há sensibilidade em causar “náuseas” e revolta dos leitores sobre todo o quadro ambiental brasileiro e que se estende em parte da América Latina.
Mas claro que, quando é possível inferir em suas matérias a culpabilidade. Não se medem esforços para comprovar a falta de senso de Bolsonaro. “Mas o presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, parece desconsiderar a crise.” Essa e outras frases se reformulam em cada versão das reportagens e coberturas, mas não saem de circulação de forma alguma. Para The Guardian, o presidente brasileiro certamente não deveria ocupar o papel que representa. A ideia possivelmente será reforçada vez por vez enquanto dure a gestão e surjam outras problemáticas.
Sem palpos
Fato é que, The Guardian não tem medo de expor o que acredita e mais do que isso, traz à tona com riqueza de detalhes e fácil compreensão. Quem lê o jornal, pode estar seguro de ter uma cobertura interessante sobre a realidade dos temas. No caso do Pantanal, as fontes são primárias, necessárias e se encaminham para a reflexão. Para os absurdamente incomodados com a antipatia do jornal pelo atual presidente, vale recorrer a outros veículos. A verdade é que, a leitura sadia não descansa os olhos sob uma única opinião, mas busca os diferentes pontos de vista.
É importante procurar fontes de informação além das fronteiras geográficas. A percepção de como o mundo enxerga o Brasil pode ser uma válvula de escape para um país que tem explodido um pouco a cada dia com a polarização das ideias. Pouco diálogo e muitas manifestações, principalmente de ódio. Não para defender ou acusar pessoas do cenário político, mas a leitura de veículos de comunicação, como The Guardian e outros, prós ou contra o presidente, representariam um passo significativo contra o retorno do Código de Hamurabi para as relações sociopolíticas.