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O novo que resgata o velho

  • 24 de setembro de 2025
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  • Theillyson Lima
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Quanto mais o jornalismo quer se adequar aos avanços, mais para trás ele fica.

Nátaly Nunes

“​​Matéria de conteúdo, informativa e só apresentando fatos reais. Que saudade desse tipo de jornalismo. Esse vídeo tem que circular nas redes sociais”. Inicio o texto com esse comentário que encontrei despretensiosamente em um vídeo reportagem da BBC no YouTube, que por incrível que pareça, carrega todo o posicionamento dessa análise. Para a professora Heidi Tworek e o jornalista John Maxwell Hamilton: “Nas nossas ‘notícias’ de hoje, podemos ver o fofoqueiro, o panfleto partidário, o jornal de opinião recôndito, o jornal amarelo, o jornal de comércio, a irmã chorosa, o jornal literário e o jornalista progressista.” Conhece a expressão “se perdeu no personagem”? 

Primeiramente, para justificar que o jornalismo não deve mudar, precisamos de um ponto de partida para conseguir relacionar, comparar e basear os argumentos. Você, leitor, deve estar pensando que este debate vai servir apenas para atacar as novas tecnologias e mostrar como isso está estragando o “jornalismo de verdade”, mas, toda essa questão nem é tão atual como parece.

Para receber notícias em Paris no século XVIII, as pessoas iam até a Árvore de Cracóvia, uma castanheira no meio da cidade. Ali, jornaleiros espalhavam as notícias no meio de fofocas, boatos e invenções. Só três séculos depois o jornalismo se consolidou como principal forma de divulgação de notícias. Depois disso, em meados do século XX, após o jornalismo americano passar pelo seu ápice e ter prosperado no período pós-guerra, no qual os anúncios representavam uma grande parte dos jornais, a maioria dos leitores passou a não se importar mais com as notícias políticas ou estrangeiras. Na tentativa de voltar a atenção do público, o conteúdo voltou a ser opinativo, sensacionalista e irresponsável. 

Portanto, entende-se que esse não é um questionamento recente e que precisamos encontrar um lugar para se firmar, pois toda vez que o jornalismo abre uma brecha, ele se perde.

É bom salientar que: se algo é defendido para não mudar, não quer dizer que ele será ultrapassado, principalmente quando se refere ao jornalismo, que está longe de ser uma profissão “quadrada” e tem um grande alcance. Ao falar sobre as transformações do jornal, o Observatório da Imprensa trouxe a seguinte frase relacionada ao século XIX: “Os jornais não apenas forneciam informações sobre fatos recentes, como encorajavam mudanças de atitude”. Isso reforça a ideia de que jornalismo e mudança podem caminhar juntos, mas como uma consequência do trabalho do profissional para o público.

Não é querendo me render à “síndrome de Gabriela”, mas justificando essa “quase rendição”, defender que algo deve ser imutável não é tão difícil quando um sistema bem consolidado já dá certo em um formato há muito tempo. Ser adaptável faz parte do jornalismo, tanto que essa é uma profissão conhecida por ser bem dinâmica, mas existem pilares e limites dentro disso. E eu não digo isso me referindo a algum livro de regras ou algo do tipo, e sim a forma como o jornalismo (aquele sério, raiz)  já tem confiança pela sua forma de tratar as situações. 

Respeite o lead

O que? Quem? Como? Quando? Onde? Por que? Essas são perguntas básicas que uma simples notícia deve responder. Mas como elas estão sendo respondidas?

Na forma de se portar. Já teve a sensação de que não estava assistindo uma entrevista séria e sim o videocast PodPah? Ou já se deparou com uma cena na televisão na qual o programa estava cuspindo fofocas e do nada a jornalista/apresentadora se enfia ao vivo no meio de uma investigação policial envolvendo a vida de uma estudante e liga para o sequestrador e tenta convencê-lo de não fazer nada de ruim? A forma do jornalista se portar vai muito além da questão sobre usar apenas terninho ou camiseta de banda de rock; vai muito além de se eu devo ter uma boa postura ao sentar na cadeira ou posso ficar com as pernas cruzadas pois eu apresento um programa em um sofá. A imagem séria do jornalista carrega nas costas a longa história de um bom condutor de informação. 

Na escrita. Conhecidos por ter um bom portugês, com uma linguagem clara e objetiva, hoje, os jornalistas parecem querer atingir um público mais jovem ou até mesmo se enquadrar em modinhas apenas para chamar a atenção (no sentido ruim da palavra, como se fossem adolescentes querendo a atenção das amigas para contar uma fofoca). O sensacionalismo virou regra. Palavras como: “chocante” e “bizarro” são chocantemente e bizarramente usadas em coberturas que deveriam ser sérias. O famoso “clickbait” é quem determina como um título vai ser feito, e não uma base concisa aprendida na faculdade de jornalismo que é a sequência de sujeito, verbo e predicado.

Na apuração. Longas pesquisas, idas até o local, entrevistas profundas e colocar a cara a tapa (Tim Lopes esteve aí para provar isso), agora se resumem ao comentário da “dona Maria” que afirma que a Ana Castela e o Zé Felipe estão namorando. Pronto! Achismos que estampam a capa dos jornais. Mas isso não é nada perto do caso do atentado em Boston, em 2013, quando o site New York Post reproduziu comentários da rede social Reddit apontando jovens (inocentes) como terroristas. Achismos que infelizmente ditam a verdade até que a verdade dita. “Pressa, preguiça e ignorância”, palavras do antigo ombudsman Carlos Eduardo Lins ao descrever a atitude de jornalistas.

