O preconceito midiático da Fox News
- 30 de outubro de 2019
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- Thamires Mattos
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Com um público majoritariamente conservador, a Fox News exterioriza seu apoio à Donald Trump de modo constante
Amanda Ferelli
Em julho de 2019, o canal televisivo Fox News alcançou a média de 1,4 milhão de espectadores diários, segundo a empresa global de informação Nielsen. Além disso, em 2018, o site de notícias da empresa aparece entre os portais mais acessados dos Estados Unidos com 65 milhões de visitantes por mês. Sua relevância não é questionável. De fato, na última eleição presidencial norte-americana, a Fox News desempenhou um importante papel na história do país.
Com um público majoritariamente conservador, seu apoio ao então candidato republicano Donald Trump não surpreendeu ninguém. Embora tenha agido, em certos momentos, como porta-voz, e com sua declaração de apoio ao atual presidente, o relacionamento entre Trump e Fox News não é perfeito. Em suas redes sociais, o chefe de estado norte-americano já demonstrou descontentamento com algumas publicações do portal.
Por sua vez, o enfraquecimento na relação entre Trump e Fox News não impede ou modifica o posicionamento da emissora quanto às pautas defendidas e atitudes tomadas pelo presidente. Recentemente, ele se envolveu em um escândalo ao dizer para quatro deputadas de diferentes grupos étnicos que, em tradução livre, “deveriam voltar para onde vieram”. O acontecimento tomou parte no mês de julho de 2019, e o portal Fox News realizou a cobertura. Neste mesmo mês, outras acusações de racismo foram direcionadas ao presidente norte-americano. Além disso, Donald Trump já foi intitulado como xenofóbico, homofóbico e machista por suas declarações.
O exemplo do ataque às quatro deputadas pode ser destacado. O fato foi densamente comentado no programa Media Buzz. O âncora do programa, Howard Kurtz, discute pautas com três comentaristas de diferentes opiniões e ideologias. O debate ocorre naturalmente, e as falas são de fácil entendimento. Um dos convidados para comentar – ou, nesse caso, esclarecer – o tema foi o assessor político do Partido Republicano Hoogan Gidley. Ao explanar o assunto, Gidley passa para um segundo ataque ao afirmar que as quatro deputadas que se posicionaram contra várias declarações do presidente Donald Trump eram, na verdade, contra a América. Evidente que o seu papel como assessor deveria ser comunicar o posicionamento da Casa Branca sobre o ocorrido.
Assim como no Brasil, a polarização política é um fator recorrente nos Estados Unidos. Essa questão é evidenciada diariamente nos portais de notícias. A Fox News, como um dos principais portais conservadores, manifesta-se a favor do presidente na maior parte das vezes. Em muitos casos, como o citado acima, exterioriza seu apoio em questões relacionadas aos valores promovidos pelo mesmo e pela população conservadora.
A Fox e o preconceito
Durante a análise, uma reportagem chamou atenção. No início de outubro de 2019, um médico perdeu o emprego por não utilizar o pronome requerido por uma paciente transexual no Reino Unido. O ponto principal da reportagem é a liberdade religiosa. O intuito da matéria era demonstrar a falta de respeito sofrida pelo médico ao optar por referir-se à paciente com pronomes masculinos. A vítima do preconceito em questão não foi ouvida, e, em nenhum momento é mencionado se a mesma fora contatada para uma entrevista ou posição oficial. Os direitos fundamentais da paciente mencionados apenas quando a reportagem apresenta a decisão da Corte Britânica. Os atos do médico foram julgados como incompatíveis com a dignidade humana. Este acontecimento toma apenas dois parágrafos do texto, enquanto declarações do médico e de outras fontes a favor de sua atitude compõe todo o restante.
Além deste exemplo, é possível observar o preconceito exibido pela Fox News nas manchetes de suas reportagens. Pode-se notar as diferenças nas chamadas dos textos quando são abordados acontecimentos envolvendo pessoas de diferentes etnias. Em matérias sobre crimes cometidos por brancos, as descrições giram em torno de suas profissões, cargos ou ocupações. Por outro lado, quando são notícias sobre negros, latinos, muçulmanos ou outras minorias étnico-sociais, os indivíduos são retratados pelos crimes que cometeram.
Já que conservadores são conhecidos por defenderem a manutenção de instituições sociais tradicionais, não surpreende o portal da Fox News manter uma seção chamada Faith and Values – traduzida para o português como “Fé e Valores”. Esses e outros fatores identificam a linha editorial da Fox News. Por mais que sejam perceptivas essas diferenças, elas não chamam a atenção do público do portal.