RADIS – Saúde além da saúde
- 8 de junho de 2015
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- Thamires Mattos
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Alysson Huf
A revista Radis não é uma revista comum de saúde. Ela faz parte do Programa Radis de Comunicação e Saúde, um “programa nacional e permanente de jornalismo crítico e independente em saúde pública”, segundo autodefinição em seu site. O projeto teve início em 1982 na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz). Na época, sua proposta foi considerada inovadora porque seu conceito de saúde era bem amplo, incluindo a qualidade e as condições de vida da população.
Por ser uma revista de saúde, reportagens de capa com títulos como Intolerância, Desafios da Educação ou Direitos Sociais soariam entranhas, não fosse a citada ampla conceituação de saúde do periódico. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde como “o completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de enfermidade”. Portanto, uma cobertura de saúde que inclua os problemas sociais da população faz todo o sentido, visto que não apenas corpo e mente afetam o indivíduo, mas todo o ambiente em que este se encontra. Ponto para a revista.
A partir de 2002, o Programa Radis deixou de ser apenas um transmissor de informações de saúde e passou a dar mais espaço para o diálogo entre população e especialistas. Mais uma vez em suas próprias palavras, o papel da comunicação se tornou “menos instrumental e mais central e estruturante no exercício da cidadania e na garantia do direito à saúde.” Por isso, as páginas do periódico não trazem apenas dados, pesquisas e informações de acadêmicos, mas apresentam também o que têm a dizer os profissionais e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), os movimentos organizados e a sociedade em geral.
Essa ideia de dar voz ao povo, aos sofredores, é bem presente nas páginas da revista. Ela tem uma pegada social muito forte. Na edição de janeiro de 2015, por exemplo, o periódico fez uma cobertura ampla a respeito dos efeitos do que eles chamam de “injustiça ambiental” sobre os moradores da região da Serra do Gandarela, em Minas Gerais, e de Açailândia, no Maranhão. A série de reportagens (Ameaça à Serra do Gandarela, A dor da resistência em Conceição do Mato Dentro, Nuvem cinza em Açailândia, entre outras) mostrou a revolta da população, as meias- verdades contadas pelos gerentes das obras e as consequências delas para a vida de milhares de pessoas.
É verdade que essa cobertura teve um tom quase panfletário, dando espaço apenas para a versão dos mais contrariados com a situação, mas, ainda assim, ela merece créditos por escancarar uma situação raramente explorada pela mídia tradicional. Outro ponto que deve ser enfatizado é que, na edição seguinte, a de fevereiro, eles complementaram o assunto noticiando o lançamento de um livro que abordará com mais profundidade o tema.
A interessante matéria Esplanada polêmica: novos ministros apontam busca de apoio do governo entre partidos aliados, na edição de fevereiro, apresenta alguns dos ministros indicados por Dilma no começo do ano e mostra as possíveis consequências negativas da posse desses políticos. Entre elas, o adiamento das discussões da Reforma Agrária, já que a ministra da Agricultura é contrária ao projeto. A revista ainda lembra que Aldo Rebelo, novo ministro de Ciência e Tecnologia, negou a existência do aquecimento global.
É claro que a revista não se resume a esses temas. Há muito espaço para a cobertura comum de saúde, com publicação de resultados de pesquisas, notícias de doenças e descobertas científicas, além das dicas de qualidade de vida. No entanto, o diferencial da revista Radis está em sua pegada social, na sua busca por sair do lugar-comum e procurar o que a grande mídia costuma ignorar. Ela quer ser relevante para seu público ao criar um diálogo entre os sofredores e aqueles que podem amenizar esse sofrimento. E isso faz toda a diferença.