“Quem mandou matar Marielle?”
- 2 de setembro de 2019
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- Thamires Mattos
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Um caso que possui um mandante ainda não identificado precisa ser acompanhado de perto pela imprensa, e não só quando a justiça libera alguma parte do inquérito
Gabriel Buss
Marielle Franco e Anderson Silva. Esses dois nomes já causam um turbilhão de sensações. Talvez, um filme venha à sua cabeça. Na noite do dia 14 de março de 2018, ao sair de um compromisso, a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco entrou no carro, onde o Anderson, seu motorista, a esperava. Ao saírem dali, não sabiam que estavam sendo perseguidos. Alguns quilômetros depois, foram executados por passageiros de outro veículo, que dispararam diversos tiros e sumiram do local. O crime virou notícia em todos os jornais do país. Não se falava em outra coisa.
Os meses se passaram, e as investigações seguiram de modo sigiloso. Um ano após o crime, os noticiários voltaram a falar de Marielle e Anderson. As ruas não haviam se calado – manifestações clamavam “Marielle Presente”. Mas, em março, um policial militar reformado e um ex-policial militar (PM) foram presos sob acusações de dispararem contra a vereadora e seu motorista. Segundo as investigações, o PM reformado havia feito a execução, e o ex-PM estaria dirigindo o veículo. Um detalhe foi destaque na mídia: o PM reformado morava no mesmo condomínio que o presidente Jair Bolsonaro na Barra da Tijuca.
Mas, novamente, a grande imprensa deixou o assunto de lado, mesmo sem o desfecho do caso. Ainda não há resposta para o “Quem mandou matar Marielle?”, bandeira que o PSOL, partido da vereadora, leva consigo. Apenas dois veículos de peso nacional, mas que não são baseados no Rio de Janeiro, continuam a perseguir a pauta. São eles: Correio Braziliense, localizado em Brasília, e o Zero Hora, com endereço em Porto Alegre, ou seja, dois lugares bem distantes de onde a vereadora era inicialmente popular.
Ambos nunca deixaram de trazer informações sobre o caso e de conversar com os familiares das vítimas. Inclusive, em agosto de 2019, o Correio Braziliense fez uma entrevista exclusiva com a viúva de Marielle, Mônica Benício. Algo há de se destacar sobre isso: jornais que são mais regionais podem sim realizar uma cobertura maior e melhor do que grandes veículos sobre determinados assuntos. É o caso deste crime contra a vereadora e seu motorista.
Um caso como esse que envolve muitos e possui um mandante que ainda não foi identificado precisa ser acompanhado de perto pela imprensa, e não só quando a justiça libera alguma parte do inquérito ou a polícia prende um/a suspeito/a. Ao estar constantemente atrás de informações sobre o caso e divulgar o que de fato está sendo feito, se faz prestação de contas para a sociedade. Isso é jornalismo. Devemos valorizar mais os jornais regionais e seus trabalhos. Zero Hora e Correio Braziliense se mostram preocupados e atentos para a elucidação do crime, e não apenas interessados em conseguirem visualizações com grandes feitos de investigação. O jornalismo brasileiro precisa de mais veículos assim, dedicados à apurações corretas e à prestação de serviços à população; não apenas réplicas do que parte da sociedade quer ouvir. Um brinde à cobertura completa que vem sendo feito por esses dois meios de comunicação.