O crescimento da Igreja Católica e seus novos campos de batalha

Os fiéis da Igreja Católica contemplam cerca de 17% da população mundial. 

Késia Grigoletto 

Em um mundo que é sustentado por ideologias, extremismos, idealismos, e por um abismo espiritual que se ergue pelo consumo frenético e pelas redes sociais, o catolicismo busca renascer como um salvador de todos esses problemas e preenchedor do vazio humano. O crescimento da Igreja Católica, conhecida como a “mãe” de todas as igrejas, é notável. 

Para analisar o contexto de maneira mais precisa, há algumas perguntas que devem ser feitas: quem são os novos católicos? O que motiva o retorno dos filhos pródigos? Quais são as implicações possíveis para a sociedade? Qual o envolvimento desse fato com a política e a liberdade individual ?  

A nova localização do Vaticano é no continente africano 

Se o centro religioso mais notável do mundo é Roma, a alma e o coração da Igreja Católica ficam na África.  Pesquisas realizadas pela própria igreja entre 2022 e 2023, demonstram um crescimento significativo da religião no continente. Em um ano foram quase 9 milhões de adeptos em todo o continente, atualmente, o território representa 20% da população católica mundial. As igrejas são um mar de fiéis. O que antes era um território de jesuítas, brancos, colonizadores e perfeitamente engomados, se tornou uma guarida de fé repletas de liturgias, pastorais locais da juventude, que percebem na religião uma herança isenta de colonialismo, no entanto, um reduto de pertencimento, identidade e até ascensão social. 

No entanto, existe a necessidade de uma verdade longe de inocência, que revela uma instituição mutante que mesmo com uma estrutura engessada regada à hipocrisia, se amoldar aos costumes e culturas de um contexto sem se adaptar à realidade imposta pela vida local.  A Igreja Católica cresce por aproveitar o estado de vulnerabilidade daquele continente, que é causado muitas vezes por falta de acesso à tecnologias, saúde, educação e segurança.   

Fé apodrecida do antigo continente 

Ao passo de que a fé católica na África dispara, o declínio na Europa é visível e palpável. São cerca de 500 mil fiéis que deixam a fé católica anualmente no território. Atualmente a França possui mais ateus do que crentes, a Alemanha fecha igrejas com uma frequência semelhante à uma pessoa que troca de roupas. No fim das contas, a religião que mais cresce no continente é o Islamismo. 

Essa perda se deve ao relativismo moral, inúmeros escândalos sexuais que envolvem padres e pedofilia, avanço contínuo de ideias progressistas, além da deficiência em estabelecer um diálogo com a sociedade moderna. Isso se reflete enquanto os padres europeus ainda estão falando latim simbólico, enquanto os fiéis estão a discutir inteligência artificial, transição de gênero e o problema da crise climática.   

O catequizado 

Cerca de 13% de todos os católicos do mundo estão no Brasil. A concorrência com os evangélicos é no mínimo avassaladora, e se torna cada vez mais desleal concorrer com músicas impactantes, teologia da prosperidade, paredes pintadas de preto e luzes coloridas. Os pastores que “hablam” a língua do povo, também fazem promessas com retorno imediato, que geralmente não são feitas pelo Padre Paulo Ricardo ou pelo Padre Júlio Lancellotti: emprego, cura, milhões na conta jogando nas Bets, desde que o dízimo seja tirado, carro e uma bonita casa em condomínios. 

Para tentar a equiparação, a Santa Igreja tenta compensar promovendo missas-show, encontros de jovens, tornando padres influencers digitais e tentando canonizar homens como Olavo de Carvalho, o que chega a beirar o desespero. Nesse contexto existe uma igreja que varia entre algumas posturas omissas com pautas essenciais e um flerte exacerbado com o conservadorismo que ganha as multidões. E nisso tudo, só resta um evangelho como programa de governo. 

Ultimamente a espada pesa mais que a cruz 

O crescimento do catolicismo tem acontecido a que custo? 

Em diversos contextos, o catolicismo é uma alternativa diante do caos, por vezes, a censura e autoritarismo moral estão presentes nessa ordem salvadora. A verdade é que em muitos lugares essa igreja se diz dona da caridade. A religião que um dia protegeu os pobres, hoje, em alguns lugares, acumula milhões e milhões em recursos e sustenta elites morais que resistem ao avanço de direitos civis. 

A defesa da vida é uma ideia seletiva, porque não adianta nada ser contra o aborto, mas não se escandalizar coma a fome. Ou até mesmo apregoar a castidade para milhares de jovens e fechar os olhos para padres que vivem vidas duplas. 

O texto não possui a intenção de questionar a fé, que por sua vez, é estritamente pessoal. A crítica consiste em usar a fé como escudo político e aproveitador que com um sistema que se diz eterno é coberto por um verniz moral, que não aceita mudanças. 

A verdadeira mudança não pode partir de algo estético, mas de uma transformação de pensamento, até porque, no cenário atual, a igreja não passa de uma multinacional da fé com almas perdidas e vazias. De que adianta ganhar o mundo e perder tantas almas?

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