O Mito da Caverna e Os Croods: filosofia para as crianças
- 7 de outubro de 2021
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Na animação, Grug é influenciado por sua filha Eep e pelo forasteiro, deixando de se prender às regras impostas por ele mesmo.
Mariana Santos
Animações constantemente reúnem crianças e adultos em torno de discussões relevantes. Naturalmente, pais levam seus filhos ao cinema para assistir os lançamentos, contudo, se faz uma confusão a respeito do público alvo dos desenhos animados. Diferentes mensagens podem ser direcionadas a diferentes públicos em um mesmo roteiro, no caso de Os Croods são apresentadas as dificuldades do relacionamento familiar ao mesmo tempo em que é retratado o Mito da Caverna de Platão.
O filme conta a história de uma família que sobreviveu tanto às doenças quanto aos animais responsáveis por acabar com os outros seres humanos. Para Grug, o pai da casa, a sobrevivência só foi possível graças a uma grande lista de regras pintadas nas paredes da caverna. Entre as principais proibições estavam sair da caverna e deixar de ter medo.
Em determinado momento um terremoto destrói a caverna e obriga os Croods a buscar um novo lar. Acompanhados por Guy, um forasteiro aventureiro, Grug, sua mulher, sua sogra e seus três filhos partem em busca de um lugar ainda desconhecido. A narrativa é simples e não possui muitas reviravoltas, porém, a história que inspirou a produção cinematográfica é complexa e alvo de muitas discussões e análises.
O Mito da Caverna, também conhecido como Alegoria da Caverna, é uma história imaginada por Platão. A alegoria representa o mundo real e o obscurantismo em que a humanidade está inserida graças à falta de reflexão e raciocínio.
Os dois personagens da história, Sócrates e um jovem chamado Glauco, são imaginativos e no meio do diálogo se cria um contexto hipotético. Sócrates pede que Glauco considere a existência de um grupo de pessoas que passa a vida inteira acorrentado dentro de uma caverna. Os prisioneiros estão virados para a parede e atrás deles há uma fogueira, por isso, quando outros indivíduos (não acorrentados) se movem pela caverna, os prisioneiros observam apenas a projeção de suas sombras.
Um dia, um dos prisioneiros se solta e entra em contato com a vida real, mesmo com receio daquilo que é novo, ele volta para a caverna a fim de espalhar a suas descobertas entre os demais. O grupo encarcerado não acredita nas palavras do homem liberto, uma vez que, para eles, as sombras na parede são tudo o que existe. Por fim, acabam por matá-lo para que ele não “contamine” outras pessoas com as supostas loucuras.
Assim como no filme, os prisioneiros consideram a estagnação como sinônimo de segurança. As regras e preconceitos, ilustradas pelas correntes, impedem que as pessoas observem a vida e o mundo em sua real complexidade.
A Alegoria da Caverna definitivamente não foi pensada para entreter crianças. A ideia de Platão era mostrar para as pessoas que o mundo sensível, aquele representado pelas sombras, não abrange tudo o que existe, mas que é necessário o uso da razão para compreender os mistérios do universo, ou seja, ter acesso ao mundo inteligível.
De uma forma mais leve, Os Croods apresenta ao público infantil a necessidade de abandono do comodismo. Ainda que o exterior fosse perigoso, a família do filme morreria caso não se aventurasse fora da caverna.
O assassinato do homem liberto foi a forma que Platão encontrou de representar a condenação de Sócrates. Historicamente se sabe que os poderes políticos da época viam em Sócrates uma ameaça, por isso, sob o pretexto de proteger os jovens das más influências, Sócrates foi condenado à morte.
Na animação, Grug é influenciado por sua filha Eep e pelo forasteiro, deixando de se prender às regras impostas por ele mesmo. Os Croods terminam o filme dispostos a descobrir coisas novas, entretanto, na vida real, os humanos costumam permanecer relutantes às mudanças, mesmo que as novidades proporcionem melhora na qualidade de vida.