Pirataria? Tô dentro!
- 24 de abril de 2024
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- Theillyson Lima
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O Brasil é o 5º país que mais consome pirataria.
Isabella Maciel
Na era dourada da tecnologia, na qual a oferta de conteúdo audiovisual é vasta e “acessível”, a pirataria ainda se mantém como uma das melhores alternativas para muitos brasileiros. Mesmo com diversas plataformas de streaming e serviços de entretenimento, por que tantas pessoas ainda escolhem o caminho da pirataria?
Enquanto os serviços de streaming lutam para adicionar mais produtos em seu catálogo, a acessibilidade e a disponibilidade do conteúdo se tornam um desafio para o consumidor. Neste cenário, a pirataria surge como uma solução pragmática, se não a única, para aqueles que buscam acesso a uma variedade de conteúdos sem comprometer a experiência do consumo do audiovisual e seus valores salgados.
As razões para recorrer à pirataria são muitas. Além das questões financeiras, a fragmentação do mercado de streaming também desempenha um papel significativo. Com o crescimento de serviços de assinatura, cada um com seu próprio conteúdo exclusivo, os consumidores se veem divididos entre pagar uma assinatura que cabe no bolso, mas não atende todos os seus desejos, ou recorrer à pirataria para acessar diversos conteúdos.
“O streaming que cabe no seu bolso!” (No bolso de quem afinal?)
O cenário econômico desempenha um papel crucial. Com salário mínimo insuficiente para cobrir as despesas básicas, a ideia de desembolsar mensalmente para ter acesso a múltiplas plataformas de streaming torna-se um luxo inalcançável para muitos.
O que era para ser uma alternativa acessível à televisão a cabo, agora se tornou uma salada de assinaturas com preços exorbitantes, deixando os consumidores com uma sensação de que estão sendo extorquidos. Além de uma plataforma não ter um vasto catálogo e o consumidor necessitar assinar outras, tendo que recorrer a planos de assinatura baixos, com péssima resolução e anúncios estragando a experiência.
No Brasil, o recente aumento nos valores dos serviços de streaming resultou em consumidores desembolsando até R$ 199,19 ao mês para acessar uma variedade de opções de entretenimento em vídeo incluindo: Apple TV+, Amazon Prime Video, Crunchyroll, Disney+, Globoplay, Max, Looke, Netflix, e Paramount+. Esse valor é a soma dos planos básicos, incluindo anúncios e baixa resolução. O consumidor brasileiro precisa desembolsar 14,10% do salário mínimo para ter um acesso “meia boca”, à cultura e entretenimento.
De certo modo, o que anteriormente se caracterizava pelo consumo concentrado em pacotes de TV por assinatura e muitos canais, a atual tendência é a adesão a mais canais digitais pagos individualmente, e com ela, a expectativa de uma seleção de conteúdo mais rica. De acordo com dados da Anatel, entre 2022 e 2023, a TV por assinatura registrou uma queda de mais de 2,18 milhões de assinantes no Brasil.
Maior custo equivale a uma experiência ampliada?
Será que um plano mais caro e uma maior quantidade de serviços de streaming significam uma experiência superior para o consumidor? Em teoria, sim, mas na prática, isso nem sempre se aplica. Até porque, se considerar o fato de que, em meio a esse vasto volume, até mesmo o consumidor tem dificuldade em definir o que procura…
A qualidade de imagem é uma preocupação constante dos consumidores do audiovisual. Em um mundo onde a tecnologia avança em ritmo frenético, é inaceitável que alguns serviços de streaming ainda ofereçam resoluções de imagem abaixo do padrão esperado por um preço mais acessível. Enquanto algumas plataformas oferecem conteúdo em qualidade 4K, cobrando mais caro, outras mal conseguem entregar resoluções decentes, deixando os espectadores insatisfeitos e sedentos por alternativas.
É fundamental reconhecer que a pirataria não é uma solução ideal. Ela prejudica uma indústria imensa, privando-os de receitas que poderiam ser reinvestidas em novos projetos e na expansão da oferta legal de entretenimento. Além disso, a pirataria muitas vezes expõe os consumidores a riscos de segurança cibernética, como malware e phishing.
No entanto, demonizar os consumidores que recorrem à pirataria ignora as realidades econômicas e os buracos na oferta legal de entretenimento. Em vez de criminalizar os indivíduos, é imperativo que as indústrias de entretenimento e os legisladores abordem as raízes ocultas da pirataria. Isso inclui tornar o acesso ao conteúdo mais acessível e abordar as restrições geográficas que limitam a disponibilidade global de entretenimento.
A pirataria é um sintoma de um sistema de entretenimento que falha em atender às necessidades e às demandas de um público diversificado. Em um mundo ideal, os consumidores não seriam forçados a escolher entre pagar preços exorbitantes ou recorrer a meios ilegais para acessar o entretenimento que desejam.
Enquanto a indústria luta para se adaptar a essa nova realidade digital, é essencial que se comprometa a encontrar soluções que beneficiem tanto os consumidores quanto os criadores de conteúdo, garantindo um ambiente de entretenimento mais justo e acessível para todos.