Para ter é necessário merecer
- 1 de dezembro de 2021
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Importância do esforço para o sucesso virou pesquisa científica. Nunca foi sorte.
Franciele Borges
Fomos adaptados a classificar a inteligência como um ponto a mais na frente do trabalho e dedicação. Pontuações na universidade, ascensão para o cargo mais alto da empresa, escolha de um em desfavor de outro, trazem confiança quando o QI do candidato é quesito principal a ser avaliado. Elogios à capacidade intelectual incentivam a pessoa a ser sempre a melhor no que faz, pois não só o elogio como a recompensa, mas as mudanças que esse estudo pode proporcionar.
No entanto, há uma pesquisa científica que desmistifica a inteligência como fator determinante para o sucesso. Ela é importante, mas não prioridade. Afinal, nem todos possuem o suficiente para resolver um Teorema de Pitágoras ou desenhar o projeto de uma ponte se não depender da persistência para compreensão, por exemplo. Em vista dos que conseguem resolver essas questões e criar outros projetos com apenas a força de um cérebro pensante, resta a ideia do fracasso para quem tem mais afinidade com o esforço. Quando o esforçado consegue, acredita-se que foi por sorte.
A pesquisa
Carol Dweck, professora de psicologia na Universidade Stanford e autora do livro Mindset, defende a valorização da diligência. Em suas pesquisas feitas por mais de trinta anos com crianças e adultos, observou que enfatizar o intelecto acima do empenho pode deixar a pessoa vulnerável ao medo do fracasso e inferioridade. Com essa divisão dos mais cultos com os mais esforçados, o indivíduo não aceita desafios e perde a vontade de aprender novas ideias.
Com experiência como aluna e trabalhando sobre o assunto depois de adulta, Carol explica o porquê dessa separação em vez da junção das duas ideias: “Já vi inúmeras pessoas que têm o único objetivo de provar a si mesmas — na sala de aula, na profissão e nos relacionamentos. Cada situação exige uma confirmação da inteligência, da personalidade ou do caráter delas.”, ressalta.
Visivelmente o problema encontrado é que essa crença faz com que a sociedade veja os desafios, erros e necessidade de exercer um esforço como ameaça ao seu ego intelectual. Portanto, ficar estudando por horas, desenvolver um projeto que exige tempo para aprendizado, não é atraente para elas.
Esforçar-se faz bem
Um provérbio antigo diz muito a respeito do valor que o esforço tem: “quem se esforça no trabalho enriquece.” Tem outro mais interessante como: “O trabalho é a fonte de todas as riquezas.”. Ou seja, dizer que a pessoa tem o que tem foi porque teve muita sorte na vida, parece incoerente. O jeito mais rápido e menos trabalhoso parece o melhor. Entretanto, os recursos se extraviam facilmente em vista daquele que chegou ao nível desejado com determinação.
O esforço é capaz de edificar o ser humano, uma vez que ele o mantém longe da ociosidade e da comodidade. Não apenas o leva para mais longe no quesito material, mas no mental, pois, segundo a pesquisa de Carol “a atitude mental com que vivemos a vida (o que ela denomina “mindset”) é determinante para nosso sucesso ou fracasso, não apenas nossas habilidades e talentos.”
A preocupação de mostrar o esforço como um dos valores que a pessoa deve carregar em si, tem feito que afortunados famosos e com dinheiro de sobra deleguem aos seus herdeiros a função de ir em busca do seu próprio sucesso. Nada de ‘mão beijada’ ou inteligência.
Fazer acontecer
Gloria Vanderbilt, socialite norte-americana falecida em 2019, expressou em 2014 que achava que herança era uma “maldição”. Este ano, seu filho, Anderson Cooper, disse em uma entrevista para o podcast “Morning Meeting” que não deixará sua herança para seu filho de dois anos. “Não estou tão interessado em dinheiro, mas não pretendo passar adiante algum tipo de pote de ouro para meu filho. Vou fazer o que meus pais me disseram: ‘Sua faculdade será paga, e em seguida você precisa seguir (por conta própria)’.”
Assim como alguns milionários cresceram com muito esforço, e reconhecem que sem o empenho das faculdades físicas e a persistência não estariam onde estão, cabe a reflexão de onde se quer chegar acomodado na inteligência, que não está errado em ser apreciada e adquirida ao longo da vida, mas que não deve ser priorizada.
Por fim, permitir dizer “não sei, eu errei e vou procurar acertar na próxima” é um exercício que todos deveriam incentivar uns aos outros em vez de colocar o potencial de A ou B como exemplo a ser seguido. Deweck acredita que “embora as pessoas possam se diferenciar umas das outras de muitas maneiras — em talentos, aptidões iniciais, interesses ou temperamento —, cada um de nós é capaz de se modificar e se desenvolver por meio do esforço e da experiência”, afirma.