Patrocínio: a única “falta” que não leva cartão
- 30 de agosto de 2023
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- Theillyson Lima
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Quando o dinheiro entra em campo, é a desigualdade que vence o jogo.
Helena Cardoso
Ruas pintadas, comércios decorados em verde e amarelo, camisas do Brasil e folgas do trabalho em dias de jogo: coisas extremamente comuns no fim do ano passado, mas raras no meio desse. O patriotismo e o ânimo da torcida foram substituídos pela falta de interesse, e até fanáticos por futebol parecem ficar mais “acuados” quando a Copa do Mundo recebe a palavra “Feminina”.
Tal sentimento alcança até mesmo as empresas, responsáveis por patrocinar (ou melhor, não patrocinar) o torneio. Enquanto a Copa do Mundo 2022, sediada no Catar, faturou 7,5 bilhões de dólares, a Fifa prevê uma arrecadação de 227 milhões de dólares para a Copa do Mundo Feminina de 2023. Além disso, a federação distribuiu 440 milhões em prêmios no torneio do último ano, 290 milhões a mais do que foi entregue no evento atual.
Rainha com “salário” de plebéia
Entretanto, patrocínios não precisam ser para o time como um todo – as marcas podem escolher apoiar um jogador específico. Sob o título de Rainha, Marta, a camisa 10 do Brasil, possui acordos vigentes com a Centauro, a Ruffles e a linha de medicamentos genéricos do laboratório Neo Química. Enquanto isso, Neymar, camisa 10 da seleção masculina, acumulava mais de 30 marcas apoiadoras em 2018.
Já os poucos que decidem investir no esporte feminino ainda o fazem de “má vontade”. Nas últimas copas, Marta usou chuteiras sem patrocínio por considerar as propostas das marcas injustas. Ela possuía contrato com a Puma, mas em 2018, na época da renovação, a fornecedora de materiais esportivos a ofereceu menos da metade do valor que já pagava.
Foi em meio a esse cenário que nasceu a Go Equal, marca lançada em parceria com a Centauro em julho. Segundo a atleta, todos os royalties serão revertidos para projetos de empoderamento e protagonismo feminino no futebol. Ao contrário do que muitos podem pensar, Marta já deixou claro que não é sobre dinheiro: é sobre igualdade de gênero.
Mesmo com todas as polêmicas, a Rainha do futebol continua sendo uma das mais procuradas pelas marcas (só pra você ter uma noção de como funciona para as outras atletas). A maior parte de suas colegas de equipe possui acordos com apenas uma fornecedora de material esportivo, enquanto outras não têm contrato fechado com ninguém.
Ano de recordes
Entretanto, não é só o valor e a quantidade de patrocínios que muda, mas o próprio perfil de quem se atreve a oferecer suas migalhas. Enquanto marcas de cerveja fecham aos montes acordos com jogadores homens, Tamires, do Corinthians, firmou parceria com o analgésico feminino Buscofem. Mesmo assim, pode-se dizer que, a passos de formiga, esse cenário vai se alterando.
Esse foi o primeiro ano em que a Budweiser, uma das patrocinadoras oficiais da Fifa, apoiou a Copa do Mundo Feminina. Se parar para pensar, esse foi o primeiro ano de diversos acontecimentos relacionados ao evento, muito marcado por recordes. Houve alta de mais de 150% em relação ao torneio de 2019, e a Fifa anunciou que vendeu todas as cotas disponíveis, com uma previsão de faturar altos valores em marketing.
Sem querer afirmar nada – mas já jogando alguns pensamentos -, talvez tais recordes sejam apenas formas de marketing de oportunidade. Seja como for, a intenção das marcas ao engajarem com esse tipo de evento não importa tanto. O importante, no momento, é que parece estar dando certo.