O jornalista da “quebrada”
- 14 de setembro de 2022
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Atualmente, o jornalismo tem se reinventado para levar a informação onde mais precisa, na periferia.
Laura Rezzuto
Só quem vive, realmente sabe. Bem como, apenas quem pisa no chão da periferia, entende que comunicação é uma prática significativa dentro dela. E, claro, isso vinculado à nossa voz e ao nosso trabalho jornalístico, acaba oferecendo várias portas dentro desse cenário ainda “comandado e invadido” pelo retrato do ser humano burguês. Porém, algumas boas, e outras, um tanto quanto ruins.
Esses lugares que se encontram apenas em torno dos centros de poder político e econômico, têm sofrido com o atraso de informação. Por isso, acabam ficando expostas ao preconceito de um jornalismo feito muito distante da realidade dos moradores das áreas periféricas.
Agora, como o comunicador de periferia pode desmanchar, dentro da estrutura já formada da mídia, as imagens convictas das classes “dominantes”? Que, normalmente, dificultam o trabalho do jornalista ético e envolvido com um único propósito, dar espaço à fala da comunidade. Como superar os preconceitos de classes populares no Brasil que tentam abafar o jornalismo? Como romper com a cultura imposta, às vezes até por grandes e importantes veículos de notícias? É isso que busco desenvolver ao longo desta análise.
Limitações do cotidiano
Ao analisar alguns projetos jornalísticos ligados à periferias, como o Desenrola e Não Me Enrola, percebi que gerar a informação necessária para a comunidade com acesso escasso à internet é uma das maiores realidades no dia a dia de comunicadores que buscam ser porta-vozes das favelas do Brasil, o que normalmente incentiva os profissionais a criarem soluções para ao menos amenizar as desigualdades que acabam dificultando o acesso à notícia e a evolução do raciocínio analítico da população periférica.
De acordo com a Agência Mural de Jornalismo nas Periferias, “ao mesmo tempo em que deve ser apontada a falta de infraestrutura e serviços públicos, também é preciso dar destaque para movimentos e outras iniciativas culturais, sociais, políticas e econômicas próprias que surgem das bordas da cidade”. Dessa forma, eles conseguem utilizar diferentes formas de noticiar dentro das comunidades que apoiam, através de vídeos, áudios, materiais impressos, ou outra iniciativa que faça parte da rotina das pessoas.
Atuação dentro da periferia
Agora pense em como deve ser reinventar o jornalismo dentro da periferia com pouco sinal de internet, que não tolera o que para nós seria um simples upload no YouTube, ou apenas transmitir em um live uma entrevista, que infelizmente não carrega na timeline por conta da instabilidade da internet móvel, utilizada, muitas vezes, pelos moradores das favelas.
Ronaldo Matos, jornalista periférico, diz que a atuação do comunicador na favela, é levar cada vez mais as notícias longe, mas sem perder a qualidade delas, se adaptando ao contexto dos moradores e da própria periferia, que muitas vezes, é repleta de desigualdade social, até mesmo quando a questão é estar por dentro das notícias e noticiar. Por isso, hoje se reinventam para levar a informação onde mais precisa, na favela.
O problema citado anteriormente, também retrata a desigualdade social que já comentamos por aqui, presente no dia a dia de milhões de moradores das favelas do Brasil. Esses contratempos tem feito parte do cotidiano dos jornalistas periféricos também, e através de projetos comunitários, eles buscam recriar o jornalismo dentro desse âmbito que atualmente fazem parte.