O legado do país do futebol
- 10 de maio de 2023
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- Theillyson Lima
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Abrir os horizontes e perceber que o jornalismo esportivo brasileiro não é só flores e precisa de mudanças é o primeiro passo para lapidar uma obra com potencial.
Hellen de Freitas
Partidas, Copas do Mundo, campeonatos das mais variadas modalidades são transmitidos para todos por meio do jornalismo, seja ele televisivo, radiofônico ou em outro veículo no qual o objetivo principal é espalhar a notícia desse vasto meio.
Sempre senti uma magia ao ouvir e ver tudo o que acontecia nos esportes, me lembro inclusive de crescer aguardando ansiosamente as Olimpíadas, acompanhava desde o triatlo até o batido futebol, era o meu momento para maratonar e aprender um pouco mais sobre as variedades.
No período deste evento, todos os jornais fazem uma cobertura de maneira assídua de todas as modalidades sem pestanejar, algo que falta ao longo dos outros anos. Afinal, as Olimpíadas não acontecem diariamente. Ao pensar sobre o assunto, me pego culpando o peso de ser o país do futebol.
O mais engraçado é a controvérsia que se cria, pois, o futebol é sim o mais comentado, contudo, sinto que o lado jornalístico é perdido. A admiração e paixão pelos atletas, faz se esquecer da denúncia que deveria ser feita e das informações que precisavam ser divulgadas.
Ao analisar neste canal o jornalismo esportivo no país e os veículos que propagam o mesmo, algumas indagações sobre esse meio devem ser feitas e repensadas.
É esporte sempre?
O maior portal de notícias esportivo atual, vertente da Globo, nichado totalmente para esse meio é o Globo Esporte (GE). Por ser um dos pilares, é de se esperar vastas opções de notícias, matérias ou o que for, para abranger mais modalidades, entretanto, infelizmente as pessoas que gostariam de acompanhar mais o universo do basquete, fórmula 1 e futebol americano, por exemplo, talvez se sintam deixadas de lado pela falta de conteúdos.
Em um dos dias da minha pesquisa, percebi que a página inicial do portal dá uma atenção maior para o futebol. Dentre os 53 segmentos que ficam na primeira página, 47 eram sobre o esporte que mudou o curso do Brasil, apenas três notícias curtas e objetivas sobre basquete e quatro blocos exclusivos para a Fórmula 1.
O basquete, mais especificamente a NBA, por exemplo, está no período mais importante da temporada, conhecido como playoffs, que dá uma gama de conteúdos suficiente para ganhar mais destaque na primeira página do veículo. O que falta em outras modalidades? Sei que culturalmente o futebol é pertencente ao Brasil mas chegou nesse patamar justamente por incentivar o consumo. Com o poder da mídia atual, seria impossível fazer isso seguindo para outra vertente?
Esse é apenas um dos exemplos que evidencia o caminho que o jornalismo esportivo tem trilhado no país e me faz questionar se o slogan do GE ‘’é esporte sempre’’ realmente faz jus ao seus conteúdos, afinal, seria melhor demonstrar a honestidade e mudar para ‘’é futebol sempre’’.
Cuca e seu clube do Bolinha
Em meio às polêmicas, é normal esperar um posicionamento e principalmente a disseminação das notícias relevantes independente de quem esteja inserido na problemática. Entretanto, em algumas situações o fanatismo acaba ganhando do senso de denúncia que um portal de notícias ou jornalístico deveria ter.
Recentemente ocorreu uma comoção da torcida do Corinthians pela contratação do técnico Cuca, que inclusive já havia passado pelo time. A controvérsia aconteceu devido ao caso em que ele e outros três jogadores do Grêmio foram acusados de estuprar uma menina de apenas 13 anos em Berna, na Suíça, em 1987.
Algumas apurações apontam que sim, ele foi culpado e inclusive seu sêmen foi encontrado, outros enfatizam que se ele nunca foi preso não há uma verdadeira condenação, dividindo opiniões. Contudo, alguns portais sentem a necessidade de inocentar e bater o martelo como se fossem o juiz.
O setor esportivo da Band se mostrou claramente incomodado com a situação, colocando em uma matéria explicativa sobre o caso levemente a sua opinião. O veículo pontuou não uma, mas duas vezes que a vítima não havia identificado o técnico como um dos seus agressores, além disso, deixou em evidência com uma fonte com cor e tamanho diferente do resto para enfatizar a fala em que Cuca, nega a violência sexual e se inocenta.
Ao analisar esse texto em específico, fica claro qual o posicionamento da Band, que apesar de colocar a aversão da torcida do Corinthians ao receber a notícia, tenta demonstrar ao longo das suas palavras apenas um lado.
Roger Guedes, um dos principais jogadores do “Timão”, saiu em uma clara defesa do seu até então técnico. Ele rebateu a comentarista Ana Thaís que havia feito um comentário sobre o assunto e afirmou que ela estava atacando Cuca sem provas alguma , “[…] ela é uma das pessoas que atacou muito o Cuca. Ela tem provas para falar dele? Não tem provas para falar dele. Então, ela quer julgar o quê? Com certeza ela já errou um monte de vezes na vida também”, disse o atleta.
Apesar de chato, sinto que este tipo de situação tem um “quê” de cômico pois confunde os jornalistas com “brothers”, melhores amigos e acredita piamente que estão em um tipo de clube do cartola, no qual se aceita tudo por admiração. Não me leve a mal, isso realmente acontece e um clube do Bolinha é formado, por isso é importante sempre impor um limite conciso. Jornalista deve ser comunicador de fatos e não fã de carteirinha.
Estoure a bolha
No final, é necessário que críticas sejam feitas e aceitas de maneira eloquente. Em um país tão miscigenado, conhecido por ter o melhor do mundo, não pode apenas colocar em uma bolha e se cegar para a beleza de outros esportes que merecem a mesma oportunidade de crescer e se tornarem relevantes.
O discernimento de polêmicas também deve ocorrer e se deve evitar a verdade absoluta manifestada simplesmente pelo amor que o profissional possui pelo escudo ou jogador. Não devemos escolher o que queremos proferir, devemos perceber o tipo de referência que a população necessita e carece em sua esfera.