Preocupados… Amazônia ou Bolsonaro?
- 30 de setembro de 2019
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- Thamires Mattos
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De gigante pela própria natureza a mera fuligem, o Brasil queima lentamente a espera de uma solução
Ana Clara Silveira
Em época de romantismo brasileiro, Gonçalves Dias exclamava com patriotismo ímpar a beleza da terra amada. A descrição em “Canção do Exílio” tratava com singularidade as formas naturais mais evidentes do país, mesmo que a tenha escrito a distância. Infelizmente, as “palmeiras” exaltadas pelo poeta em 1843 perderam espaço desde que a nação brasileira e o mundo têm chorado as perdas irreparáveis na Floresta Amazônica, resultado da sequência de incêndios que foram registrados principalmente em 2019.
Fato é que, em boa parte, as queimadas não podem ser consideradas extraordinárias, pois os números revelados pelo Fundo Mundial para Natureza (WWF, na sigla em inglês) já atestam como irreversível o dano causado a floresta nos últimos 50 anos. A área total já foi reduzida a 20% do original. Os dados evidenciam como o problema é antigo, embora tenha sido potencializado nos últimos meses. A Floresta Amazônica não pertence apenas ao Brasil, mas se expande por outros oito países, e representa a maior floresta tropical do mundo, além de ter altíssima concentração de água doce.
O jornal Estado de São Paulo, conhecido como Estadão, é um periódico brasileiro em circulação desde 1875. Além do reconhecimento em todo o Brasil, o Estadão interfere diretamente na perspectiva de milhares de pessoas por meio da forma que veicula suas notícias, com maior impacto na capital paulista.
O Estadão defende a democracia do país, e, em boa parte dos casos, aponta para posicionamentos que tangenciam os interesses da centro-direita brasileira. No entanto, ultimamente, seu posicionamento anda nebuloso. Ao falar de Jair Bolsonaro, nota-se uma tímida oposição aos esclarecimentos do chefe de estado que representa a direita. Ainda assim, não é uma opinião que grita, mas aparece contida entre expressões de uma matéria ou outra que apontam ineficiência presidencial.
Essa afirmação se confirma tomando como exemplo a matéria publicada em 22 de setembro de 2019 em que se comenta a interferência de outros países na soberania brasileira sobre a Amazônia. Ao contrário de outros veículos que condenavam os posicionamentos de ajuda feitos por Emmanuel Macron, presidente da França, o Estadão utilizou a seguinte declaração de um dos funcionários do governo: “A retórica do presidente não ajuda em nada. De fato, isso atrapalha, mas os líderes europeus estão usando o Brasil para obter seus próprios ganhos políticos em casa”. Ainda que a fonte destaque a intenção internacional controversa, não aponta o presidente brasileiro como bom orador ou defensor dos interesses do país e, ao que parece, o redator não estava preocupado em omitir isso, mas tornar evidente por ser o ponto de partida da informação.
Uma das críticas ao Estadão é que há preocupação extrema em aliar as queimadas a todas as atitudes de resposta do presidente. É fundamental que se discuta a questão política, mas, ao buscar informações rápidas sobre os locais que têm sido atingidos, as consequências ambientais, a análise de especialistas e aspectos gerais do que tem acontecido demanda muito tempo e paciência, falta conteúdo.
Nota-se uma abordagem negativa até mesmo em busca de apoio e/ou em resultados favoráveis à imagem do Presidente do Brasil. Em uma das matérias, comenta-se que o presidente convidou Ysani Kalapalo – indígena que o considera inocente no que diz respeito as queimadas – para assistir presencialmente seu discurso na ONU (o que foi, de fato, real). Ela culpa as fake news pela imagem criada sobre Bolsonaro. No entanto, boa parte do texto se ocupa em evidenciar a oposição de outros indígenas a ela. Mais uma vez, o Estadão coloca em xeque o posicionamento da presidência.
Por fim, ao contrário do que foi escrito por Dias, nossos “bosques” não têm mais vida como antes e as fontes celebradas pelo poeta se esvaem por entre os dedos do mundo. Infelizmente, o Estadão parece estar mais ocupado em defender ou não ao presidente Jair Bolsonaro. Aparentemente, de “gigante pela própria natureza”, o Brasil se apequena a cada foco de incêndio que se acende, enquanto as lutas pela Amazônia parecem cada vez mais apagadas.