Um texto publicado pela plataforma Gente, do grupo Globo, trouxe a alegoria que a arma do jornalismo é a apuração e a armadura é a credibilidade. O jornalismo já é bem consolidado, querer mudar e se moldar aos novos formatos pode fazer toda essa base cair por terra. Muito tem se falado e defendido essa mudança, mas é preciso cuidado, pois estamos prestes a cair em uma armadilha.

Na transparência. Deixar claro que o conteúdo está sendo patrocinado e não em letras miúdas, ter uma página específica para erratas e não sumir com a matéria e fingir que o erro nunca existiu, explicar quem são os financiadores e ter uma linha editorial detalhada. O jornalismo pode até ser visto pelo público diante de uma parede, mas que ela seja de vidro e bem limpa. Um estudo da Reuters trouxe dados interessantes sobre o assunto. Atualmente, os brasileiros lideram o ranking com 78% de pessoas acreditando que as organizações de notícias tentam esconder seus próprios erros. E não para por aí, 43% acreditam que os profissionais da imprensa tentam manipular o público e 36% acredita que os jornalistas são pagos pelas suas fontes. 

Culpado!

O mal (ou não) do ser humano é sempre querer achar um culpado para os problemas e se tirar do alvo. Pois bem! Como o público tem se portado diante do jornalismo? Será que a culpa é nossa por não saber mais atingir as pessoas ou a culpa seria do público que está fechado a receber a informação do jeito jornalístico?

Existe uma parcela dos leitores que só querem ouvir o que convém. O jornalismo pode continuar o mesmo do século XVI ou ser feito por inteligência artificial que eles não vão estar satisfeitos. A busca pelos sites de notícias, por exemplo, não é baseada na informação em si e sim naqueles que escrevem apenas palavras que reforçam um pensamento (que muitas das vezes já vem incorreto). 

Déficit de realidade. Em entrevista ao podcast Inteligência Ltda, o jornalista e escritor Felipe Moura Brasil diagnosticou um determinado público com este déficit de realidade. Para ele, quando alguém que está imerso em seguir um conteúdo parcial e que se baseia apenas nos discursos, se depara com o oposto, que é o mundo real e das atitudes, ele toma um susto. “Às vezes esse susto é manifestado na hostilidade. O sujeito hostiliza você. ‘Como assim você está falando do representante de Deus, pátria família?’, ‘Como assim você tá falando do representante de igualdade, justiça social, direitos humanos e democracia?’ ”. 

Parcialidade. Nesse comportamento, principalmente na política, o jornalismo e o público dividem a culpa. Veículos que assumem lados políticos comprometem também 100% a sua apuração. Nem que seja explicitamente ou com posicionamentos escondidos nas entrelinhas. Isso priva as pessoas de simplesmente receberem o fato. O difícil é que a expressão “enquanto tem gente dando risada, o palhaço não para o espetáculo” fica cada vez mais enraizada. 

Se reencontrar para se destacar

“O jornalismo atravessa uma encruzilhada decisiva. Ou reencontra sua alma ou mergulha na irrelevância”, esta frase foi retirada de um texto do jornalista Carlos Alberto Di Franco para o Estadão. Em sua análise, ele chama o momento atual de paradoxal, porque nunca se produziu tanto conteúdo e nunca foi tão difícil saber o que é informação confiável dentro das narrativas. O autor vai costurando o texto mostrando que ressignificar não precisa necessariamente ser uma mudança do agora para algo novo, e sim, no caso do jornalismo, uma mudança do agora para algo que ele já foi. “O jornalismo não pode ser instrumento de ressentimento. Tem de ser, com coragem e humildade, um serviço à verdade e à liberdade”. 

Segundo uma pesquisa da Comscore em 2022, aproximadamente 96% dos usuários brasileiros consomem conteúdos jornalísticos em seus dispositivos e o local favorito para isso é o Instagram. Para a diretora sênior da Comscore no Brasil, que realizou uma entrevista para a RBT, esses dados evidenciam ainda mais a importância de boas fontes de comunicação em todos os meios. Em suma, a pesquisa é clara em dizer que grande parte da população está procurando informação em um meio “atual” (as redes sociais) e o perigo é que dentro dela qualquer um consegue “dar notícias”. Usuários das redes sociais não participam de uma reunião de pauta, não apuram os fatos e não tem um editor, eles são como as novas árvores Cracóvia de Paris. Ali, a fofoca e os boatos se sobressaem. Diante de toda essa enxurrada de informações, o jornalismo precisa simplesmente se destacar! 

Encarar a nova realidade com os óculos dos likes, visualizações e modernidades, acaba deixando o leitor em último plano. Os conteúdos moldados para atender as exigências de um portal e seus patrocinadores quebram a confiança do público, que fica sem saber no que acreditar e já chega desconfiado. 

Se me permitem contar um relato pessoal, existem alguns textos que eu leio e fico com um sentimento de “nossa, eu queria ter escrito isso”, e finalizo este canal da imprensa com um trecho escrito pelo jornalista Diogo Rodriguez no texto intitulado “O futuro do jornalismo pode estar no passado”, que me passou esse sentimento de admiração e conclui esta análise. “O jornalismo não opera em um vácuo. Por isso mesmo vejo a necessidade de REconstrução dessa narrativa calcada no suposto fracasso e no anunciado fim do jornalismo”. 

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