A Rússia fraudou as eleições? – Dividir para conquistar
- 16 de junho de 2021
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As suas dúvidas são prova suficiente da efetividade do plano
Adalie Pritchard
Você acha que a Rússia interferindo nas eleições americanas é mais uma teoria da conspiração? Não é. Se alguma coisa é discutível, seria o “até que ponto”. Não é preciso invadir o sistema de contagem de votos para manipular os resultados de uma eleição, pois reformular as opiniões e atitudes do público é mais do que suficiente, e nem tão difícil. A arte da guerra tem evoluído. As redes sociais são a nova ferramenta de colocar em prática a estratégia do general Sun Tzu de dividir e conquistar os inimigos que nos dobram em tamanho.
A Rússia tem uma reputação de divulgar desinformação desde a guerra fria. Antes era feito de forma diferente do que agora. Na década dos 1980s, a KGB organizava campanhas de desinformação popularmente chamadas de “operation infeKtion”. Utilizavam uma lista de estratégias para propagar informações falsas de um jeito que era difícil de confirmar sua veracidade (não que os Estados Unidos seja inocente quando o assunto é interferência nas eleições dos outros, mas esse não é o foco agora).
Um dos casos mais marcantes foi o da pesquisa Segal. Foi divulgado nos meios de comunicação que o vírus do HIV teve origem artificial no Pentágono por meio de um laboratório biológico-militar. Como planejado, enfureceu o público e o fez duvidar do governo. O mito foi fabricado na Alemanha, longe de casa para esconder ainda mais as origens. A outra estrategia é utilizar um “idiota útil”, no caso, o pesquisador Jakob Segal, professor de biologia alemão nascido na Rússia.
Agora é diferente, mas as mesmas táticas são utilizadas. O governo Russo conseguiu se infiltrar nas plataformas de mídia social por meio de “bots” (robôs), utilizando contas artificiais para fazer postagens de cada extremo político. Criam um, logo milhões de outros compartilham as publicações até chegarem a americanos de verdade. Os bots aparentam ser hipsters ou conservadores do sul, por exemplo. Têm trabalhos, famílias e contas nas redes sociais faz anos.
O objetivo das propagandas do Kremlin é polarizar a população para causar inquietação social. Por meio de VPNs, os conteúdos aparentam ter sido postados nos Estados Unidos. Nas eleições americanas de 2016, os “bots” eram particularmente presentes no Facebook. Tem até conseguido organizar protestos reais. A proposta é dividir uma nação dividida ainda mais.
Agravando problemas que já existem
É extremamente difícil hackear os resultados das eleições americanas, pois não é uma eleição só, são mais de 50. Além disso, não são totalmente digitalizados ou feitos pela internet. As votações são registradas à mão e contadas tanto por pessoas como por uma máquina. A máquina não é conectada à internet por motivos de segurança e os trabalhadores das eleições são vigiados por um mínimo de membros de ambas as campanhas.
A teoria de que os russos manipulam diretamente o resultado dos votos é um exagero. Para que colocar a mão na massa se os mesmos cidadãos podem fazer dano por você? A realidade é bem mais bizarra e os efeitos são monumentais. Parece irônico a sociedade ser tão polarizada na era da informação. Nossas redes sociais são câmaras de ressonância que apenas confirmam o que já acreditamos. Ninguém aprende nada novo, pois nem uma opinião oposta à sua está disponível.
De acordo com Vladimir Putin, os hackers são pessoas livres iguais aos artistas. Tá tudo bem mentir em nome da liberdade de expressão? Se for, nenhum pecado foi cometido. A Rússia nunca criou problemas para os Estados Unidos, simplesmente agravou as divisões existentes como as de raça, religião e política.
Não é uma conspiração a influência da Rússia, mas o fato de que uma grande parte da população acredita nessa ideia, prova que eles têm manipulado o sistema político com sucesso. O objetivo era fazer os votantes duvidar do sistema. Por tanto, é preciso duvidar até das nossas dúvidas. Não confie em você.